Quem se atrever a um banho no Rio das Velhas terá boas chances de um ataque fulminante de septicemia. Pois bem, convido-vos, não para um, mas para banhar-se duas vezes no dito rio.
É sério. E será durante a caminhada deste ano, com a qual comemoro meus 85 aninhos. Está programada para o dia 3 de dezembro, um domingo. Curiosamente, começa em uma cachoeira e termina em outra, em ambas, apetecendo um banho.
O Rio das Velhas nasce pertíssimo de Ouro Preto, a 1100 metros de altitude, nas montanhas que estão ao lado oposto do Itacolomi. É uma região de campos rupestres. As frondosas matas estão logo abaixo. Faz pouco, o local foi transformado em Parque Municipal.
Correndo placidamente sobre um lajedo, subitamente, sua água desaparece, mergulhando em uma gruta. Dentro dela, há uma cachoeira (das Andorinhas) apetecendo um banho, quase no escuro. A água é pura e límpida, havendo brotado da terra pouco acima, em região desabitada.
Da sede do parque, encetamos nossa caminhada por uma trilha que vai descendo, terminando no povoadinho de Catarina Mendes. Lá, um tal Eugênio tem um simpático bar. É onde comeremos. Enquanto se esperam os retardatários, no seu quintal, há uma outra cachoeira, bem larga e com praias convidativas. Outro banho, por que não? Ao longo do seu leito, o rio não terá passado por qualquer povoamento. Portanto, banho seguro. De quebra, dá a chance de contar vantagem: banhei-me duas vezes no rio das Velhas e não morri!
Para aqueles cujas pernas titubeiam, informo-os que é quase tudo morro abaixo. Apenas uma ligeira subida para dois mirantes. Depois, descida até Catarina Mendes, por trilha despovoada. Ainda não tenho uma estimativa certa do tempo na trilha. Mas sei que é de poucas horas.
Estou tomando as providências quanto ao transporte e o rega-bofes no Eugênio. O ponto nevrálgico são as confirmações ou desconfirmações, pois implicam no aluguel das vans. É assunto sempre trepidante para quem vos fala (ao confirmar, peço anotar o número da carteira de identidade, exigência da burocracia).
As estatísticas de chuvas nesse período são pouco animadoras. Há boas chances de chegar encharcado a Catarina Mendes. Portanto, levem abrigos de chuva e roupas para trocar (que podem ficar na van). Água é opcional. Lanchinho também.
A sede do parque, onde nos deixarão as vans, tem banheiros civilizados. Mas o barzinho desperta pouco entusiasmo. Possivelmente, voltaremos por São Bartolomeu, um dos mais encantadores vilarejos nas redondezas de Ouro Preto. Nos últimos anos, vem atraindo gente de bom gosto que compra e reforma as casas antigas.
Não falta graça e elegância à igreja matriz, devidamente tombada. Circulava a notícia de que tinha um mural de Athayde. Não consegui verificar. Mas o sino de madeira existe. Substituiu um de bronze, roubado. Mas como o novo não veio, ficou para sempre o de madeira, incapaz de qualquer som. Infelizmente, a igreja está em reforma.
Como consolo, é terra de doces famosos, sobressaindo-se a goiabada cascão (cuja invenção é reivindicada pelos moradores). Se houver interessados, damos uma paradinha na Vovó Pia, cujos doces comemos e gostamos.
Vale lembrar que pernoitar em Ouro Preto pode ser uma ideia oportuna, seja antes ou depois do passeio. De resto, a charmosa e elegante pousada Relicário está a menos de um quilômetro do ponto de partida da caminhada.
Caminhantes, caminhemos…
Claudio Moura Castro é pesquisador em Educação e doutor em Economia pela Universidade Vanderbilt (EUA)