Os casos se multipicam a cada rodada do futebol. E seguem reforçando que ainda há muito por se fazer. No último final de semana, o atleta Edenílson, do Internacional, acusou o lateral do Corinthians, Rafael Ramos, de tê-lo xingado de “macaco”. O português nega e o caso está em investigação, inclusive com peritagem para leitura labial.
Nesta terça-feira, em rodada da Libertadores, no La Bombonera, em Buenos Aires, torcedores do Boca Juniors imitavam macacos nas arquibancadas, em insultos à torcida do Corinthians, na partida válida pela Libertadores. No primeiro turno, na Neo Química Arena, um torcedor do Boca foi identificado e preso por também imitar um macaco.
Neste contexto de intolerância no futebol, Campinas decidiu deixar a sua contribuição contra essa manifestação repugnante.
Nesta terça-feira (17), o prefeito Dário Saadi assinou a “Carta de Campinas contra o Racismo no Futebol” na Sala Azul do Paço Municipal, iniciativa de Edna Almeida Lourenço, ativista do Movimento Negro e fundadora da Associação dos Religiosos de Matriz Africana de Campinas e Região (Armac).
O ato marcou também o lançamento da campanha “Esporte sim. Racismo não”, da Prefeitura Municipal. O evento reuniu o vice-prefeito Wanderley Almeida, vereadores, secretários, líderes de movimentos sociais, dirigentes esportivos, ex-jogadores, jornalistas e radialistas ligados ao esporte.
Indignado com atos racistas em partidas de futebol, no esporte e na sociedade em geral, o prefeito Dário Saadi, ao assinar a Carta de Campinas contra o Racismo no Futebol, afirmou: “O racismo é algo horroroso. A participação de todos é a forma inteligente de contestar o que não concordamos. É importante o Poder Público enfrentar com firmeza esta situação”.
O prefeito disse que a inspiração para a campanha municipal “Esporte sim. Racismo não” nasceu da Carta, mas que esta iniciativa é a ampliação da ação, visando as outras modalidades esportivas, para mobilizar mais pessoas.
“No passado, fomos a última cidade a abolir a escravatura, agora devemos ser protagonistas no enfrentamento”, convocou o Dário Saadi.
Os intermináveis casos de injúria racial nos jogos de futebol instigaram Edna Almeida Lourenço, ativista do Movimento Negro e fundadora da Associação dos Religiosos de Matriz Africana de Campinas e Região (Armac), a idealizar um documento para sensibilizar a sociedade a respeito da gravidade do problema.
“A luta de combate ao racismo, originalmente nascida em Campinas, já chegou à Bahia, Manaus, Rio de Janeiro, Acre. Fomos ouvidos. Força na luta!”, exaltou Edna.
Campanha “Esporte Sim. Racismo não”
A Prefeitura de Campinas elaborou a campanha por intermédio da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer. O secretário Fernando Vanin detalhou, durante o evento, as primeiras medidas a serem colocadas em prática.
Faixas com o slogan da campanha, “Esporte Sim. Racismo não”, serão expostas em todas as praças esportivas que sediam eventos de qualquer modalidade, ligados à Prefeitura ou a parceiros. A partir desta terça-feira, também estarão nos jogos do Campeonato Municipal de Futebol de Base (PHS Cup), Campeonato de Futebol Amador, Jogos do Pulo Futsal, Taça EPTV de Futsal, competições do Vôlei Renata e do Basquete Vera Cruz.
A divulgação da campanha fará parte dos Congressos Técnicos do Futebol Amador na Série Ouro B e Série Ouro A. Parceria com a Coordenadoria Setorial de Promoção da Igualdade Racial (Cpir), da Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, promoverá palestras sobre o tema para todos os participantes dos congressos.
Professores e funcionários das praças esportivas municipais participarão de cursos sobre o racismo, para conscientizar a comunidade onde atuam diariamente.
Grande mobilização
A “Carta de Campinas contra o Racismo no Futebol” recebeu contribuições e tem centenas de assinaturas de pessoas e entidades como movimentos antirracistas, clubes de futebol, universidades, secretarias municipais, comissões de direitos humanos, sindicatos, vereadores, presidentes de partidos políticos e religiosos.
Durante a solenidade, também se pronunciaram o vice-prefeito Wanderley Almeida; o vereador Luís Carlos Rossini; o ex-jogador Ronaldão; o presidente do Bragantino, Marco Antônio Abi Chedid. Eles foram unânimes em condenar “esta doença chamada racismo”, que precisa ser combatida e eliminada com a conscientização de todos.
