Uma orquestra é uma organização complexa e com grande poder de influência sobre a atividade musical e cultural da sua comunidade. Ela é também um indicador seguro do grau de evolução da sua cultura. No caso de Campinas, terra natal de Carlos Gomes, o papel da orquestra é ainda mais decisivo pois cabe a ela em primeiro lugar e antes de todos, preservar a herança deste grande nome da cultura brasileira, um dos mais brilhantes compositores do século XIX, até hoje executado nos maiores teatros em todo o mundo.
Trazer um regente para a Sinfônica Municipal de Campinas, não pode ser apenas contratar um eficiente diretor musical. O maestro, numa grande orquestra, como queremos que seja a nossa OSMC, não pode ser simplesmente o regente que conduz as apresentações, mas tem que assumir o papel de liderar um projeto cultural à altura da grandeza de Campinas e da sua herança musical.
Campinas já experimentou essa experiência quando teve à frente da nossa orquestra o maestro Benito Juarez. A orquestra brilhava não apenas só pela qualidade de seus músicos e boa sonoridade do conjunto, mas sobretudo pela papel de liderança do seu maestro.
A OSMC não era simplesmente uma associação de bons músicos e sim um vetor de animação cultural absolutamente incomum no País à época. Nenhuma orquestra tocou e gravou tanta música brasileira. Cada concerto apresentava uma ideia provocadora, fazendo com que ela nunca tenha tocado para uma cadeira vazia, tal era o interesse do público por suas apresentações. A OSMC dava concertos nos mais sofisticados teatros do Brasil e Exterior, sempre para plateias lotadas, mas também tinha a coragem de se apresentar em favelas, em circos, em regiões as mais humildes da cidade e até mesmo no inesquecível comício das Diretas Já no Vale do Anhangabaú em SP para um público de milhões de espectadores.
Conversando com o escritor e produtor cultural José Roberto Walker, um dos principais responsáveis pela reestruturação da OSESP e pela construção da Sala São Paulo e que por muitos anos dirigiu o Festival de Inverno de Campos do Jordão, ouvi dele que o evento mais esperado nos festivais nos anos 90 era sempre a apresentação da Orquestra de Campinas, dirigida pelo Benito Juarez. Embora houvesse sempre muitos grandes nomes internacionais na programação, era a nossa orquestra que mais atraía o público e muitas vezes provocava verdadeiro tumulto na disputa pelos ingressos.
Campinas está esperando que o novo maestro da orquestra faça jus a esse passado que tanto orgulhou a nossa cidade. Um maestro que não apenas dirija a orquestra nas suas apresentações, mas faça dela uma instituição cultural à altura de Campinas e da herança de Carlos Gomes.
A minha sugestão já é conhecida de todos. É o maestro Júlio Medaglia, um nome que dispensa apresentações. Basta dizer que no centenário da morte de Carlos Gomes foi ele o maestro que regeu as grandes óperas do compositor campineiro, no Brasil e na Europa e é dele a melhor gravação de Il Guarany, encenada na Bulgária, com um elenco recheado de grandes nomes da cena lírica internacional.
Jorge Alves de Lima, acadêmico, escritor e historiador, é membro da Academia Paulista de História e presidente da Academia Campinense de Letras