Sintomas vagos, como dores e aumento no volume do abdômen, trabalham contra a detecção precoce do câncer de ovário. Facilmente confundidos com indicativos de doenças leves, os sinais, quando não investigados, favorecem o avanço da doença. Setembro, mês de conscientização do câncer do ovário, reforça a mensagem sobre a necessidade de exames e acompanhamento médico regulares, sobretudo nas mulheres com mais de 50 anos e as que têm histórico familiar de câncer.
Sandra Navarro foi diagnosticada com câncer de ovário em agosto de 2020. Tinha por hábito consultar anualmente o ginecologista, mas a pandemia a fez postergar a visita. Quando sentiu dor abdominal e a barriga começou a inchar, pensou se tratar de sinais de intolerância à lactose.
“A dor persistiu e como minha mãe teve câncer de intestino, busquei ajuda médica. Meu câncer já estava em estágio avançado, acometendo outros lugares. Foi tudo muito rápido. Fiz cirurgia e quimioterapia. Não é fácil, mas não podemos perder a fé. Meu objetivo é a cura”, conta Sandra, que não tem histórico de câncer de mama ou de ovário na família, fatores de risco para a doença.
As mamografias e o PSA são exemplos de exames preventivos e de rastreio para câncer de mama e próstata, respectivamente. Como não existe esse tipo de recurso para o câncer de ovário, e os sintomas normalmente aparecem quando a doença já está progredindo, a grande maioria das mulheres é diagnosticada em estágios mais avançados da doença, explica o médico Leonardo Roberto da Silva, oncologista do Grupo SOnHe e também oncologia e hematologia e do Caism/Unicamp.
“Dados dos Estados Unidos mostram que o diagnóstico de doença inicial só é feito em 15% das vezes, ao passo que em 59% dos casos a doença já está avançada. Cinco anos após o diagnóstico, 92% das mulheres que descobriram o câncer no início estão vivas, em comparação a apenas 29% daquelas com diagnóstico em estádio avançado”, relata o médico Leonardo Roberto da Silva.
Devido à ausência de um método eficaz de rastreamento em mulheres assintomáticas, oito em cada 10 casos são diagnosticados quando o câncer de ovário atingiu outros órgãos da região pélvica e abdominal. Segundo o oncologista Higor Mantovani, também integrante do Grupo SOnHe, dois fatores são responsáveis pelo diagnóstico na maioria das vezes tardio do câncer de ovário.
“Não existe rastreamento para o tumor de ovário. E os sintomas do câncer de ovário são inespecíficos, ocorrem principalmente quando a doença está mais avançada. Além disso, são queixas que as mulheres muitas vezes acabam associando a outros problemas de saúde e não suspeitam de que podem ter a doença.”
Os sinais mais comuns do câncer de ovário, detalha, são o aumento de volume do abdome, dor abdominal ou pélvica, dificuldade para se alimentar, sensação de empachamento, sintomas urinários (a paciente urina mais vezes que o normal e sente urgência para urinar) e fadiga.
“Importante salientar que, quando causados pelo câncer, esses sintomas tendem a ser persistentes, podendo evoluir com piora com o passar do tempo”, observa o oncologista.
Estatísticas
O câncer de ovário a cada ano atinge mais de 300 mil mulheres no mundo. Pesquisadores do Observatório Global do Câncer (Globocan) estimam um aumento de 42% no número anual de casos até 2040, chegando a um total de 445.721 novas ocorrências.
No Brasil, o câncer de ovário é a sétima neoplasia maligna mais comumente diagnosticada nas mulheres. Para os anos de 2020 a 2022, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que 6.650 novos casos serão diagnosticados a cada ano. Isso representa 3% de todos os cânceres detectados nas mulheres brasileiras.
“É o tumor ginecológico associado à maior mortalidade, com um número anual de mortes que chega a 207 mil em todo o mundo. Os dados mais atualizados de óbitos em nosso país são de 2019, quando foram registradas mais de 4 mil mortes pela doença”, expõe a oncologista Susana Ramalho, também do Grupo SOnHe.
Segundo Susana, o risco aumenta com o passar da idade, sendo maior entre os 55 e os 74 anos, embora mulheres jovens também possam desenvolver a doença. “Outros fatores como não ter filhos, endometriose, tabagismo, início dos ciclos menstruais em idade mais jovem e menopausa em idade mais tardia, além de fatores genéticos, são potenciais para este câncer”, finaliza.