Luzes, câmera, ação! Em cena, o Brasil. A peça, dividida em três atos, apresenta um roteiro exclusivo. O objetivo é projetar o maior país do Hemisfério Sul como um astro global ao longo da temporada de dois anos. Em 2024, o Estado brasileiro preside o G20, grupo que reúne as maiores economias do planeta. Num ambiente recheado de estrelas, como Estados Unidos e União Europeia, a União Africana garantiu a participação especial. Na prática, o elenco concentra 85% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, mais de 75% do comércio internacional e cerca de dois terços da população de 8 bilhões de pessoas.
As demais temporadas estão programadas para 2025, quando o Estado brasileiro irá sediar os Jogos do Brics. Na ocasião, o destaque serão as apresentações do elenco composto por Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Irã e Emirados Árabes Unidos. No script consta que eles detêm mais de 42% da população mundial, 23% do PIB global, 18% do comércio internacional e 42% das reservas globais de petróleo e gás. Além disso, o Brasil ainda organizará a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), em Belém do Pará.
Mas, nos bastidores, a discussão vai além. No decorrer destes dois anos, o país atua ao lado de duas potências, Estados Unidos e China, envolvidas na mais intensa disputa geopolítica pela supremacia mundial desde o fim da Guerra Fria. De um lado está o G20, vital para os interesses do Ocidente. Em contrapartida, o Brics busca se sobrepor a referida aliança. Não se pode negar que o cenário está organizado e propício para a programação engendrada pelo Brasil. No entanto, o país está conseguindo aproveitar a oportunidade, a fim de obter o protagonismo que tanto almeja?
No G20, além da discussão sobre os temas tradicionais, o Brasil viabilizou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a Mobilização Global contra a Mudança do Clima. Mais ainda, tais temas integraram o discurso do presidente Lula na abertura da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), realizado nesta terça-feira (24), em Nova Iorque. Entretanto, o índice de queimadas tem “queimado” a liderança do Brasil nas tratativas relacionadas ao meio ambiente, questão crucial frente ao desmatamento que tem se tornado um entrave internacional para país.
Por outro lado, o país terminou 2023 como a 9ª maior economia do mundo. Segundo estimativa do FMI (Fundo Monetário Internacional), em 2024, o Brasil alcançará a 8ª posição, ultrapassando a Itália e o Canadá. Mas podemos e devemos progredir mais. Recentemente, ao ministrar no IRI (Instituto de Relações Internacionais) da USP (Universidade de São Paulo), o embaixador Rubens Barbosa mencionou que, ainda na década de 90, participou de uma reunião com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e representantes do governo chinês. Ele explicou que, na época, o PIB de ambos eram semelhantes. Quase três décadas depois, a economia chinesa cresceu oito vezes em relação ao Brasil. Atualmente, o país asiático é o maior parceiro comercial do sul-americano.
O Brasil, há tempos, hesita na formulação e implementação de um projeto de Estado que possa promover crescimento contínuo e duradouro no decorrer das próximas décadas. É crucial que, mesmo liderando cúpulas internacionais, o país estabeleça metas de desenvolvimento a longo prazo, a fim de que os anseios políticos, econômicos, ambientais, sociais, geopolíticos e diplomáticos sejam potencializados. Não podemos nos restringir apenas ao planos governamentais. O Brasil é um excelente anfitrião, mas mais que isso, merece ser protagonista no palco das relações internacionais.
Jambres Marcos de Souza Alves é jornalista formado na PUC-Campinas, pós-graduado em Geopolítica e Relações Internacionais pela Universidade Paulista/São Paulo e membro da ASBRAGEO (Associação Brasileira de Geopolítica).