Uma sucessão de falhas e o atraso no envio de insumos provocaram uma verdadeira batalha judicial no Brasil por vacinas da Coronavac, a fim de garantir a aplicação da segunda dose do imunizante dentro do prazo de 28 dias após a primeira imunização. Alguns estados recorreram à judicialização para receber a vacina. Campinas, garantiu Andrea Von Zuben, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), não corre o risco de desabastecimento para a segunda dose, porque o estado de São Paulo optou por fazer reservas para assegurar o cronograma.
Cidades da Paraíba, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Amapá, entre outros estados, não têm doses suficientes da Coronavac para garantir a aplicação da segunda dose dentro do prazo máximo de 28 dias. Alguns estados, como a Paraíba, foram à Justiça em busca das doses necessárias, postura que foi criticada nesta segunda-feira (26) pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. “Se todos procurarem a Justiça não haverá doses para todo mundo”, avisou o ministro ao participar, nesta segunda-feira (26), de audiência pública na Comissão Temporária da Covid-19, no Senado.
“Não é a judicialização que vai resolver esse problema. O que resolve isso aqui são políticas públicas efetivas, que é o que nós temos tentado colocar em prática no ministério”, alertou Queiroga,
A judicialização é consequência de medidas que acabaram por desviar as recomendações do Plano Nacional de Imunização. O problema teve início quando o próprio ministério da Saúde autorizou a utilização imediata de todas as vacinas contra a covid-19 fabricadas pelo Butantan, sem a necessidade de manutenção de estoques para aplicação da segunda dose.
A isso se somou o atraso no envio de matéria-prima da China necessária para a fabricação da Coronavac. O ministro informou que a previsão é de que novas doses da vacina só sejam distribuídas pelo Instituto Butantan daqui a 10 dias. Sem dar detalhes, ele informou que a pasta deve emitir nos próximos dias uma nota técnica sobre a aplicação da segunda dose de vacinas contra a covid-19.
Cronograma
Sobre os motivos para redução no número de vacinas disponíveis em relação ao divulgado pelo ex-ministro da pasta Eduardo Pazuello, Queiroga disse que um deles está relacionado ao fato de a estimativa ter incluído 20 milhões de doses da Covaxin, do Instituto Bharat Biotech. A importação, em caráter excepcional, de doses da vacina Covaxin, da farmacêutica indiana Bharat Biotech foi negada no mês passado pela Agência Nacional de Vigilância Santitária (Anvisa).
Outro fator que contribuiu para um menor número de doses foi a demora na chegada do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), que vem da China. O atraso comprometeu a entrega do imunizante contra a covid-19 tanto pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) quanto pelo Instituto Butantan.
“O IFA, como os senhores sabem, é originário da China, e isso sempre dá uma variação, que pode ser para maior ou pode ser para menor. Questões logísticas também estão aqui consideradas. O fato é que temos trabalhado fortemente para conseguir mais doses”, garantiu.
Efeitos
O Instituto Butantan recomenda que a segunda dose da Coronavac deve ser aplicada em um período entre 14 e 28 dias após a primeira. Já para quem recebeu a dose da vacina AstraZeneca/Oxford (Fiocruz), o período recomendado é três meses.
Segundo especialistas, a demora para aplicação da segunda dose não invalida o efeito da primeira dose.
Em ambos os casos, qualquer atraso é preocupante, porque somente após a aplicação da segunda dose é que o efeito da vacina será completo. Porém, o atraso não compromete a imunidade constituída após a primeira dose e nem o resultado final da vacina.
Pfizer
Para a próxima quinta-feira (29), há expectativa de chegada do primeiro lote da vacina da farmacêutica Pfizer, no Aeroporto de Viracopos, em São Paulo.
“São doses prontas, e o Ministério da Saúde já organizou toda a logística para essa vacina, que, como os senhores sabem, tem uma peculiaridade em relação à cadeia de frio. Nós temos capacidade, sim, para aplicar a vacina da Pfizer com bastante segurança”, disse.
A Anvisa autorizou o armazenamento da vacina desenvolvida pela Pfizer a -20ºC, por até duas semanas. A mesma autorização foi concedida pela FDA, agência que regula medicamentos nos Estados Unidos. Inicialmente, o laboratório indicava o armazenamento do imunizante a -75°C.