Os números de tentativas de suicídio e de mortes por suicídio apresentados pelo Sisnov-Campinas – Sistema de Notificação de Violência – vão na contramão do que sugerem os efeitos negativos do isolamento imposto pela pandemia. No município, houve redução em 2020 nos dois indicadores, na comparação com 2019, e o balanço parcial de 2021 aponta para nova queda. Sara Sgobin, coordenadora da saúde mental da Secretaria de Saúde de Campinas, é cautelosa. Observa que muitos fatores ainda devem ser observados antes de se considerar a queda real de casos.
Os suicídios registrados em 2019 totalizaram 88, contra 59 de 2020, queda de quase 33%. O Sisnov aponta que houve 276 tentativas de suicídio em Campinas em 2019, total que caiu para 236 em 2020, uma redução de 14,5%. Nos sete primeiros meses desse ano, foram 98 tentativas.
Sara alerta sobre a necessidade de esperar os resultados de 2021 e 2022 antes de confirmar a redução efetiva de tentativas e de suicídios no município.
“Apesar de ficarmos felizes com essas quedas, ainda é precoce comemorar. Durante a pandemia podem ter ocorrido dificuldades de notificação. Não sabemos se os números caíram de fato ou se as pessoas que tiveram tentativas de menor gravidade não foram buscar ajuda por medo do contágio pela Covid. Vamos ter de esperar os próximos anos para ver se a gente está num processo de queda ou se é subnotificação”, observa.
O certo, aponta Sara, é que a rede de saúde mental de Campinas contribui para melhor da indicadores. “Temos um sistema consolidado, tanto, que a OMS (Organização Mundial de Saúde) reconheceu Campinas como um exemplo mundial por sua rede territorial de tratamento de saúde mental”, acrescenta.
Em números gerais, Campinas possui índices menores que o restante do país. A taxa de óbitos por suicídio do município é de 5,0 por 100 mil habitantes, enquanto a média brasileira está em 6,8 para cada grupo de 100 mil habitantes.
“Nós tentamos cuidar da saúde mental desde os equipamentos de base, na atenção primária, com as equipes de saúde da família, como também com os equipamentos especializados que respondem pelos casos mais complexos”, detalha Sara.
Os atendimentos em saúde mental de Campinas, observa Sara, não foram interrompidos durante a pandemia. “Resguardando todas as condições sanitárias, conseguimos manter os atendimentos aos pacientes e segurar um pouco todos os processos de adoecimento em saúde mental durante a pandemia”.
Números
O aumento de óbitos por suicídio é uma tendência mundial no período pandêmico e afetou todas faixas etárias. Em Campinas, no ano de 2019, o maior número de registros de suicídio, 24, ocorreu na faixa etária dos 20 aos 29 anos. Já em 2020, houve uma distribuição entre o público de 20 até 49 anos. Foram 14 ocorrências de 20/29 anos, 15 de 30/39 e 13 de 40/49 anos.
Quanto aos óbitos por causas autoprovocadas em 2020, janeiro está em primeiro lugar, com oito. Em 2019, outubro e novembro empataram com dez casos cada.
Abril de 2020, mês seguinte à chegada da pandemia no Brasil, foi o de maior número de tentativas de suicídio em 2020: 66. Já em 2019, houve mais ocorrências em junho, com 34. Em 2021, fevereiro, com 21, e março, com 22, foram os meses de maior comunicação de tentativas de suicídio.
Em relação à idade predominante nas tentativas, o grupo de 20 a 59 anos apresentou 163 ocorrências em 2019, contra 159 de 2020. Em segundo lugar está a faixa de 10 a 19 anos: foram 99 registros em 2019 e 65 em 2020.