A derrota da Ponte Preta por 1 a 0 para o Vasco da Gama, na noite da última quarta-feira (27), no estádio de São Januário, no Rio de Janeiro, pelo encerramento da 4ª rodada da Série B, ficou marcada por dois incidentes extracampo, mas um deles repercutiu bastante após o técnico pontepretano Hélio dos Anjos acusar torcedores vascaínos de ofensas racistas durante o jogo.
O primeiro episódio extracampo da partida aconteceu aos 27 minutos do primeiro tempo, pouco antes do gol anotado pelo atacante Raniel, que garantiu a vitória do Vasco. Conforme relatado na súmula pelo árbitro paranaense Rodolpho Toski Marques, uma lata de cerveja foi arremessada na direção do gramado por um torcedor que se encontrava atrás do banco de reserva da equipe cruzmaltina, mas nenhuma pessoa foi atingida. O indivíduo foi rapidamente identificado e retirado da arquibancada pela polícia. Um boletim de ocorrência foi registrado.
Já no segundo tempo, a poucos minutos do apito final, o técnico pontepretano Hélio dos Anjos acusou torcedores vascaínos de ofensas racistas, alegando que estavam imitando som de macaco atrás do banco de reservas de sua equipe. O jogo chegou a ficar paralisado por alguns minutos, mas a situação foi contornada. O acontecimento foi relatado na súmula, mas o documento informa que os sons não foram ouvidos pela equipe de arbitragem e nem pelo delegado da partida.
De acordo com torcedores vascaínos, os sons proferidos na arquibancada eram costumeiras imitações de latido de cachorro, exaltando o volante Yuri Lara, conhecido pelo apelido de pitbull.
A acusação de racismo de Hélio dos Anjos gerou revolta de torcedores vascaínos nas redes sociais, inclusive de famosos como o ator e humorista Bruno Mazzeo, que até lembrou uma fala homofóbica do treinador pontepretano, referente a 2009, quando ele comandava o Goiás.
Na tarde desta quinta-feira (28), o Vasco da Gama emitiu uma nota em seu site oficial repudiando as acusações de Hélio dos Anjos e destacando a histórica luta do clube contra o racismo no futebol brasileiro – assim como a Ponte Preta, que é considerada a primeira democracia racial do esporte no país.
Confira abaixo a íntegra da nota divulgada pelo Vasco:
Fomos surpreendidos na noite da última quarta-feira (27/04), em São Januário, com uma absurda acusação de racismo direcionada a torcida do Vasco vinda de alguns profissionais da A. A. Ponte Preta. Algo sem fundamento algum e que se baseou equivocadamente num canto criado pela torcida do Vasco utilizado para homenagear o volante Yuri Lara, algo já feito, por exemplo, por outras torcidas e em outras praças esportivas.
Ao se fazer uma acusação de racismo, crime gravíssimo, além de se ter certeza do que está sendo dito, é imprescindível se conhecer o histórico dessa luta no país. E não há como falar do combate ao racismo no futebol brasileiro sem que o Vasco da Gama seja o principal protagonista.
Nossa luta não começou agora, mas sim em 7 de abril de 1924, quando escrevemos a “Resposta Histórica”, o maior símbolo da luta contra o racismo no futebol brasileiro. O Vasco da Gama se orgulha de ser um pioneiro nesta luta e um ativo defensor de seus ideais, que não esmoreceram com o passar dos anos.
E o estádio de São Januário sintetiza a maior da luta do Vasco da Gama contra a chaga do racismo. Foi construído pelos vascaínos como resposta às elites da época que resistiam a inclusão de pretos, operários e imigrantes pobres no futebol.
Portanto, como não poderia ser diferente, condenamos a atitude e lamentamos que uma pauta tão séria seja utilizada da forma que foi.
São Januário é a casa do legítimo clube do povo e fazemos questão de que continue sendo assim.