Com os ares de normalização trazidos pelo período atual de arrefecimento da pandemia, sentimos que alguns hábitos vieram para ficar, como o trabalho remoto, cada vez mais consolidado nas empresas. Outros hábitos, que já se estabeleciam no pré-pandemia, ficaram ainda mais solidificados com novos comportamentos estimulados durante o isolamento social. Talvez o principal deles seja a adoção do e-commerce pelos consumidores.
Em 2021, o e-commerce brasileiro bateu o faturamento recorde de mais de R$ 161 bilhões, um crescimento de 26,9% em relação a 2020. O número de pedidos aumentou 16,9%, com 353 milhões de entregas, assim como o valor médio por compra também registrou aumento de 8,6% em relação a 2020, atingindo a média de R$ 455. Os dados são de um levantamento feito pela Neotrust, empresa que realiza o monitoramento do e-commerce brasileiro.
Esse crescimento do hábito das compras on-line toca em um ponto importante da conjuntura socioeconômica brasileira: o acesso ao crédito. O advento do Pix tem sido um fator de grande estímulo também para compras online à vista, mas quando falamos de produtos de maior valor agregado, o parcelamento ainda é a opção mais viável de compra para a maioria dos brasileiros. No entanto, segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva, menos de 10% dos entrevistados utilizam o cartão de crédito como meio de pagamento preferencial para compras.
Essa lacuna de acesso ao crédito, que não consegue ser oferecido à maior parte da população pelos bancos tradicionais por diversos motivos, acaba expondo uma assimetria no mercado de consumo. Como formas de incluir essas pessoas no acesso às compras on-line, entram em cena novos meios de pagamento alternativos que permitem o parcelamento de forma semelhante ao crediário, muito conhecido pelos brasileiros que já tinham idade para fazerem compras nas décadas de 80 e 90.
Um deles é a modalidade do boleto parcelado, que tem ajudado muitos brasileiros a realizar a compra dos produtos desejados e democratiza o acesso ao crédito para a população de menor renda. O pagamento por boleto parcelado permite que todos os perfis de clientes obtenham uma linha de financiamento mais acessível para diversas faixas de valores, com prazos maiores e juros menores em comparação a juros cobrados pelos cartões de crédito, por exemplo, ainda mais em período de Selic alta como o que estamos vivenciando.
Engana-se quem pensa que o crescimento do “compre agora, pague depois” é uma exclusividade do Brasil. Pesquisas estimam que, em até dois anos, a modalidade corresponda a 5% do total das transações financeiras.
Em momentos de menor oferta de crédito por meio de instituições financeiras, o boleto parcelado se torna uma ferramenta viável para estimular o consumo a curto e médio prazo. A modalidade permite que os consumidores adquiram vários tipos de mercadorias, em sua maioria com maior valor agregado, como eletroeletrônicos, eletrodomésticos ou viagens.
É evidente que já existe uma grande demanda por novos meios de pagamento que possibilitem a aquisição de bens e que, consequentemente, estimulam a economia. O boleto parcelado atua justamente aí, pois leva ao comércio pessoas que não tinham como estar ali antes, ocasionando em um incremento considerável. O varejo está atento a isso e tem buscado se adaptar para atender essa demanda de consumidores a procura de crédito mais acessível.
Gustavo Câmara é CEO da VirtusPay, fintech especializada em crediário digital