O modelo de educação tradicional, que inclui a ideia de uma sala de aula fechada num layout de auditório, onde o professor replica conteúdo para uma “plateia” sentada, além de arcaico, não deixa espaço para a utilização da tecnologia na transferência de conhecimentos.
O professor moderno está passando por um verdadeiro processo de evolução para entender como as funcionalidades de tanta tecnologia podem se encaixar neste modelo educacional. Mais do que mudar a realidade, a educação precisa absorver toda e qualquer forma de contato entre o aprendiz e o saber, sendo o papel do educador de suma relevância para que essa conexão seja feita de forma eficiente.
Estudos indicam que a utilização excessiva do smartphone é prejudicial, uma vez que afeta questões de saúde física e mental. As questões de saúde física já são estudadas há mais tempo. Já para a questão da saúde mental, é sabido o quanto é necessário diminuir essa utilização para que não haja prejuízos ao processo de consciência de mundo dos jovens e esse é um dos grandes desafios da atualidade.
Em pesquisa feita em 2023 pela Data.AI, foi identificado que os brasileiros passaram, em média, mais de cinco horas utilizando o smartphone para estudos, trabalho ou em busca de conteúdo, entretenimento e conexão com pessoas. Esse resultado equivale a um crescimento de quase 5% em relação a 2022. Pode parecer pouco, mas, se considerarmos que cinco horas representam quase 25% de um dia completo, enxergamos que isso equivale a quase 1/3 do tempo em que os indivíduos estão em atividade durante o dia.
Já de acordo com uma pesquisa Datafolha recente, 62% da população apoia a proibição do uso de celulares por crianças e adolescentes nas escolas, seja esse uso em sala de aula ou durante os intervalos. Dos entrevistados, 76% afirmaram que o celular traz mais prejuízos do que aprendizado a crianças e adolescentes. No entanto, 43% dos pais de crianças de até 12 anos dizem que seus filhos já têm aparelho celular próprio.
Pontos relevantes para que possamos entender que o smartphone pode ou não ser um aliado no processo de educação e também para motivar o debate sobre a influência na saúde mental de crianças, adolescentes, jovens e adultos.
Diante deste cenário, não tem como ignorarmos a realidade de que o crescimento arrebatador da utilização das redes sociais no dia a dia por adultos, jovens e crianças não deu à ciência o tempo necessário para que ela entendesse os efeitos benéficos ou danosos desse tipo de ferramenta.
Hoje, menos de 20 anos após a popularização do smartphone, vemos exemplos negativos do seu uso e dependência. A nomofobia, que é o medo de ficar sem o celular, é uma patologia nova, ainda a ser acrescentada no rol de doenças reconhecidas pelo sistema de saúde, e vem ganhando espaço no mesmo ritmo em que as pessoas vão tendo acesso ao celular ao redor do mundo.
Não se pode negar que esses dados implicam numa grande dificuldade que o educador enfrenta diariamente tendo como competidor, dentro da própria sala de aula, o smartphone e suas redes sociais. Uma mudança de comportamento dos educadores dentro do processo educacional deve ser seriamente considerada por meio de conscientização, treinamento e preparação. Afinal, ele precisa lidar com o mundo cada vez mais conectado e com pessoas cada dia mais dependentes da utilização do smartphone no seu cotidiano. Não é uma tarefa fácil, uma vez que o modelo educacional tradicional é centenário e foram poucas as mudanças significativas que tivemos com o passar dos anos.
Talvez a ciência deva se render e encontrar o significado para o ditado popular “se não pode vencê-lo, junte-se a ele”. No caso dos educadores, talvez precisem ajustar as formas para transferência de conteúdo utilizando ferramentas tecnológicas como um importante aliado. E, talvez, em uma realidade quase utópica, seja criada uma nova forma de se enxergar e utilizar o smartphone do jeito correto para a busca de conhecimento.
O momento agora exige um debate amplo e profundo para que os educadores estejam preparados para lidar com esses desafios e obstáculos, sempre se atualizando com as novas formas de se conectar com os jovens, adolescentes e crianças. É importante lembrar que o extremismo de abandonar a utilização de tablets e smartphones não significa a solução.
Talvez o melhor seja revermos o passado, criando caminhos para que a educação conecte-se com o presente – e com o futuro.
Roberto James é mestre em psicologia, especialista em comportamento de consumo, conselheiro de empresas e atua há mais de 15 anos no mercado de combustíveis e lubrificantes no Brasil. É também palestrante e autor dos livros “O consumidor tem pressa: corra com ele ou corra atrás dele” e “Vivendo o Varejo Americano: uma viagem no coração do consumo”.