Tenho acompanhado com interesse especial a questão da contratação de um novo maestro para a Sinfônica Municipal de Campinas. E o faço lembrando-me dos tempos em que essa orquestra era a mais importante do País culturalmente e também a mais popular. Isso ocorria não só pela qualidade de seus músicos e boa sonoridade do conjunto, mas sobretudo pela política cultural implantada por seu responsável de então, o maestro Benito Juarez.
A OSMC não era simplesmente uma associação de bons músicos e sim um vetor de animação cultural absolutamente incomum em nosso País. Nenhuma orquestra tocou e gravou tanta música brasileira. E não só obras tradicionais, mas também composições especialmente encomendadas de autores vivos. Em cada concerto a orquestra apresentava uma ideia culturalmente provocadora, o que explica o grande público que sempre assistiu aos seus concertos.
Durante muitos anos ela se apresentou no Brasil e no Exterior, sempre para plateias lotadas.
Não tocava apenas nos grandes teatros, mas também tinha a coragem de se apresentar em favelas, em circos, em regiões mais humildes da cidade e talvez por isso, foi ela a orquestra convidada para se apresentar no inesquecível comício das Diretas Já no Vale do Anhangabaú em São Paulo, certamente o maior público que uma orquestra sinfônica brasileira já teve em toda a história.
Hoje muitos campineiros desejam que o novo maestro da nossa orquestra seja, de fato, um nome à altura dessa invejável história. Esse é um debate sadio e que só trará benefícios para a cultura da cidade de Campinas, que nunca é demais lembrar é a terra natal de Carlos Gomes.
Muitas lideranças culturais da cidade estão cogitando o nome do maestro Júlio Medaglia para assumir essa tarefa. Não posso oferecer um nome melhor.
O maestro Júlio Medaglia ocupa um lugar privilegiado entre os principais nomes da cultura brasileira nos últimos 50 anos. Sempre esteve à frente das iniciativas mais modernas e ousadas, tanto na música erudita quanto na música popular. Formado na Alemanha, desde que voltou ao Brasil sempre ocupou um papel de liderança num sem-número de atividades culturais. Foi um dos responsáveis, juntamente com Curt Lange, pela recuperação da música barroca brasileira, esquecida em arquivos empoeirados por quase 200 anos.
Foi pioneiro na introdução da música clássica na TV brasileira ao criar o programa “Opus 7”, na Record, um grande sucesso de audiência. Foi um dos líderes do movimento Tropicalista e é dele o arranjo original de Tropicália, de Caetano Veloso. Na Globo, foi responsável por trilhas sonoras memoráveis e premiadas como a da série Grande Sertão: Veredas. Na Cultura é líder de audiência na rádio e mantém o mais tradicional programa de música clássica da TV, o “Prelúdio”.
Regeu no mundo inteiro, criou a orquestra Amazonas Filarmônica, que chegou a ser uma das mais importantes do Brasil. Nunca parou e permanece na linha de frente dos debates culturais no Brasil. É respeitados pelos maiores nomes da nossa música popular e erudita, que sempre atendem aos seus convites.
Que mais Campinas pode desejar?
Sérgio Matheus Garcez é presidente da Academia Paulista de Direito Civil