Cara leitora, caro leitor, mais da metade das brasileiras e brasileiros evitam o noticiário, foi o que apontou uma pesquisa da Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford.
O resultado, por si só, é frio, mas há muito a se considerar. Esses 54% que se esquivam das notícias consideram que temas como a política ou a pandemia são muito deprimentes, repetitivos ou difíceis de acompanhar.
Como consequência, menos da metade do Brasil “acredita no que lê”. A desconfiança tornou-se tamanha que se reflete numa espécie de analfabetismo político, do mundo em que vivemos.
Por outro lado, apesar de não estar retratado na pesquisa, acredito que muitos confiam religiosamente nas “notícias” dos grupos de WhatsApp de amigos e familiares e nos posts dos milhões de “coachs” espalhados por ai.
Se o acesso à informação não garante automaticamente o entendimento, o contato com informação desqualificada comporta um efeito pior. Quanto mais alienados somos, mais a desinformação prolifera e prospera. Instaura-se um ciclo vicioso que se estende a diversos âmbitos da vida.
“Posso ter minha opinião sobre qualquer assunto, sei que estou certo, não importa se o conhecimento ou as evidências mostrem e provem o contrário. Tudo o que está na mídia tenho como mentira, é tudo um plano de pessoas para nos dominar. Não acompanho as informações, mas penso estar cada vez mais informado”.
Na verdade, aquele que se comporta dessa maneira está cada vez mais perdido e longe da verdade. Nada poderá mais salvá-lo, pois agora há um abismo que o separa do conhecimento: a falta de reconhecer a sua ignorância.
Isso pode ser traduzido, em muitos casos, por preguiça intelectual: pessoas desanimadas e apáticas que dizem não gostar de política, de não acompanhar notícias, mas porque no fundo sabem que é um trabalho suado correr atrás dos fatos e estar ciente dos acontecimentos. É mais fácil simplesmente dizer “não acompanho isso”. E começam a surgir fenômenos de profundo desconhecimento e estupidez intelectual, como é o caso das teorias da conspiração.
Apesar de não ser tão recente assim, as pessoas encontram nessas teorias uma forma de se sentirem possuidoras de um conteúdo que somente uma pequena parcela da população teria acesso, uma exclusividade. Sentem-se inteligentes, mas não passam de ignorantes. Mas há aquela sensação de um “saber” que poucos compreendem ou de supostamente entender o que a maioria não consegue.
Muitos também pensam que só porque têm o direito de emitir opinião – e realmente têm – que o seu ponto de vista é qualificado. Não é verdade, existem opiniões que são estúpidas e absurdas.
Todos têm o direito de expressar sua ideia, mas isso não impede que seja uma convicção fora de qualquer traço da realidade. Não conseguem aprofundar o seu raciocínio, pois é raso, sem embasamento. É sempre “eu acho”. E por isso é inútil tentar argumentar contra aquilo em que acreditam: o conhecimento dos fatos nunca prevalecerá contra a opinião dessas pessoas.
Os maiores aprendizados que colhemos advêm quando os olhos estão alertas, os ouvidos atentos e a boca fechada.
Gustavo Gumiero é sociólogo e escritor – gustavogumiero.com.br