A chegada do Trem Intercidades Eixo Norte à Campinas vai marcar o retorno do trem de passageiros após 28 anos na região. O projeto de Parceria Público-Privada prevê um trem expresso de média velocidade ligando a cidade à capital paulista (TIC), além do Trem Intermetropolitano (TIM) saindo de Jundiaí e indo até a cidade campineira e a requalificação da
Linha 7-Rubi, hoje gerida pela CPTM. O leilão de concessão do projeto ocorreu no último dia 29 de fevereiro, com a vitória do Consórcio C2 Mobilidade sobre Trilhos.
Símbolo histórico de Campinas, a Estação Central recebeu a última viagem de trem de passageiros em 2001. No ano seguinte, o local se transformou em um equipamento cultural do município. A previsão é de que o TIM, chamado de “trem parador” e que vai ligar Jundiaí e Campinas, passando por Louveira, Vinhedo e Valinhos, fique pronto em 2029. Já o TIC começará a operar em 2031, conforme estimativas do governo de São Paulo.
Atualmente, para quem deseja matar a saudade do transporte ferroviário há apenas o passeio turístico de Maria Fumaça que ocorre aos sábados e vai de Campinas até Jaguariúna. Muita gente que utilizava o serviço de passageiros guarda boas recordações do serviço.
“Quando a gente passava perto das casas, o trem chamava a atenção, as pessoas acenavam”, recorda Orlando Clemente, maquinista aposentado que trabalhou em algumas das principais ferrovias do interior paulista, incluindo a Companhia Paulista, sediada em Campinas. Ao lado da
Companhia Mogiana, a linha interligava a região a outros polos de produção e escoamento do café desde a segunda metade do século 19.
Ligação histórica
A volta do trem de passageiros para Campinas significa o resgate de um símbolo da região, que se desenvolveu economicamente a partir das ferrovias construídas para o transporte do café, principal atividade econômica de São Paulo entre os séculos 19 e 20.
Além do transporte de carga, os trens se transformaram no principal meio de locomoção da população local. E assim permaneceu por décadas. “Essas companhias foram muito importantes para essa região do interior”, afirma Cristina de Campos, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp.
Com as ferrovias, as cidades do entorno passaram a abrigar oficinas para a produção e montagem de equipamentos, além de manutenção das locomotivas. “As oficinas se tornam estabelecimentos fabris muito importantes em cidades como Jundiaí e Campinas, que começam a concentrar uma série de serviços e trabalhadores no entorno, ganhando outro dinamismo econômico”, conta a pesquisadora.
Estudioso da história dos transportes no estado de São Paulo, o professor aposentado do Departamento de Geotecnia e Transportes da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, Carlos Alberto Bandeira Guimarães, explica que, com a industrialização do estado a partir da década de 1930, intensificada pelo declínio da economia do café, as ferrovias foram gradativamente sendo substituídas pelas rodovias. Agora, ele enxerga uma oportunidade de retorno.
“Uma linha ferroviária de média velocidade consegue competir, pelo tempo de viagem, com o transporte rodoviário. Atualmente, existem muitos ônibus fretados, além das linhas regulares intermunicipais. Então, há demanda”, afirma o estudioso.
“A importância do trem de passageiros é que ele atende à necessidade de transporte para outras áreas metropolitanas, como a de Campinas. É fundamental essa conexão”, argumenta o professor Eduardo Romero de Oliveira, do Departamento de História da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, que coordena o projeto Memória Ferroviária. Ele ressalta que, com o TIC, os passageiros passam a ter uma opção mais sustentável de transporte em relação aos ônibus e veículos particulares, que emitem gases de efeito estufa.
Memória viva da era do trem de passageiros, Orlando, o maquinista aposentado, se diz ansioso por poder voltar a ver o ambiente fervilhante das estações: “a turma ama o trem!”
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*Com informações do Governo de SP