No quarto Domingo da Quaresma do Ano Litúrgico C, Evangelho de Lucas, a Igreja celebrou o Domingo da Alegria. Com efeito, Jesus acolhe os pecadores e publicanos que dele se aproximam para escutá-lo. Publicano era o coletor de impostos no Império Romano. A arrecadação era arrendada pelo governo aos mais altos licitadores, que por sua vez confiavam a cobrança, na província, a agentes nativos, cujo privilégio tinha sido pago de modo adiantado. Às vezes faziam extorsões criminosas, por isso eram odiados como saqueadores do povo.
Dentre os judeus, eram também considerados traidores de sua religião, por cooperarem com os gentios e exigiam tributo de um povo que Deus fizera livre, Jo 8,33; Mt.22,17. Cristo condenou a injustiça dos publicanos. Entretanto, não rejeitou os que estavam arrependidos sinceramente. Ademais, dois publicanos são destacados nos Evangelhos: Zaqueu, que o recebeu alegremente em sua casa, Lc 19,2-10 e Mateus 10,3 apóstolo e evangelista para quem Nosso Senhor trouxe o perdão de seus pecados.
Os fariseus e os mestres da Lei discordaram das atitudes do Messias, que frequentava as residências de pessoas opulentas, comia e bebia com elas. Raramente Jesus debatia com os seus interlocutores, sobretudo com aqueles que pretendiam que caísse em ciladas. Em seu ministério público, na doutrinação dos discípulos e das multidões, usou o gênero de parábolas, que são simples, tiradas do ocorrido no cotidiano; em suma, eram um modo de ensinamento eficaz, que velavam a doutrina para os que ainda não estavam preparados para recebê-la.
Nesse sentido, Jesus narrou-lhes a parábola do filho pródigo, também conhecida como a do pai misericordioso, que consta do Evangelho de São Lucas, 15,11-32: “Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai que lhe desse sua parte da herança. O pai o atendeu. Poucos dias depois juntou o que lhe coube e partiu para lugar distante. Lá esbanjou tudo por vida desenfreada.” […] Então caiu em si e disse: Vou voltar para o meu pai e falar-lhe: “Pai, pequei contra Deus e contra ti e não mereço ser chamado de seu filho.” Decidiu retornar ao pai. […] Ainda estava longe, mas o pai o avistou e foi tomado de compaixão. Foi ao seu encontro, abraçou-o e o cobriu de beijos, […] e começou uma grande festa.
O filho mais velho retornou da rotina do campo. Escutou música e dança. Foi informado por um criado de que o seu irmão voltou e o seu pai matou o novilho gordo porque seu filho voltou são e salvo. Porém, raivoso não queria entrar. O pai bondoso, insistiu com ele, “mas o filho mais velho respondeu que trabalhava há tantos anos com o pai, nunca descumpriu uma ordem, Contudo, nunca teve sequer um cabrito à disposição para festejar com os amigos. Para o outro que esbanjou teus bens com prostituas, matas o melhor novilho.” O pai amoroso lhe disse: ‘Filho, estás sempre comigo, tudo o que é meu é teu. Porém, é preciso festejar e alegrar-nos, porque teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado’.
A figura desse pai é Deus, que não possui limites em seu amor, uma vez que deseja nossa alegria e salvação. O Salvador nos mostra que Deus Pai é um juiz que não se restringe a conservar e aplicar uma lei apenas. Prefere utilizar a lei de sua misericórdia e de seu amor, que nos faz viver plenamente.
O desejo de Deus é a conversão do pecador. A alegria faz parte de seu coração, que quase coloca em risco o que está salvo para ir ao encontro do que está perdido. Não o acusa. É a consciência do filho que o leva a perceber a sua imprudência, ao abandonar a casa paterna, optar por outros amores que o levaram à perdição.
O amor de Deus o protege, inocenta-o e o conduz para uma vida nova. Como doutrina São Paulo: “Deus nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação”, 2Cor,5,18. Portanto, somos missionários e reconciliadores como o Redentor.
Wilson Cesca é advogado, agente de pastoral na Paróquia Santa Rita de Cássia e membro da Academia Campineira de Letras e Artes, em Campinas