A Unicamp está desenvolvendo um robô equipado com um sistema de visão 3D capaz de repor a mão de obra humana no plantio de mudas de flores dentro de uma estufa. O projeto, em parceria com a Bio Plugs e a ABB Robótica, começou a ser idealizado ainda em 2019 e a expectativa é que seja concluído até o final deste ano.
“A Bio Plugs nos procurou porque tinha e ainda tem o problema sério com mão de obra. No campo, hoje há uma dificuldade muito grande de conseguir mão de obra para esse tipo de serviço repetitivo de plantio dentro de uma estufa. As pessoas não querem mais fazer esse tipo de serviço, mesmo pagando bem preferem ficar em serviços urbanos ao invés de ficar no campo nesses serviços que são mais pesados e repetitivos. É um problema sério e real de toda a agricultura brasileira, seja a horticultura, a floricultura e também a hortícola”, conta Daniel Albiero, coordenador geral do projeto .
Essa mão de obra que antes era bastante abundante, explica o pesquisador, hoje é escassa. “A Bio Plugs nos procurou já com o objetivo de robotizar essa parte de plantio de mudas de flores, decidimos participar desse projeto e assim estamos até hoje nessa parceria”, relata Albiero.
Claudio Umezu, coordenador técnico do projeto, lembra que o primeiro contato com a empresa que financia o projeto, a Bio Plugs, ocorreu no finalzinho de 2019. “Eles conheceram o que fazemos na Unicamp, entraram em contato conosco e daí sairam algumas propostas de trabalho. Em 2020, infelizmente tivemos a pandemia e isso atrapalhou bastante o desenvolvimento para iniciar os trabalhos. Então apesar dos contatos em 2019, esse projeto começou efetivamente no início do ano passado. Fizemos algumas pesquisas embrionárias e aí começamos a trabalhar”, acrescenta Umezu.
O robô tem como principal característica ser colaborativo, já que ele pode trabalhar ao lado de pessoas que estão desempenhando outras funções, não coloca a vida do ser humano em risco e jamais vai machucar uma pessoa, explicam os pesquisadores da Unicamp. “É adequado para trabalhar próximo ao ser humano, mas não é um robô para trabalhar em campo aberto. Ele é feito para trabalhar especificamente nas estufas”, observam.
“A ideia do robô é repor a mão de obra humana. Muitas pessoas que estão trabalhando hoje nesse serviço repetitivo e muitas vezes chato, vão poder aprender a programar esse robô e fazer manutenção dele. É como se fizéssemos um upgrade do trabalho dessas pessoas e provavelmente ela vai ganhar até um salário maior”, ressalta Daniel.
“Existe um certo preconceito e medo que os robôs vão eliminar os postos de trabalho. Eu, como professor de robótica, digo que isso é uma inverdade. Existem alguns trabalhos em que o ser humano fazendo aquilo, muitas vezes, é cansativo. É um trabalho de repetir movimento e o robô vai trabalhar nessas atividades que são repetitivas e exaustivas. No caso desse robô, ele trabalha em um ambiente de estufa, espaço que não é tão adequado ao ambiente humano. É um ambiente quente e úmido. O objetivo é auxiliar o ser humano em atividades que não são tão próprias para nós”, completa Claudio.
Desenvolvido por uma equipe multidisciplinar de cerca de seis pessoas, entre alunos de mestrado e doutorado ligados a Unicamp e professores da universidade, o projeto exige também a participação de profissionais que não fazem parte da engenharia agrícola, já que existe a programação do robô e o processamento de imagens.
O projeto de pesquisa começou na busca por identificar soluções e o tipo de algoritmo que seria utilizado no desenvolvimento do robô. O objetivo era entender como a garra da mão do robô poderia funcionar para ele pegar as mudas e fazer o plantio das flores. Depois foi necessário identificar qual o melhor robô para esse tipo trabalho, até que foi feita uma prova de conceito mostrando como o robô funciona.
Agora, a equipe multidisciplinar trabalha com o objetivo de melhorar a ferramenta de execução de imagens e a ferramenta da garra para não correr o risco de ter prejuízos desperdiçando mudas no momento do plantio.
“Nós já temos o protótipo aceitável, mas não é o ideal. Temos um protótipo funcionando, esse foi um grande desafio e agora temos que otimizar essa máquina para ela conseguir fazer a produção de uma pessoa. A Bio Plugs pediu para nós que esse robô substitua uma pessoa. Então ele precisa conseguir fazer o plantio do mesmo número de mudas que uma pessoa planta por dia. Hoje o robô já planta, mas bem mais devagar que uma pessoa”, detalha Daniel.
“Nosso objetivo é que até o final do ano ele consiga chegar ao nível que realmente seja capaz de substituir uma pessoa. Uma pessoa tem turno de trabalho de oito horas e esse robô pode trabalhar 24 horas sem parar. Na verdade, ele terá a produção de uma pessoa, mas vai trabalhar em três turnos, produzindo muito mais do que ela”, explica.
Pesquisa e Desenvolvimento de projeto
Os pesquisadores da universidade ressaltam que seu papel é desenvolver toda a parte de pesquisa e de solução do projeto, mas jamais atuar na comercialização do robô. A Bio Plugs, patrocinadora e parceira no projeto, será a responsável por verificar as melhores soluções comerciais para que a máquina robô possa ser comprado por quem tiver interesse. A expectativa, reforçam, é que os custos não sejam altos e agricultores de médio porte tenham condições de adquirir a máquina.
“A ideia do patrocinador é levar esse robô ao mercado e colocar para vender. O projeto não iniciou com o objetivo de vender, a ideia inicial era suprir o problema que a Bio Plugs tem hoje de mão de obra. No entanto, a empresa começou a entender, até pela repercussão, que esse problema não é só dela, é geral. Eu imagino que a ideia é realmente ter o produto para mudas de flores, outras mudas também e quem sabe até trabalhar com sementes. É um mercado muito grande, muita coisa ainda precisa ser desenvolvida e infelizmente é um mercado ainda carente de tecnologia. Apesar de estarmos em Campinas, perto de Holambra, ainda temos uma carência muito grande de tecnologia. O pessoal que trabalha nesse tipo de serviço não pode parar em um feriado prolongado, aí que também entra o robô para auxiliar nesse trabalho que nunca pode ter interrupção”, destaca Daniel.
Unicamp de portas abertas
Em meio ao processo de desenvolvimento do projeto do robô, a Unicamp ressalta que está de portas abertas para receber empresas de diferentes setores e construir novos projetos de tecnologia, trazendo soluções na resolução de problemas.
Esse tipo de trabalho também é fundamental para gerar oportunidades a alunos que estão se formando ou trabalhando em pesquisas na universidade.
“É muito importante essa aproximação das empresas com a universidade e da universidade com as empresas. É uma via de mão dupla. Eu me formei na universidade e fui trabalhar em indústrias. Depois voltei, fiz mestrado, fui para a indústria novamente, voltei e fiz doutorado. Eu tenho um perfil parecido com a Unicamp, já que a universidade tem esse viés empresarial de pegar um problema de uma empresa e resolver. E a empresa, por outro lado, também acreditar, confiar e investir na Unicamp para resolvermos esse problema”, salienta Daniel.
O coordenador geral do projeto explica que a Bio Plugs está custeando com recursos próprios o desenvolvimento do robô. “Isso garante bolsas para alunos de graduação e pós-graduação, paga professores e a universidade, tudo com o objetivo de desenvolvermos o robô e esse robô depois vai gerar royaltes. Cada robô vendido, a universidade vai ganhar dinheiro, o que possibilita a universidade investir em bibliotecas, computadores e também cursos assistenciais para estudantes vulneráveis. É uma via de mão dupla muito bonita e muito legal e aproxima a universidade das necessidades do agronegócio”, finaliza.