Muitos podem não saber, mas entre os vários símbolos de Campinas há um que faz referência a este 22 de abril. E de nome curioso. Na área central, entre o elevado da Avenida Francisco Glicério, o início da Rua Barão de Jaguara e a Rua Proença está a Praça Brasil Outros 500! A inauguração foi em abril do ano 2000, quando o país completou 500 anos do seu descobrimento e vários eventos se espalharam por diversas cidades para a celebração da data.
Em Campinas, a praça representa o simbolismo de um projeto que pretendia refletir sobre o Brasil por meio de outro olhar.
“Sim, eram 500 anos, mas havia muito o que se fazer. Por isso a ideia de ‘Outros 500’”, explica Maico Diego Machado, atual diretor do Colégio Franciscano Ave Maria, escola idealizadora da praça, que fica situada em frente ao prédio da instituição de ensino. “O objetivo era relembrar também as marcas e chagas daquele Brasil. Nem tudo era alegria, assim como hoje”, completa.
Na época, um texto da professora Josianne Cerasoli, do Ave Maria, intitulado “Brasil: outros 500, outros olhares” embasou o projeto. Um trecho do texto diz: “O olhar crítico e a ação transformadora que cobramos de nós mesmos e de nossos cidadãos-alunos nos impedem de ignorar toda exploração, todas as diferenças, todas as injustiças, todas desigualdades ocultas sob o nome de Brasil e esquecidas na solenidade oficial”. A íntegra do texto está inserida na lei de autoria do então vereador Carlos Francisco Signorelli que institui a criação da praça no dia 9 de março de 2000. A inauguração aconteceu em 26 de abril daquele ano.
“Era um espaço público que estava largado”, diz Machado. A ideia de transformação da área representou também um simbolismo do ato, afirma o diretor. “Foi um marco físico no sentido de lembrar que o Brasil estava celebrando, mas ainda havia no país muitas fragilidades que precisavam de reparações.”
O evento de inauguração contou com a presença de um representante do povo indígena e apresentações culturais, como dança de capoeira. O plantio de espécies do bioma mata atlântica, incluindo o Pau Brasil, por alunos do Ave Maria também fez parte da programação e foi o primeiro passo para a transformação da área. Uma missa ainda foi celebrada na Catedral Metropolitana no mesmo dia.
Machado conta que, ao longo dos anos, a praça recebeu não só manutenção por parte dos alunos, mas também várias atividades da escola ligadas ao meio ambiente e à organização social. “Na área, os estudantes tiveram a oportunidade de debater questões sobre a funcionalidade dos espaços públicos, além de reconhecer espécies arbóreas e de pássaros”, conta.
Ele observa que as árvores plantadas se desenvolveram e o aspecto do espaço hoje é bem diferente daquele visto antes da inauguração da praça. No entanto, não esconde que nos últimos anos a escola se afastou do lugar. “Houve o período pandêmico e, além disso, a área se tornou um ambiente hostil para crianças”, justifica, ressaltando a ocupação frequente dos espaços públicos por pessoas em situação de rua. “Mas estamos cobrando providências do poder público, pois é nossa intenção voltar a frequentar o lugar. Essa praça faz parte do contexto e história da nossa escola”, afirma o diretor.