A médica e missionária Zilda Arns deve dar nome ao complexo viário localizado na região dos Amarais, na altura do km 143 da Rodovia Dom Pedro (SP-065), em Campinas. O Projeto de Lei 320/2021, de autoria do deputado estadual Rafa Zimbaldi (PL), foi protocolado no último dia 24 de maio e segue em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Para entrar em vigor, precisa ser aprovado em votação e ser sancionado pelo governador. A iniciativa partiu dos moradores da região e do padre Luiz Roberto Teixeira Di Lascio, importante líder religioso do local e admirador da homenageada, que procurou o deputado e solicitou a denominação.
Em Campinas, o maior núcleo da Pastoral da Criança existente foi implantado na região dos Amarais, uma área populosa do município, de alto índice de vulnerabilidade social e onde está instalado o importante complexo viário em que se pretende denominar à homenageada.
O padre Di Lascio, que hoje é vigário paroquial da Basílica Nossa Senhora do Carmo, trabalhou em toda aquela região e em 2001 implantou a Pastoral da Criança naquela região. “Sempre fui admirador dela, principalmente pela defesa da vida da criança. Quando vi que estavam cogitando nomes para aquela obra eu sugeri o nome dela, fiz a fundamentação. A ideia foi minha. Estou muito contente por terem acatado a sugestão”, comemora.
“Eu me propus a apresentar o pedido porque a Dra. Zilda Arns era uma mulher realmente muito maravilhosa. Eu tive a oportunidade de conhecê-la e, para mim, é uma profeta do tempo. Ainda nesse momento em que nós estamos vivendo, buscando pessoas que têm essa representatividade, esse caráter, essa personalidade. É uma homenagem que Campinas oferece a essa mulher que fez um trabalho incrível”, diz padre Di Lascio.
“O legado da Zilda tem reconhecimento mundial, mas com certeza os moradores da região dos Amarais têm um carinho maior, foi lá que a Pastoral da Criança e todo o trabalho desenvolvido por ela tiveram grande destaque e geram bons frutos até hoje. Essa singela homenagem materializa todo a dedicação à caridade que ela teve com Campinas”, afirma Rafa Zimbaldi.
Quem foi Zilda Arns?
Zilda Arns Neumann foi médica pediatra e sanitarista. Em 1983 criou a Pastoral da Criança, programa de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 2006. Ela nasceu em Forquilhinha, Santa Catarina, em 25 de agosto de 1934. Seus pais eram descendentes de alemães. Era irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo. Mesmo contra a vontade do pai, em 1953 ingressou no curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná e se especializou em Pediatria, Saúde Pública e Sanitarismo. Se casou aos 21 anos com o marceneiro Aloysio Neumann e teve seis filhos. Ficou viúva em 1978.
Pastoral
Por sugestão do irmão, Dom Paulo, em 1983 Zilda e Dom Geraldo Majella, arcebispo de Salvador, formularam um plano para diminuir a mortalidade infantil com o uso do soro caseiro. Nascia ali a Pastoral da Criança.
O trabalho começou na cidade de Florestópolis, que tinha uma alta taxa de mortalidade infantil (127 crianças em cada mil nascidas). Depois de um ano de trabalho o índice de mortalidade infantil caiu para 28 crianças em cada mil. O resultado foi obtido com a prevenção da diarreia com orientação dos cuidados com a higiene e preparo do soro caseiro. A desidratação pode levar à morte devido à perda de água e sais minerais. Quando cuidadas adequadamente, a maior parte das crianças com diarreia evolui sem desidratação e, dentre aquelas que desidratam, 95% podem ser reidratadas por via oral. O soro caseiro foi considerado o maior avanço na medicina do século 20 devido a simplicidade de sua fórmula, com baixo custo e a quantidade de vidas salvas: 1 litro de água limpa; 3,5g de sal (uma colher de chá rasa); e 40g de açúcar (duas colheres de sopa cheias).
Zilda Arns se manteve à frente da Pastoral por 25 anos. Seu trabalho chegou a todas as partes do Brasil, além de vinte países na América Latina, Ásia e África. O que lhe rendeu indicação ao Nobel da Paz em 2006.
MORTE
Em janeiro de 2010, Zilda Arns foi para Porto Príncipe, no Haiti, onde fez uma palestra sobre seu trabalho na Pastoral, para um grupo de religiosos haitianos no dia 12. Quando o evento terminou, ela continuou no prédio paroquial da Igreja Sacré Coeur conversando com os religiosos. Naquele momento a cidade foi destroçada por um terremoto. O prédio de três andares desabou por completo. Zilda foi atingida na cabeça e morreu na hora, junto com outros religiosos que ali estavam. O corpo da missionária foi transportado para Curitiba, onde desfilou em carro aberto, sendo aplaudido por uma multidão.
“Zilda é memória viva de que a vida sempre vem em primeiro lugar. Enquanto muitos trabalham pela cultura da morte, pela desvalorização da vida e ideologia da violência, ela trabalhou pela construção da vida, dar a vida para que outros tenham vida. A verdadeira religião é aquela que faz a defesa da vida”, padre Di Lascio.
Major Olimpio
O deputado Rafa Zimbaldi, também no final do mês de maio, protocolou o PL 321/2021, que denomina Senador Major Olimpio o trevo viário localizado na altura do km 133 da mesma rodovia, conhecido como trevo do Carrefour.
“A proposta é apenas um pequeno gesto para que o senador seja sempre lembrado por todos e expressa nossa gratidão por tudo que o parlamentar fez por Campinas e região. Major Olímpio sempre atendeu nossos pedidos de envio de recursos parlamentares, principalmente para área da saúde, no combate ao Covid-19, que fatalmente causou as complicações que levaram a sua morte”, lamenta o deputado.
De acordo com a assessoria, a pedido de Rafa, só em 2020, Major Olímpio destinou mais de R$4,3 milhões de reais para saúde, beneficiando entidades importantes como por exemplo, Maternidade de Campinas, Santa Casa, Sobrapar, Boldrini, Hospital da PUC, Unicamp entre outras. O senador teve morte cerebral em 18 de março de 2021, após complicações causadas pela Covid-19.