Um ato público na Praça Arautos da Paz, neste sábado (15), às 10h, é mais uma das ações realizadas em Campinas dentro da Semana Brasileira da Enfermagem, que este ano tem como tema central “O trabalho em Enfermagem no contexto de crise”. Iniciada no último dia 12, Dia Mundial do Enfermeiro, a semana tem como finalidade mais do que homenagear os profissionais. Antigas reivindicações não atendidas levam a categoria a acreditar que o reconhecimento de pacientes e da população ao trabalho desempenhado na pandemia não se estende a quem tem o dever de zelar pelos direitos dos trabalhadores.
Em virtude da pandemia, o ato será realizado de forma híbrida, on-line e presencialmente. Para participar do evento presencial, foi exigida inscrição prévia, já que a capacidade está limitada a 100 participantes. Todas as medidas foram adotadas para evitar aglomerações e seguir as normas sanitárias contra o coronavírus.
O Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Campinas (STMC) participa do movimento que objetiva também mostrar a realidade dos profissionais de enfermagem e defender algumas das antigas reivindicações da classe. Os enfermeiros, cujo trabalho foi evidenciado pela pandemia, não dispõem de piso salarial. Buscam, ainda, a regulamentação da profissão e uma jornada semanal de 30 horas sem redução salarial. Aposentadoria especial e plano de carreira também estão na pauta de pedidos dos profissionais.
Luciano Robson dos Santos, diretor da área de saúde do STMC, reforça que a categoria precisa de mais do que aplausos. “A enfermagem tem respondido ao que a sociedade espera dos profissionais durante uma crise de saúde. O problema é que trata-se de uma categoria que não tem nem piso salarial, nem aposentadoria especial, entre outras necessidades decorrentes do tipo de tarefa executada”, observa Santos.
Um dos focos da campanha é exigir do Congresso celeridade na votação do projeto de lei 2564/2020 que fixa a jornada de trabalho para a categoria em seis horas diárias. Os enfermeiros e técnicos de enfermagem ocupam, segundo Santos, a maior fatia da categoria da saúde: representam até 70% da força de trabalho do setor. Ainda assim, não têm representatividade na política para lutar por direitos há tempos reivindicados. “Há interesses empresariais, lobby das grandes empresas da área de saúde para que o profissional da enfermagem continue desvalorizado no que se refere a direitos e salários”, afirma.
Santos cita dados do Observatório da Enfermagem para reforçar a defasagem entre os ganhos e os riscos a que estão expostos os profissionais da enfermagem. Quase 800 trabalhadores da área perderam a vida durante a pandemia, aponta o Observatório. Enquanto o salário base de um enfermeiro parte, por exemplo, dos R$ 5,9 mil em Campinas, no Acre o valor pode ser de apenas um salário mínimo. “A disparidade gera muitas consequências, como a vinda desse profissional para São Paulo em busca de melhores salários, o que implica déficit profissional no Acre”, compara.
“Vemos um profissional cansado, testado ao limite, mas que continua na linha de frente, com muita garra, dando conta do recado. Porém, eles precisam de um retorno à altura da habilidade evidenciada pela pandemia”, afirma Luciano Robson dos Santos, diretor da área de saúde do STMC
O merecimento, indica Santos, está atestado pela maior crise de saúde que o Brasil já viveu. O que resta agora é estender esse reconhecimento às questões prioritárias dos trabalhadores da enfermagem. “Vemos um profissional cansado, testado ao limite, mas que continua na linha de frente, com muita garra, dando conta do recado. Porém, eles precisam de um retorno à altura da habilidade evidenciada pela pandemia”, finaliza Santos.