O Brasil precisa sair da inércia de apenas reagir a crises periódicas e emergenciais, e começar a pensar com base no planejamento estratégico. Nos últimos anos, o que se vê são sucessivos governos “pensando no futuro”, mas tentando resolver questões do presente e do passado, sem levar em consideração o cenário do País daqui a 10, 20 anos. Planejar o futuro em qualquer circunstância não é uma tarefa trivial, e exige de seus formuladores um elevado grau de conhecimento técnico e capacidade de previsão.
Na área de infraestrutura logística temos hoje em mãos um projeto transformador com foco no futuro para o Estado de SP. O governo paulista lançou publicamente o relatório final do PAM-TL, sigla para Plano de Ação de Transporte de Passageiros e Logística de Cargas para a Macrometrópole Paulista (MMP). Foi elaborado por um consórcio de qualificadas empresas nacionais e estrangeiras observando a seguinte conjuntura: as previsões de crescimento populacional e de frota de veículos apontam para um cenário de crescentes gargalos do transporte de passageiros e de cargas na MMP e vai beneficiar toda a grande região de Campinas.
Trata-se de um plano ousado para melhorar esta área integrada dos vários modais no âmbito da macrometrópole, que inclui as regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, Sorocaba, Baixada Santista e São José dos Campos – regiões que concentram 70% do transporte de cargas do Estado e 32% do PIB nacional.
Em resumo, o PAM-TL planeja 5 grandes iniciativas até 2040:
1) Implantação do TIC (Trem Intercidades), ligando São Paulo a Campinas, Sorocaba, Santos e São José dos Campos, com 404 kms de serviços ferroviários divididos em 16 estações e trens double stack (dois andares) a 120 km/h;
2) em sincronia com o TIC, criação do EC (Expresso de Cargas), com 576 kms divididos em 13 plataformas e trens igualmente double stack só que a 90 km/h;
3) Ferroanel na região leste;
4) duplicação do trecho oeste do Rodoanel; e
5) Linha Verde: nova rota de ligação bimodal (rodoviária e ferroviária) entre São Paulo e o Porto de Santos.
No caso da logística de cargas, o plano prevê as 13 plataformas atuando como pátios rodoferroviários com armazenagem para centrais de distribuição. Elas funcionam como pontos de transferência de modais (ferroviário e rodoviário, mesclando o uso de caminhões grandes, fora das cidades, e pequenos, dentro dos municípios) com o objetivo de reduzir o tempo e o custo do transporte.
Após estudos de viabilidade financeira, o PAM-TL calcula que estes projetos somem investimentos privados (concessão e PPP) da ordem de R$ 70 bilhões, sendo R$ 54,2 bilhões (77% do total) previsto para o setor ferroviário.
Inovações disruptivas
A economista ítalo-americana Mariana Mazzucato enumera uma série recente de inovações disruptivas que estão mudando o mundo – como a internet, os smartphones, as energias renováveis, entre outras –, e que surgiram de uma interação de agentes privados induzidos por iniciativas públicas.
É o que pretendemos com o PAM-TL: induzir os operadores de logística a planejarem seus futuros investimentos tendo em mãos um plano estratégico confiável, que lhes aponte com razoável precisão.
João Octaviano Machado Neto, engenheiro civil, é secretário de Logística e Transportes do Estado de São Paulo
Roberto Giannetti da Fonseca, economista, é presidente do Conselho de Gestão da Secretaria de Logística e Transportes do Estado de São Paulo