Foram seis meses de bastante angústia e sofrimento, mas o torcedor da Ponte Preta finalmente pôde colocar a cabeça no travesseiro e dormir aliviado após a vitória por 1 a 0 sobre o Confiança, em Aracaju, no último sábado (20), que colocou fim à árdua e arrastada luta da Macaca contra o temido rebaixamento à Série C. O resultado da partida, por outro lado, decretou a queda da equipe sergipana com uma rodada de antecedência, após duas temporadas na Série B.
Com 46 pontos, na 14ª colocação, a Ponte Preta não corre mais nenhum risco de cair para a Série C, pois aparece pelo menos quatro pontos à frente de Vitória (18º), Londrina (17º) e Remo (16º), portanto não pode mais ser alcançada por nenhuma das três equipes, faltando apenas uma rodada. Na pior das hipóteses, a Macaca terminará a Série B na 15ª posição, já que a única equipe que ainda tem chances de ultrapassá-la é o Operário, que aparece um ponto atrás na tabela, com 45.
Após o apito final, na saída de campo, o goleiro Ivan quebrou o pacto de silêncio estabelecido pelos jogadores, em protesto contra pendências financeiras do clube, e desabafou diante das câmeras da reportagem local da emissora detentora dos direitos de transmissão da Série B.
“Primeiro gostaria de pedir desculpa ao grupo, já que tínhamos feito um pacto de não falar, pois são 16 jogadores com salários atrasados. A gente poderia estar comemorando algo diferente da permanência, pois esse clube tem camisa e tradição de brigar por acesso, mas houve muita desorganização. Infelizmente, eu estou de passagem, não sei se vou jogar aqui até o fim da minha carreira, assim como todos os meus companheiros, mas torcida e clube ficam, então fica o recado. Foi um ano difícil, com muita guerra, principalmente do lado de fora. Só tenho que dar parabéns aos jogadores, que em nenhum momento deixaram de treinar e se esforçar”, afirmou o jovem goleiro e capitão Ivan, de 24 anos, ao SporTV.
“Como eu disse, este poderia ser um dia que estivéssemos comemorando o acesso, mas infelizmente foi apenas permanência. Que sirva de lição e reflexão para as pessoas que vão estar no comando do clube. A gente fez a nossa parte e se entregou, mas agora o pessoal de fora precisa se unir para fazer uma Ponte Preta ainda mais forte. Como capitão, e por amor a essa camisa, eu me sinto muito triste pela guerra fora de campo. A Ponte é grande e não merece brigar contra o rebaixamento”, acrescentou Ivan, em mensagem endereçada à nova diretoria do clube, que será formada pela chapa “MRP – Movimento Renascer Pontepretano”, vencedora da eleição do último sábado (20).
Em entrevista coletiva concedida logo após a vitória sobre o Confiança, nas dependências internas do Estádio Lourival Baptistão, o Batistão, palco da partida, o técnico pontepretano Gilson Kleina também aproveitou a ocasião para descarregar emoções.
“Quando acabou o jogo, sinceramente, eu desmoronei e agradeci a Deus. Vocês não têm noção do alívio e do peso que sai das nossas costas. Todos nós que estamos trabalhando na Ponte Preta estavam com muita pressão”, disse o treinador Gilson Kleina.
“É um sentimento de alívio porque era uma responsabilidade muito grande. Uma coisa que eu falei para os atletas é que o trabalho é árduo, mas devolve e recompensa. É importante voltar para Campinas alegre e com os três pontos para podermos fazer um jogo mais tranquilo contra o Coritiba. É terminar o campeonato de uma forma mais respeitosa e depois fazer uma reflexão para ter união nesse clube. A gente sabe que essa camisa é forte e representativa no cenário nacional e internacional”, destacou Kleina.
“Eu não vou negar que houve momentos em que eu ia para casa e não tinha uma resposta ou uma palavra para chegar no outro dia e mobilizar o grupo. Muitas vezes eu ia dormir e ficava me perguntando se entregaria a Ponte Preta na Série C. Isso não condizia com os meus trabalhos e com a ligação que tenho com a Ponte e sua torcida”, refletiu Gilson Kleina.
“Por mais que nós tivéssemos dificuldades, não poderíamos passar por essa situação. A reflexão tem que ser para todos. Vamos ter que crescer, pois a Série B está ficando mais difícil a cada ano que passa. Está virando uma Série A disfarçada. Eu tenho certeza de que aqueles que forem comandar a Ponte Preta já têm esse entendimento, então é tentar minimizar os erros para próxima temporada”, pediu o comandante da Macaca, que ainda tem o futuro incerto à frente da equipe para a próxima temporada, quando a equipe terá um novo presidente ainda a ser definido.