Hoje me peguei pensando sobre o quão importante é conversar honestamente sobre valor. Não o valor monetário, aquele que é pauta de todas as nossas conversas e, quase sempre, motivo das nossas preocupações mais urgentes. Não, eu quero conversar sobre aquele valor secreto, aquele que talvez a gente não goste muito de falar sobre: o valor que damos a nós mesmos.
Nos últimos tempos, tenho aprendido muito sobre o que me faz dar valor a quem eu sou. Descobri, depois de dois anos lidando com uma saúde mental mais fragilizada, que eu me dou mais valor em situações bastante específicas, por exemplo: eu me valorizo quando tiro as melhores notas da faculdade, quando acordo às 6h da manhã e dou check atrás de check nos meus afazeres, quando dou 110% de mim no trabalho, quando me sinto especialmente produtiva e útil e boa.
E isso me fez pensar: produtiva para quem? Útil em que? Boa em que sentido?
A verdade, dita no tom mais honesto que tenho em mim, é que eu atrelei tudo o que me faz feliz sobre mim ao quanto eu entrego para os outros. E, pouco a pouco, eu acho que acabei desumanizando o meu valor. A história que, inconscientemente, me contei todos os dias é de que: se eu deixo de ir em uma aula, sou a pior aluna da turma; se termino o expediente com alguma demanda pendente, então é claro que estou falhando na minha jornada de estágio; se eu durmo 8h ao invés de escrever a minha monografia, então é certeza que estou fazendo menos (que os outros) e que vou entregar uma pesquisa medíocre.
Mas… Desde quando eu me fiz acreditar que meu valor está no outro, no que eu faço pelo outro, ou no que ele pensa de mim? Desde quando deixei de pensar “eu tenho orgulho de mim porque eu descobri um novo hobby que gosto de praticar” ou “eu me valorizo o bastante para dizer não quando estou no meu limite” ou então “eu me respeito e respeito as minhas necessidades”?
Desde quando eu passei a acreditar que o meu dever máximo comigo mesma e com o mundo é ser mais e mais e mais produtiva? Será que eu sempre pensei assim? Que baita tristeza!
E sabe o que é mais bizarro? Eu me convenci, além de tudo isso, que estou em uma constante competição e que, por isso, todas as coisas na minha agenda são prioridades máximas. Terapia? É claro que eu vou, porque é uma forma de provar que sou mais responsável e bem-resolvida (do que as outras pessoas). Meta de leitura? Com certeza eu tenho, mesmo em ano de formatura, porque eu preciso mostrar (para os outros) o quanto eu gosto de ler. Academia às 7h da manhã? Sempre prometo que vou, independentemente de estar exausta, porque olha só como eu me preocupo em ser mais saudável (que os outros)?
E assim, dia após dia, eu me cobro cada vez mais, achando que todas as pessoas ao meu redor estão me cobrando o mesmo tanto. E, pra ser sincera, não é uma grande arrogância, essa coisa de achar que o mundo inteiro está prestando atenção em tudo o que eu faço? Que estão analisando cada falha e erro que cometo? Eu acho que sim. Mas, mesmo se não fosse, continuaria sendo uma das maiores violências que eu já cometi contra mim mesma. E eu entendi que não quero continuar me tratando tão mal assim.
Você deve ter percebido que esse texto é, de muitas formas, mais um desabafo que uma conversa. Então me deixe terminar assim, perguntando para você: Qual valor você está se dando hoje? Ele é justo? Ele é gentil? Ele é verdadeiramente seu, ou fruto do que acha que as outras pessoas estão projetando em você?
Já pensou no peso que vai sair dos seus ombros quando parar de atrelar o valor que você se atribui ao quão útil você é para os outros, ou ao quão melhor acredita ser?
Se não, faça isso hoje. E amanhã. E um pouquinho mais todos os outros dias. Afinal, é assim que a gente faz nossa vida um pouquinho mais leve e um pouquinho mais humana.
Rafaela Obrownick, 20 anos, é estudante de Relações Internacionais da Facamp