Há 132 anos, o regime monárquico caía no Brasil com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, por marechal Deodoro da Fonseca, no Rio de Janeiro, onde ficava a Corte. Campinas teve papel fundamental antes e depois desse episódio que deu origem a um novo País. Por aqui estavam alicerçadas as bases que fundamentaram a formação do Partido Republicano Paulista, que advogava pelo fim do reinado e, com maior ou menor afinco, discutia e pensava possibilidades para o fim da escravidão.
Campinas era berço dos ideais republicanos e também um grande centro escravocrata, o principal da Província (posterior, Estado) de São Paulo. Quando da Proclamação, a cidade contava com cerca de 30 mil habitantes e seis mil escravizados. A cidade possuía a estrutura econômica desenvolvida para a produção de açúcar, que gradativamente foi substituída pelo café, que trouxe muita riqueza e importância para o Município, chamado de capital agrícola da Província.
Nas últimas décadas do século 19, a cidade apresentava sérias discussões, como a falta de crédito para a expansão da produção agrícola, um progressivo abandono da mãe de obra escravizada, seja por conta da mecanização da produção e das constantes fugas, a necessidade da substituição da mão de obra dos escravizados, já que desde a metade do século já existia a proibição do tráfico negreiro. Além do alto custo do transporte da produção até o porto de embarque, que atrapalhava o aumento dos lucros das lavouras da região.
As estradas eram malconservadas e a posição do governo incomodava muito, já que se orgulhava do saldo positivo dos impostos, mas não providenciava melhorias. A reivindicação era a construção de uma estrada de ferro que ligasse a capital ao Porto de Santos, que beneficiaria cidades como Campinas, Limeira e Jundiaí, grandes produtores de café e açúcar.
Em 1856, o governo deu a concessão para a criação de uma estrada de ferro que ligasse São Paulo a Santos, e que chegasse a Jundiaí. Ficou pronta em 1867. Depois foi formada a Companhia Paulista para o prolongamento da estrada de ferro de Jundiaí até Campinas. O trecho foi inaugurado em 1872.
A implantação das ferrovias em São Paulo foi fundamental para a rentabilidade do complexo cafeeiro, já que encurtou distâncias, e diminuiu custo do frete e as perdas no caminho. Na mesma época, as máquinas de beneficiamento de café foram popularizadas, o que melhorava a qualidade do produto e dependia menos da mão de obra escravizada.
Contudo, o governo não criava medidas para facilitar a entrada de imigrantes, com garantias. Esses temiam dificuldades para a posse de terras, questões religiosas, entre outros. O crescimento da produção cafeeira e da renda permitiu muitos melhoramentos urbanos, como calçamento de ruas, iluminação pública e o serviço de águas.
No início de 1870, os campineiros que defendiam os ideais republicanos começaram a participar de forma ativa da formação de um partido na Província de São Paulo.
Aqui em Campinas, em 1872, ocorreu uma reunião, na qual foi criada uma comissão com cinco membros para cuidar dos interesses do partido e convocar reuniões, além de manter contato com os demais clubes republicanos da província. A comissão do partido, eleita nessa reunião, foi composta por: Dr. Américo Brasiliense, Dr. Jorge de Miranda, Dr. Francisco Quirino dos Santos, Dr. Manuel Ferraz de Campos Salles e Elias do Amaral Souza.
Esses membros de Campinas estavam presentes na Convenção de Itu, que quase ocorreu em Campinas, e que fundou o Partido Republicano Paulista, em 18 de abril de 1873. Na convenção, os republicanos paulistas decidiram constituir uma assembleia de representantes de todos os municípios, para funcionar na capital.
Em julho do mesmo ano, os vários representantes de municípios se encontraram no Congresso Republicano na cidade de São Paulo e propuseram a eleição de uma comissão permanente do partido, para estudar e criar um projeto de organização política sobre a base de federação de municípios e autonomia federal das províncias.
As reuniões daquele mês geraram o Manifesto do Congresso Republicano para contestar os oposicionistas do partido, tanto os que defendiam o fim da escravidão quanto os que queriam a manutenção. No documento, eles apontam que questão da escravidão não era política e sim social, e que os monarquistas, que estavam no poder, seriam os responsáveis pela definição da questão. Também apontaram que se a questão fosse entregue ao partido para solução, cada província, em respeito ao princípio da união federativa, realizaria a substituição do trabalho segundo os seus interesses.
Após o Congresso de 1873, Campinas se tornou o principal centro do movimento republicano em São Paulo. Na década de 1880, o Partido Republicano aumentou ainda mais sua influência na cidade, vencendo grande parte das eleições municipais, e conseguindo eleger candidatos às Assembleias Provincial e Geral.
Na eleição de 1881, os republicanos conseguiram eleger seis representantes para a Assembleia Provincial; entre os 36 deputados eleitos para a Assembleia Provincial de 1882, havia 15 liberais, 14 conservadores, 6 republicanos e um autonomista e católico. Pelo 7º Distrito, ao qual Campinas pertencia, foram eleitos dois deputados republicanos, Manuel Ferraz de Campos Sales e Gabriel de T. Piza e Almeida.
Já em 1884, os republicanos do 7º Distrito, reunidos em Campinas, escolheram o advogado Campos Sales como candidato a Deputado Geral pelo distrito. Ele foi eleito e se tornou o primeiro campineiro a ocupar esse cargo. Nas eleições provinciais, em 1885, foi eleito o campineiro e importante membro do Partido Republicano, o advogado campineiro Francisco Quirino dos Santos, fundador do jornal Gazeta de Campinas (1876-1889).
Em 1886 fundaram na cidade o Clube Republicano Campineiro, para oferecer cursos de ciências políticas, e conferências sobre temas da atualidade ministradas por Francisco Glicério e Campos Sales, entre outros republicanos.
Em 7 de novembro de 1889, o advogado Francisco Glicério, partiu para São Paulo após receber uma mensagem de Campos Sales. Lá se encontrou com o conterrâneo e Bernardino de Campos.
No dia seguinte, já no Rio de Janeiro, junto de Quintino Bocaiúva, Rui Barbosa, Benjamin Constant, entre outros, participou de várias reuniões na casa do Marechal Deodoro, onde definiram as condições e as funções de cada um na tomada do poder após a queda do Imperador Dom Pedro II. Os militares fariam a revolução armada e os civis a organização do futuro governo provisório da República.
Francisco Glicério fez parte do movimento republicano de 15 de novembro de 1889 e integrou o Governo Provisório como ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas de 31 de janeiro de 1890 a 22 de janeiro de 1891, e ministro interino da Justiça de 28 de fevereiro a 8 de março de 1890. Teve papel fundamental no movimento pela Proclamação da República e foi um dos autores da Constituição Republicana de 24 de fevereiro de 1891.
Campos Sales, por sua vez, foi nomeado ministro da Justiça do governo provisório de Deodoro da Fonseca quando promoveu a instituição do casamento civil e iniciou a elaboração de um Código Civil na República. Foi eleito senador da república em 1891, mas renunciou ao cargo, em 1896, para se tornar presidente do Estado de São Paulo. Foi presidente do estado de São Paulo de 1896 até 1897.
Em 1897, renunciou ao cargo de presidente de São Paulo, para se candidatar à presidência da República. Foi eleito com 91,52% dos votos, assumindo o cargo em novembro de 1898. Assumiu um país atolado em dívidas e conseguiu saneá-lo, mas foi extremamente impopular, já que suas medidas econômicas levaram à recessão, ao fechamento de empresas e indústrias e à piora da qualidade de vida da população.