As duas últimas semanas da campanha eleitoral em Campinas serão marcadas pelo fogo cruzado. O cenário incendiário tem pelo menos dois fatos que acenderam o pavio curto da eleição: as pesquisas eleitorais que dão liderança ao prefeito e candidato à reeleição Dário Saadi (Repub), com possibilidade de vitória no primeiro turno, em 6 de outubro, e a decisão da Justiça Eleitoral, em primeira instância, que cassou a candidatura de Dário sob acusação de abuso de poder político.
Uma amostra deste esgarçamento no humor e nas narrativas dos prefeituráveis e seus aliados ocorreu na semana passada.
Como mostrou o Hora Campinas, a Justiça Eleitoral de Campinas acatou, em primeira instância, ação de inelegibilidade movida pela Coligação Mudança de Verdade, de apoio ao prefeiturável Pedro Tourinho (PT), e cassou a candidatura do prefeito e candidato à reeleição, Dário Saadi (Repub). Cabe recurso à decisão.
A ação entendeu que Dário teria desrespeitado a lei eleitoral ao fazer campanha e gravar dentro de prédios públicos para o horário eleitoral gratuito e para as redes sociais.
A decisão é do juiz eleitoral Paulo César Batista dos Santos, que também determinou o veto a eventual diplomação e declarou a inelegibilidade do prefeito e camdidato pelos próximos oito anos. A assessoria jurídica de Dário crê em reversão da sentença na segunda instância. A decisão, por enquanto, não tem efeito na campanha, que pode seguir normalmente, já que há possibilidade de recurso e contestação.
Reação de Dário
Imediatamente, a campanha de Dário Saadi reagiu e contra-atacou o PT, acusando a legenda de querer “melar o jogo”. Dário foi às redes sociais e lembrou que seu partido adversário também foi a Justiça para impugnar a sua candidatura em 2020. “Mas não deu certo”, lembrou.
“Mais uma vez o PT quer ganhar o jogo no tapetão! Quer me tirar do jogo”, afirmou Dário em vídeo.
Pedro Tourinho, por sua vez, subiu o tom no horário eleitoral gratuito, apontando a mira para Dário e aliados. O programa da coligação que apoia Tourinho tem batido na tecla de suposto uso da máquina pública por Dário. Também tem mostrado o prefeito como um político que aumenta o seu próprio salário e que não cuida da saúde. “A saúde vai multo mal”, afirma Tourinho, que é médico, assim como Dário.
Nas redes sociais e no horário eleitoral, a artilharia está pesada. Os ataques a Dário produzem, na mesma proporção, uma estratégia de correligionários e assessores que vão para a internet desqualificar o PT, contestar a decisão judicial e reforçar o apoio ao prefeito.
Em publicações da imprensa nas mídias sociais, é comum que assessores de Dário se engajem nos comentários, reforçando a narrativa anti-PT.
“Você já viu esse filme. O Dário dispara nas pesquisas e a oposição tenta melar o jogo. O PT entrou na Justiça para tirar o careca da disputa por causa de três posts nas redes sociais. Mas Campinas não vai deixar”, diz vídeo que circula nos canais de Dário e que estão sendo respostados de forma estratégica por seus apoiadores.
Rafa entra na briga
O candidato Rafa Zimbaldi (Cidadania) foi o rival direto de Dário Saadi na disputa em 2020. Com ele, protagonizou embates ríspidos em debates na TV. Foi ao segundo turno, mas perdeu.
Agora, o deputado estadual está com dificuldades de estabelecer uma polarização com Dário. As pesquisas mostram um empate técnico entre ele e Pedro Tourinho no segundo lugar.
Mesmo assim, Rafa tem disparado contra Dário não só utilizando a decisão judicial como peça de ataque, mas também contestado o desejo do prefeito e as sinalizações positivas do governo de São Paulo de ceder o Palácio da Justiça – antigo prédio do Fórum, no Centro de Campinas, localizado diante do Largo do Rosário – para abrigar a Câmara Municipal de Campinas.
Enquanto Dário diz que Rafa é desinformado e ignora que o Palácio da Justiça não poderia ser cedido para abrigar o “Poupatempo da Saúde”, bandeira de campanha do prefeiturável do Cidadania, por ser um prédio tombado, Rafa contesta e diz que esse argumento é mentiroso.
Mentiras
É neste tom mais bélico que a campanha de Pedro Tourinho transcorreu na última semana. A palavra “mente” tem aparecido com regularidade nas postagens petistas nas redes sociais.
O PT tem batido na tecla que Dário abusa de seu poder político e da máquina nas suas mãos para gravar vídeos e fazer a sua campanha. E prega que entrou na Justiça para garantir isonomia e lisura no processo.
O que vem por aí
Os próximos dias serão decisivos na campanha para prefeito em Campinas. Aguarda-se, por exemplo, com extrema curiosidade, se a decisão do juiz Paulo César Batista dos Santos terá impacto nos números das pesquisas.
Rafa Zimbaldi (Cidadania) aparece com 16% e Pedro Tourinho (PT) soma 13% – os dois estão empatados dentro da margem de erro dos três pontos percentuais. Angelina Dias (PCO), com 2%, e Wilson Matos (Novo), com 1%, também seguem empatados tecnicamente na margem de erro.
Matos e Angelina, aliás, estão fora deste ringue.
Matos tenta ganhar mínima musculatura e ser mais conhecido aproveitando-se das estratégias de seus apoiadores, principalmente, do único vereador do NOVO na Câmara, Paulo Gaspar, que tenta a reeleição.
Angelina faz campanha discreta e com poucos recursos. Ela também teve sua candidatura impugnada e tenta reverter essa decisão.
O eleitor aguarda as cenas dos próximos capítulos.
