Campinas reúne uma série de características como localização e perfil econômico que a colocam como referência nacional em tecnologia, educação, logística e turismo de negócios. Por outro lado, elas também são vistas pela Secretaria de Saúde como “fatores de risco” para a dengue.
A metrópole está em alerta para possível explosão dos casos da doença em 2024.
A Prefeitura anunciou na terça-feira (19) um pacote de ações contra a dengue. Ele inclui uma Sala de Situação para análise sistemática, reorganização da rede municipal de saúde e um novo site para divulgar informações.
A determinação é de que haja mutirão de combate aos criadouros do mosquito transmissor a cada 15 dias e divulgação de um boletim semanal. Antes, o mutirão era realizado “quando necessário”.
O primeiro mutirão desta nova fase está programado para 6 de janeiro e o cronograma com mais detalhes será definido até a próxima semana.
Neste ano, a metrópole já registrou 10.502 casos confirmados e três mortes pela doença. O total de infectados é o sexto maior da série histórica desde 1998.
O cenário pode piorar se houver reintrodução dos vírus tipos 3 e 4, não registrados localmente há 14 anos e nove anos, respectivamente, mas que já causaram infecções em outros municípios em 2023. Desta forma, os grupos mais vulneráveis são crianças, adolescentes e adultos que não tiveram contato com a doença antes.
Neste momento, Campinas tem oito áreas em alerta. O levantamento da Secretaria da Saúde considera não somente estatísticas recentes, mas também históricos das regiões para o boletim.
– Centro e Mansões Santo Antônio – Leste
– Jardim Florence 2 – Noroeste
– Jardim do Lago – Sul
– Jardim Eulina e Parque Via Norte – Norte
– Jardim Adhemar de Barros e Jardim Santo Antônio – Sudoeste
Fatores de risco
Campinas detém uma população densa, com 1,1 milhão de habitantes, mas também tornou-se a “segunda casa” para milhares de moradores da Região Metropolitana (RMC), de outras cidades paulistas e até residentes de fora de São Paulo.
A cidade é cortada pelas principais rodovias do estado, sede do Aeroporto Internacional de Viracopos, que deve fechar 2023 com a marca de 12,5 milhões de passageiros, e ainda reúne universidades e empresas de ponta, além do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), polos de atração de profissionais e estudantes de todo país.
“As pessoas viajam, especialmente no feriado, Carnaval, final do ano e trazem com elas, muitas vezes, o sorotipo que está circulando em outro lugar”, explicou a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Andrea Von Zuben.
Outra característica de Campinas que preocupa a Saúde é o fato de ser considerada uma “cidade quente”. A recorrência das ondas de calor favorece a proliferação do mosquito.
“A situação climática agrava a situação. A mosquita (somente a fêmea do Aedes pode transmitir vírus de dengue) fica mais ativa, pica mais gente e bota mais ovos”, falou Andrea.
Preocupação
O tipo 3 do vírus circulou pela última vez na cidade em 2009, e o tipo 4 foi registrado anteriormente em 2014. Crianças, adolescentes, além de adultos e idosos que não tiveram contato com a doença antes, são considerados os grupos mais vulneráveis. Há risco de dengue grave quando uma pessoa é infectada por um tipo diferente ao anterior, alerta a Saúde.
Combate à doença
Técnicos da secretaria alertam que a luta contra as arboviroses exige uma contrapartida da sociedade. “A Prefeitura mantém um programa de controle e prevenção da doença, mas cada cidadão precisa colaborar destinando corretamente resíduos e evitando criadouros”, aponta a pasta.
Um levantamento do Devisa indica que 80% dos criadouros estão nas residências.
“Para acabar com a proliferação do mosquito é preciso evitar qualquer acúmulo de água, principalmente em latas, pneus, pratos de plantas, lajes, calhas e outros objetos. É importante, também, vedar a caixa d’água e manter fechados os vasos sanitários inutilizados”, orienta a Saúde.
Orientações sobre assistência
Agentes da Prefeitura alertam para que as pessoas não deixem de procurar ajuda médica em caso de sintomas que possam indicar suspeita da doença. “Caso o morador tenha febre e mais dois sintomas associados (dor de cabeça, dor no corpo, náusea, vômito, manchas no corpo, dor articular, dor atrás dos olhos), ele deve procurar um centro de saúde para receber atendimento médico. Por outro lado, se apresentar tontura, dor de barriga muito forte, vômitos repetidos, suor frio e sangramentos, a busca por auxílio deve ser feita em pronto-socorro.”
Comitê de prevenção
Em 2015, a Prefeitura criou o Comitê de Prevenção e Controle das Arboviroses, que neste ano passou a se chamar Comitê Municipal de Enfrentamento das Arboviroses e Zoonoses. “Estamos extremamente preocupados e o Comitê está em condições para enfrentamento nos próximos meses”, afirmou o diretor da Defesa Civil, Sidnei Furtado.
O grupo reúne 14 secretarias: Governo; Saúde; Educação; Serviços Públicos; Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Gestão e Desenvolvimento de Pessoas; Administração; Comunicação; Trabalho e Renda; Esportes e Lazer; Cultura e Turismo; Habitação; Relações Institucionais, e Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos. Também participam Defesa Civil, Serviço 156, Rede Mário Gatti, Setec e Sanasa. No comitê é discutida a situação epidemiológica da cidade e, com isso, são desencadeadas as ações intersetoriais.