A Prefeitura de Campinas, por meio de seus técnicos e gestores em Saúde e Vigilância, adotou na manhã desta quarta-feira (14) um grande “plano de guerra” para enfrentar a febre maculosa, doença que causou a morte de três pessoas que frequentaram a Feijoada do Rosa, no dia 27 de maio, na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio. Uma quarta morte ainda não tem laudo oficial, mas é provável que seja maculosa porque esteve no mesmo evento.
Após convocação do prefeito Dário Saadi para uma reunião de emergência na Sala Azul da Prefeitura, uma Sala de Situação foi adotada para encarar o tema. Campinas é considerada uma área endêmica para a doença. A febre maculosa é multissistêmica, ou seja, afeta muitos órgãos simultaneamente. Além disso, até 72h do início dos sintomas, há chance de tratamento bem-sucedido com antibiótico específico. Depois desse prazo, a letalidade é alta.
O “plano de guerra” está alinhado da seguinte forma, além do próprio protocolo que já é seguido por Campinas ser área endêmica:
♦ Criação de força-tarefa com autoridades e técnicos do governo de São Paulo
♦ Implatação de Sala de Situação para acompanhamento e deliberação
♦ Capacitação de profissionais da Saúde
♦ Divulgação imediata de vídeo educativo
♦ Aulas para médicos para que diagnóstico seja imediato
♦ Ampla campanha de divulgação ao público
♦ Reforço de mensagens de orientação, conscientização e alerta em parques, praças e espaços públicos
♦ Criação de lei para exigir de bares, restaurantes e food trucks a exibição de mensagens de orientação ao público sobre o risco de febre maculosa se esses estabelecimentos estiverem localizados em áreas de vegetação
A força-tarefa mobilizada nesta manhã e que terá papel importante no enfrentamento envolve a Secretaria Municipal de Saúde, a Vigilância Epidemiológica, Rede Mário Gatti, UPAs, HC da Unicamp, Hospital da PUC e mais 25 instituições privadas de saúde.
Avaliação
Na coletiva de imprensa na Sala Azul, a diretora do Devisa de Campinas, Andréa Von Zuben, ressaltou que a febre maculosa é uma zoonose de início súbito, com alta taxa de letalidade.
Ela lembra ainda que a época de estiagem é a de maior incidência da doença, em razão da persença do carrapato-estrela na vegetação. O pico da doença, reforça Andréa, ocorre nos meses de agosto, setembro e outubro.
“A febre maculosa está para Campinas como a malária está para a Amazônia”, compara a diretora.
Andréa conclui informando que não existe tratamento medicamento preventivo e alertou para a automedicação. “A região de Campinas é uma área endêmica, é a quem a maior incidência do Brasil por conta de sua ampla área de vegetação. É uma característica ecoepidemiológica”, orienta.
“Área verde é área de risco. Temos que partir dessa premissa. As pessoas precisam estar comunicadas”, alerta Andréa.
A diretora rejeitou a tese de atribuir culpa à Fazenda Santa Margarida em razão do surto. “Não tem nenhum sentido penalizar a Fazenda Santa Margarida. Eles estão dentro de uma área de transmissão e estão colaborando com todas as medidas e orientações”, afirma Andréa.
Diagnóstico médico
O prefeito Dário Saadi, que é médico urologista, admitiu que há sim uma dificuldade de diagnóstico da febre maculosa em razão da complexidade dos sintomas e da similaridade com outras doenças. “Temos gripe, dengue e Covid e essas doenças acabam influenciando. Muitos médicos acabam fazendo o diagnóstico a partir dos casos da maioria”, reconhece. “Mas vamos melhorar a capacidade de diagnóstico com capacitação”, promete o prefeito, reforçando que a confusão dos sintomas joga contra o diagnóstico preciso.
Santa Margarida fechada
Enquanto o prefeito Dário Saadi liderava a reunião em caráter emergencial com toda a área de saúde de Campinas na Sala Azul da Prefeitura, para discutir medidas de enfrentamento à febre maculosa, a direção da Fazenda Santa Margarida, em Joaquim Egídio, decidiu comunicar ao público o fechamento do espaço por 30 dias.
O distrito de Joaquim Egídio enfrenta um surto da doença após três mortes já confirmadas pela infecção da bactéria do gênero Rickettsia. Os três óbitos têm elo direto com a festa Feijoada do Rosa, ocorrida na Fazenda Santa Margarida, no dia 27 de maio. Uma quarta morte ocorreu na noite desta terça-feira (13).
“Diante dos últimos acontecimentos e, buscando maneiras de viabilizar e estruturar medidas de adequação necessárias, a empresa, por liberalidade, permanecerá fechada pelos próximos 30 dias. Uma vez que a região passa por momento delicado, essa decisão visa assegurar o bem-estar de nossos visitantes, colaboradores e da comunidade em geral”, informou o espaço, em nota.
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