Andrea Cristina Giacomelli confessa que trabalha com medo. Agredida por uma paciente no Centro de Saúde Acylino de Souza Santos, no Jardim São José, em Campinas, a auxiliar de enfermagem ainda tenta se recuperar do trauma. O caso aconteceu no último dia 15 de março e provocou reação do Conselho Local de Saúde (CLS), que organiza um ato em frente à unidade nesta quarta-feira (5), a partir das 7h.
Segundo o CLS, a mobilização visa chamar a atenção das autoridades municipais para as condições precárias de atendimento no Centro de Saúde que tem gerado conflito entre usuários e trabalhadores.
A situação chegou ao extremo há 19 dias, quando a agente de saúde Andrea Cristina viveu uma situação inédita em sua trajetória de 19 anos dentro da unidade, ao ser agredida violentamente por uma paciente na sala de acolhimento. “Ela entrou na minha frente. Era grande e forte. E começou a me dar socos”, relata.
“Coloquei meu braço na frente para evitar apanhar no rosto. E ela batia forte no braço esquerdo. Quando consegui empurra-la, levei um tapa de mão aberta entre o pescoço e o rosto que fez um barulho alto. Aí, muita gente ouviu e veio ao encontro. Saí apavorada gritando por socorro. Quando falaram que a polícia estava a caminho, ela foi embora”, relembra a profissional.
Andrea Cristina conta que registrou Boletim de Ocorrência no 2º Distrito Policial de Campinas e se submeteu a exame de corpo de delito no IML. Com hematomas no braço e fortes dores, ficou cinco dias afastada do trabalho. Hoje, traumatizada, aguarda por acompanhamento psicológico prometido pela coordenação do Centro de Saúde. “Se escuto alguém falar um pouco mais alto, meu coração fica acelerado, e fico muito nervosa, com medo”, diz.
Segundo Andrea, a agressora tem entre 26 e 28 anos. “Idade para ser minha filha”, comenta a auxiliar de enfermagem, que tem 51. Para a profissional, que mora em Hortolândia, as pessoas estão mais intolerantes após a pandemia. “A impaciência se soma ao aumento expressivo de usuários do SUS. Aí, a situação vira uma bomba relógio.”
O Centro de Saúde do Jardim São José apresenta vários problemas relatados por usuários. “Falta médico e outros profissionais”, diz Lúcio Rodrigues, coordenador do CLS. “Consulta com pediatra, só tem para junho. Psiquiatra não tem na unidade.”
A esposa de Lúcio, Maria Socorro, conta que a única ginecologista do local está de licença maternidade e ela teve de esperar dois anos para conseguir atendimento com um especialista. A consulta foi no Centro de Saúde do Jardim Esmeraldina, bem distante do Jardim São José, onde ela mora. “Fica difícil porque a gente não sabe para que lado correr”, protesta.
O Hora Campinas apurou ainda que na unidade do Jardim São José agentes de saúde também são obrigados a realizar serviços fora de suas áreas de atuação.
Por três horas, enfermeiros também são recepcionistas já que o horário de expediente do atendente encerra às 16h e a unidade fica aberta até as 19h.
O portal também apurou que um psiquiatra está em processo de contratação para atender no São José e em outras três unidades.