Um estudo mais aprofundado dos resultados das eleições de 2024 está mostrando não apenas a consolidação de uma centro-direita no país, com o aumento do número de prefeitos do chamado centrão, como também mudança no perfil nos vereadores eleitos.
Com os dados disponibilizados pelo TSE, foram calculadas as relações entre número total de vereadores eleitos e o número total de prefeitos, para cada partido político.
A tese é que o equilíbrio entre legislativo e executivo leva a governos mais sólidos, independente da cor partidária.
Foi realizada uma avaliação ao longo das últimas quatro eleições, desde 2012, quando o partido que estava no governo federal era o mesmo do atual e as fogueiras de junho de 2013 não tinham acontecido, nem a ascensão da nova direita estava bem estabelecida. Os partidos foram mudando de denominação ao longo do tempo, houve fusões e incorporações.
Fazendo a relação entre vereadores e prefeitos eleitos, por partido, ao longo dos anos, vemos que partidos da esquerda no espectro político possuíam grande inserção nos parlamentos, mesmo que não elegessem grande número de prefeitos (alta relação vereadores/prefeitos eleitos). Isso também se alterou ao longo das eleições nos últimos 20 anos e partidos do centrão passaram a ter significância nacional nas Câmaras Municipais.
Repetindo: isso é uma avaliação apenas numérica, sem levar em consideração questões regionais. Em Campinas, por exemplo, o vice-prefeito reeleito é do PSB, partido da base do governo federal, enquanto que o prefeito se firma como oposição ao mesmo governo.
Como exemplo desses cálculos preliminares, o PT possuía uma relação vereadores/prefeitos eleitos de 8,1 em 2012 que foi para 14,6 em 2020, mas caindo para 12,4 em 2024. O PSD, tipicamente um partido de centro, possuía uma relação vereadores/prefeitos maior que a do PT em 2012 (9,4), mas que caiu para 7,4 em 2024, mesmo sendo o campeão de conquistas de prefeituras. E, o mais representativo, foram os partidos tipicamente da direita, como o PL e o PP, manterem ao longo das eleições essa relação entre 9,2 e 11,5 revelando a importância que estão dando para o equilíbrio entre Executivo e Legislativo.
A análise é ainda preliminar e precisa ser refinada para recalcular votos de partidos que foram incorporados a outros ou que mudaram de nomenclatura ao longo do tempo. O espectro político para determinar se um partido é de direita, esquerda ou centro foi obtido por meio do estudo de Bolognesi, Ribeiro e Codato, de 2023 (https://doi.org/10.1590/dados.2023.66.2.303).
Há que se fazer uma ressalva em relação aos chamados partidos da extrema esquerda (PCO, PSTU, PCB e UP), que na verdade são partidos antissistema, pois são os menos votados em todos os municípios em que concorreram. Os candidatos a prefeito sequer tiveram votos que se aproximassem à eleição de vereador. O PCO pratica também o personalismo e nepotismo partidário, em que os filhos do “dono” foram os candidatos em São Paulo na eleição de 2024.
O estudo completo incluirá uma análise nos mesmos moldes por região geográfica do Brasil, com objetivo analítico e não partidário.
Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia de Letras de Lorena, da Academia Campineira de Letras e Artes, da Academia Campinense de Letras e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.