O vinho paulista vive o seu melhor momento. Expansão consistente da área plantada, crescimento extraordinário da produção de vinhos, consolidação de uma ampla rede de estruturas enoturísticas, qualificação da mão de obra, geração robusta de renda para toda a cadeia vitícola e reconhecimento nacional e internacional atestado por premiações de renomados concursos. Este é o atual cenário da viticultura no estado de São Paulo.
É neste contexto que o estado vem se destacando nos últimos anos. Vinhos de excelência para os paladares mais exigentes. O ciclo de crescimento se dá por meio da formalização de dezenas de projetos de enoturismo. Uma prova de que as terras paulistas são férteis para a produção de diversas variedades de uvas, devido ao clima favorável e a visão empreendedora de seus gestores.
Além da produção de elegantes e diversificados rótulos, vários deles medalhados, as vinícolas têm cada vez mais oferecido opções de lazer, entretenimento e gastronomia de altíssima qualidade, tornando-se verdadeiros complexos turísticos. Algumas, inclusive, se transformaram nos principais atrativos dos municípios onde estão instaladas.
É neste sentido que um novo e ambicioso projeto está sendo criado.
Trata-se da Wines of São Paulo, uma união de empreendimentos do setor para trabalhar, justamente, no fomento de vinhos produzidos no estado, especialmente os produzidos por meio da técnica da dupla poda, que resulta na produção dos chamados Vinhos de Inverno.
A Wines of São Paulo é uma espécie de clube cujo objetivo primordial é promover os vinhos produzidos no estado para o mercado interno e externo. Outro foco da Wines of São Paulo é a comercialização de vinhos premium em restaurantes e hotéis de luxo, para um público qualificado.
A ideia é tornar os vinhos paulistas um objeto de desejo entre seu público cada vez mais exigente e trabalhar para que os rótulos paulistas sejam cada vez mais conhecidos e apreciados.
De acordo com dados da Associação Nacional dos Produtores de Vinho de Inverno (Anprovin), o estado de SP responde por quase 25% da produção nacional do segmento da dupla poda. O cultivar mais plantado e que melhor se adaptou é a uva Syrah. Mas há outras variedades de grande resposta produtiva. Não se faz vinho bom de uva ruim, é a máxima de quem conhece do ofício.
União de vinícolas
Um dos líderes desse projeto é o empresário Luiz Biagi, um dos mais influentes e admirados do agronegócio brasileiro. Biagi é o proprietário da Fazenda Cravinhos, a 20km de Ribeirão Preto, uma região historicamente quente e que poderia ser considerada inadequada para a produção de uvas e vinhos. O projeto teve início no final de 2019, após o empresário visitar outras vinícolas no Interior de São Paulo e se convencer de que aquela região era propícia para a produção de uvas viníferas.
O que explica essa situação favorável, a mesma de outras regiões paulistas que hoje produzem vinhos de Inverno, é a junção das virtudes mais propícias para a tecnologia da dupla poda. A altitude de Cravinhos, acima de 800 metros e a grande amplitude térmica, com dias mais quentes e noites mais frias, chegando até 20 graus em alguns períodos. “Minha inspiração para esta iniciativa veio dos amigos Paulo Brito, da Vinícola Guaspari, e Beto Lorenzato, da Vinícola Marquese Di Ivrea, ao visitar suas vinícolas, já consolidadas, no Interior de São Paulo”, explica Luiz.
O empresário reforça que a Wine of São Paulo surgiu, portanto, da percepção de que era preciso unir as vinícolas do estado de São Paulo que produzem e comercializam vinhos de alta qualidade.
“Essas empresas também atuam no ramo do enoturismo, ou turismo enogastronômico, e possuem interesses comuns”, acrescenta.
Segundo Biagi, “o ponto central dessa união foi a constatação da grande qualidade desses vinhos, por meio de premiações que as vinícolas vêm recebendo em importantes concursos nacionais e internacionais, e da necessidade de unir as iniciativas para difundir essa qualidade aos consumidores brasileiros, que ainda pouco conhecem a respeito”.
Ele pontua ainda que a Wine of São Paulo tem como intenção fortalecer uma cadeia de enoturismo que vem rapidamente se desenvolvendo e pode possibilitar aos brasileiros, especialmente aos paulistas, viver experiências incríveis ligadas ao mundo dos vinhos, em vinícolas extraordinárias, localizadas em suas próprias regiões ou muito próximas a elas.
Importância
Outro ponto que a Wines of São Paulo destaca, conforme observam seus gestores, é a desmistificação de que não existem bons vinhos nacionais. A maioria dos consumidores não compra garrafas brasileiras porque desconhecerem sua qualidade.
Hoje, a técnica da dupla poda permite um salto gigante na qualidade dos vinhos. Dentre outras, o clube entende que a grande importância da Wines Of São Paulo é levar ao consumidor brasileiro essa conscientização, sobre a excelência dos vinhos e a grande cadeia do enoturismo que está se formando.
Esta cadeia, inclusive, é grande geradora de empregos, com boa remuneração e qualificação, capaz de criar experiências de turismo muito marcantes e memoráveis, sem que as pessoas precisem viajar tão longe para isso, como faziam até bem recentemente.
Outro ponto forte é que esses excelentes vinhos podem movimentar fortemente a economia, fomentando a indústria, comércio, turismo e serviços, gerando empregos qualificados, recolhendo impostos, fortalecendo a cadeia hoteleira, a gastronomia, a logística de transportes de pessoas e produtos, criando ainda ótimas opções de lazer.
As sedes das vinícolas que compõem o seleto grupo Wines of São Paulo são identificadas com um selo holográfico. A identificação é a garantida de que os apreciadores terão um vinho de qualidade e procedência.
Quem faz parte
Entre as vinícolas que compõem a Wines of São Paulo estão a Casa Verrone (Itobi), Vinícola Biagi (Cravinhos), Villa Santa Maria (São Bento do Sapucaí), Marchese di Ivrea (Ituverava), Arcano (Franca), Terras Altas (Bonfim), Guaspari (Espírito Santo do Pinhal) e Davo (Ribeirão Branco).
Conheça as vinícolas
Vinícola Marchese di Ivrea (Ituverava)
É uma vinícola que proporciona uma verdadeira imersão a seus visitantes, que se sentem como se estivessem na Toscana. O ouro, café, algodão e cana-de-açúcar agora cedem seu terroir para a produção de vinhos finos, mantendo a tradição milenar na produção de vinhos do norte da Itália para o norte do Estado de São Paulo, quebrando paradigmas; desde o cultivo primoroso das uvas até a finalização em vinhos finos.
Os visitantes podem realizar um tour pelos vinhedos, fazer degustação harmonizada com espumantes, vinhos e grappa, além de saborear almoço típico italiano. Os passeios têm início com a visitação guiada até os vinhedos, fábrica e destilaria.
Vinícola Arcano (Franca)
Para chegar ao nível de qualidade atual, após várias pesquisas sobre as áreas de plantio, a Vinícola Arcano realiza as colheitas por etapas, respeitando itens importantes como brix do fruto (percentual de açúcar natural), Ph, acidez e observação do vinhedo e frutos quanto a maturação plena desejada.
A Arcano adota os protocolos de vinificação com pouca intervenção, trazendo vinhos com características do terroir e alta qualidade. O enoturismo na propriedade é uma experiência incrível com a integração entre natureza, vinhedos, vinhos e gastronomia regional.
Vinícola Villa Santa Maria (São Bento do Sapucaí)
A propriedade da Villa Santa Maria, que fica pertinho de Campos do Jordão, dispõe de aproximadamente 70 mil pés de uva, dos quais 40 mil produzindo, nas variedades Chardonnay, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Syrah, Merlot e Viognier. Destas, apenas a Chardonnay é safra de verão. As demais são colheita de inverno.
A Villa produz os rótulos Brandina, uma homenagem à matriarca da família, a Vó Brandina, já falecida. O portfólio da vinícola soma 16 títulos entre as suas principais conquistas. As últimas são as duas medalhas do concurso 2023 da Decanter, o mais prestigiado e influente do mundo. A Villa coleciona ainda premiações do Concurso Mundial de Bruxelas (duas vezes); da própria Decanter Word Wine Awards; da Avaliação Nacional de Vinhos; e da Wines of Brazil Awards, em anos sucessivos.
Vinícola Casa Verrone (Itobi)
Já a Casa Verrone tem um diferencial nos Vinhos de Inverno devido à grande amplitude térmica. A vinícola possui excelentes produtos, sendo uma das pioneiras da dupla poda e sempre troca experiências sobre esta técnica com enófilos.
O restaurante da Casa Verrone fica aberto de quarta a domingo, mas recomenda-se o agendamento. Um atrativo é a visita guiada onde o visitante pode conhecer a história da casa e depois conhecer no campo a técnica de produção. A visita na fábrica com degustação nos tanques e depois uma visita na sala de barrica com degustação são um grande atrativo. Somado a isso, mais uma degustação de quatro rótulos da Casa. Depois dessa experiência, os visitantes podem vivenciar um almoço harmonizado com os vinhos.
Vinícola Biagi (Cravinhos)
A Vinícola Biagi vem trabalhando, em princípio, com dois rótulos de vinho, o tinto seco Pietro (homenagem ao avô Pedro), e o branco seco, o Eugênia (homenagem a avó Eugênia) cuja produção, comandada pela enóloga Isabela Peregrino, está sendo terceirizada para a Vitacea, localizada em Caldas (MG), até que a fábrica da Fazenda Cravinhos, que está em início de construção, seja concluída.
O primeiro lote comercial, com cerca de 1.600 garrafas do vinho Pietro, foi lançado em março de 2023, e o vinho Eugênia foi lançado em novembro de 2023 e, por enquanto, o produto será vendido somente na vinícola. Outro rótulo que já foi produzido de forma experimental é o Carina Biagi (homenagem à esposa de Luiz Biagi), um branco seco feito à base de Moscato Giallo. Na safra do próximo ano, esse rótulo também já será produzido para comercialização. Em breve serão lançados também um Rosê e dois tintos com 12 meses de barrica de carvalho, um americano e um francês.
Vinícola Davo (Ribeirão Branco)
O Hotel e Vinícola Família Davo é a realização de um sonho que perdurou por gerações. José Afonso Davo iniciou sua jornada no mercado de transportes, mas o amor pela terra e seus frutos sempre estiveram presentes. A família se uniu no resgate de um sonho antigo: o plantio de videiras e ter seu próprio vinho. Juntos, seguiram os passos de seu patriarca, na busca pela excelência na produção de vinhos e espumantes.
Vinícola Guaspari (Espírito Santo do Pinhal)
Há mais de 20 anos, uma família chega a uma região tradicionalmente cafeeira e descobre um terroir único. Era o começo de um projeto pioneiro na Serra da Mantiqueira, nas terras altas de Espírito Santo do Pinhal, que se transformaria no sonho da Vinícola Guaspari.
Hoje, a propriedade cultiva a história em 12 vinhedos, a uma altitude entre 800 e 1.300 metros, com uma trajetória que busca refletir a identidade do terroir por meio do cuidado artesanal, respeito e amor ao solo.
Vinícola Terras Altas (Bonfim)
Nas altitudes do distrito de Bonfim Paulista, em Ribeirão Preto, está localizada a Vinícola Terras Altas. O amor pela terra e a união de conhecimento, tradição e tecnologia movem os proprietários, que apaixonados pelo ofício, sabem que a arte de transformar uma boa uva em um excelente vinho começa no campo.