Sinais dos tempos, diriam alguns; outros falariam: sempre foi assim, a beligerância é inata aos seres humanos. De onde surge ódio, indiferença e tanto egoísmo? Ver num irmão, de carne, ossos, órgãos e alma um inimigo a ser combatido, a ser eliminado, trucidado?
Assistimos, em tempo real, pelas redes de televisão, guerras aéreas, mísseis e bombas sendo alçados de um país para o outro. Quem está no comando da operação, pouco se importa se morrerão ou ficarão machucados ou aleijados idosos, mulheres e crianças. Devem pensar, com naturalidade: “numa guerra, sempre morrem inocentes”.
Questões territoriais, diferenças religiosas ou de costumes, demonstração de superioridade e de poder frente a outros povos, julgando-se superiores em inteligência, moral, ética e filhos preferidos de um deus único e exclusivo? Um deus engarrafado, personalíssimo, que fala apenas com a sua nação e para o seu povo.
A prática da boa convivência se distancia a cada momento; discursos ensandecidos são proferidos sem a mínima vergonha, não corando a face de dirigentes mundiais. Parece até que não têm filhos e netos aos quais deveriam dar bons exemplos. Pouco se lhes importam. São abutres tenazes na arte de produzirem divisão, guerras, mortes, dores e destruição. Comprazem-se em sentir o cheiro de sangue e a aflição de seus semelhantes!
O pior: à noite, no conforto de seus lares, junto aos que dizem amar e aos quais se supõem servirem de bons exemplos, quase sempre residindo em mansões com todo conforto tecnológico e rodeados de funcionários (seguranças, cozinheiras, arrumadeiras, jardineiros etc.), deitam-se em suas camas “king size” e dormem o “sono dos justos”. Como dizia meu saudoso avô paterno, do qual sou xará: “quem não tem vergonha na cara é o dono do mundo”. Em verdade, são lobos em peles de cordeiros. Vieram ao mundo para nos demonstrar o que não devemos fazer, como não devemos ser e agir. Enfim, são a antítese de homens e mulheres de bem, pacíficos, benfeitores e destituídos de fel.
Qual é o legado que estamos deixando às futuras gerações? Os dirigentes mundiais (“donos do mundo”), têm uma visão estreita, tacanha, para dizer o mínimo. Egoístas de carteirinha, só pensam no agora, no hoje, destroem nossas fauna e flora, o meio ambiente já está em colapso, fato verificado ano após ano ante as tragédias climáticas e a elevação da temperatura no planeta Terra.
Urge aos que detêm poder e não se comprazem a esse atual estado de coisas, insurgirem-se de forma firme e eficaz. Do contrário, estarão aderindo, por omissão, ao atual cenário. E as atitudes devem ser postas de forma concreta, pois, como diz o outro, “falar até papagaio fala”.
Pelo andar da carruagem, a figura que nos vêm à mente é de uma ampulheta, na qual caem seus últimos grãos de areia. Pergunta que não quer calar: até quando assistiremos, inertes, às práticas inescrupulosas realizas por pessoas descompromissadas com o bem comum, com a paz e harmonia mundiais? Há homens e mulheres sensatos e coerentes, detentores de poder decisório sobre os atuais destinos da humanidade. Permitirão que meia dúzia de aloprados destruam as vidas e os sonhos de oito bilhões de pessoas? Momento de separarmos o joio do trigo? A esperança: “o sol sempre remove o mais denso nevoeiro”.
Armando Bergo Neto é advogado e ex-Procurador Geral da Câmara Municipal de Campinas