Se você é pai ou mãe e está lendo esta reportagem, tem um compromisso inadiável com a sua família e a saúde pública: imunizar o seu filho contra a poliomielite nas datas definidas pelo Programa Nacional de Imunizações (PMI). A baixa cobertura vacinal contra uma doença que já havia sido declarada erradicada no País, e que pode voltar, tem sido um grande desafio dos gestores da Saúde.
Campinas, com sua ampla rede de atendimento e grande experiência em campanhas de imunização, também apresenta números preocupantes. A pedido do Hora Campinas, a Secretaria Municipal de Saúde informou a cobertura vacinal ano a ano. A curva é perigosamente descendente. Veja:
CAMPINAS
♦ 2015: 101,7%
♦ 2016: 105,2%
♦ 2017: 84,4%
♦ 2018: 95%
♦ 2019: 92,7%
♦ 2020: 89%
♦ 2021: 82,8%
A tabela indica que, desde 2018, a taxa vem diminuindo a cada ano, chegando a 82,8% em 2021. Neste ano, ainda não há dados parciais, mas, extraoficialmente, autoridades municipais seguem pessimistas com a adesão das famílias.
A poliomielite ou paralisia infantil é uma doença infecto-contagiosa viral aguda, caracterizada por um quadro de paralisia flácida, de início súbito.
Há pelo menos três razões objetivas, de acordo com analistas, para explicar esse fenômeno de queda nas coberturas: 1) a sensação, equivocada, de que a doença já não representa qualquer risco; 2) as fake news, que tornaram, de forma irresponsável, a vacinação uma espécie de vilão; 3) as falhas nas campanhas públicas, que têm impedido que a mensagem seja assertiva e convincente e 4) o impacto da pandemia do novo coronavírus, que afetou o fluxo regular das famílias aos postos de saúde.
Análise
Para o pediatra Tadeu Fernando Fernandes, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria, os dois anos de pandemia geraram um efeito desastroso nas políticas públicas de imunização. “As crianças não foram aos postos de saúde. A repercussão aparece agora, dois anos depois”, atesta, referindo-se aos dados preocupantes de cobertura, alguns abaixo até de 70%.
“Isso é crítico, porque doenças já controladas, como poliomielite e sarampo, vão recrudescer, com certeza”, alerta o pediatra.
Ele ressalta que é muito difícil atualizar o calendário vacinal quando há muita defasagem. “Você não pode aplicar todas as vacinas no mesmo dia. Temos que fazer uma combinação, dar doses de reforço. Ou seja, vamos demorar um certo tempo para colocar tudo em dia”, pondera. Ouça abaixo o recado do especialista.
Campanha de multivacinação
Na próxima segunda-feira, Campinas iniciará uma campanha de multivacinação, contra sarampo e poliomielite. No caso da poliomielite a meta é vacinar 95% do público-alvo de 58.813 crianças. Já a multivacinação tem como meta atualizar o esquema vacinal das crianças e adolescentes menores de 15 anos de idade, de acordo com as recomendações do calendário nacional. O objetivo é atingir a meta da cobertura vacinal de cada vacina, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
No Brasil
Segundo o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), as doses previstas para a vacina inativada contra a pólio (injetável) atingiram a meta pela última vez em 2015, quando a cobertura foi de 98,29% das crianças nascidas naquele ano. Depois de 2016, a cobertura caiu para menos de 90%, chegando 84,19% no ano de 2019.
Em 2020, a pandemia de Covid-19 impactou as coberturas de diversas vacinas, e esse imunizante chegou a apenas 76,15% dos bebês. Em 2021, que ainda pode ter dados lançados no sistema, o percentual ficou abaixo de 70% pela primeira vez, com 69,9%.
O que é
A poliomielite, também chamada de paralisia infantil é uma doença infecto-contagiosa que já teve sua erradicação no Brasil. Existem duas formas da doença: a abortiva, também conhecida como não paralítica, que é quando ocorre um quadro semelhante a uma gripe leve ou uma perturbação gastrintestinal, onde a pessoa fica imunizada contra a mesma, e a realmente paralítica, onde observa-se uma rigidez na nuca e no dorso da pessoa. Neste caso ela só consegue sentar-se na cama apoiando-se nas palmas das mãos.
Modo de Transmissão
O vírus é altamente contagioso e é transmitido por contato fecal. As outras vias possíveis de transmissão são a água, o leite e o alimento contaminado diretamente e por moscas.
Duração da Doença
O período de incubação chega a ser de 7 a 14 dias, em casos de doença benigna, sem paralisia, de 3 a 5 dias.
Prevenção
A prevenção da poliomielite se faz através das diversas campanhas contra a paralisia infantil, que levaram ao desaparecimento desta doença. Em 1994, o Brasil recebeu o certificado de Erradicação da Poliomielite. Todos os indivíduos deverão tomar vacina polivalente, pois cada gota contém os três tipos de vírus juntos, que provocará a imunização permanentemente.