O prefeito de Campinas, Dário Saadi, convocou para esta quinta-feira (6) uma reunião de emergência na Prefeitura, às 15h, para discutir a escalada de violência nas escolas no País. O tema aflige pais, educadores, estudantes e representantes do poder público. Especialistas argumentam que o assunto é extremamente complexo, que não se combate apenas com repressão e eventual presença da polícia nas unidades de ensino. Para eles, é preciso um pacto amplo, que inclui até a regulação da internet, uma das portas que levam à formação de mentes desviantes, por meio dos grupos que disseminam ódio e incentivam os ataques.
Na reunião desta quinta-feira, Dário sentará à mesa com representantes da Secretaria Municipal de Educação, escolas estaduais, colégios particulares, Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Municipal. A ideia é achar mecanismos, urgentes e de longo prazo, que possam coibir as ações de violência, mas também projetos que espalhem a cultura de paz e que visem a consolidação de uma vigília permanente para esse tema nas escolas.
Participarão da reunião os secretários de Educação, José Tadeu Jorge; de Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública, Christiano Biggi; e a comandante da Guarda Municipal, Maria de Lourdes Soares.
O encontro foi motivado pela tragédia que ocorreu nesta terça-feira (5), em Blumenau (SC), quando um homem de 25 anos invadiu uma creche na cidade catarinense e matou quatro crianças. A cidade está em choque. Os pais correram para a unidade em desespero quando as primeiras informações começaram a circular. O crime ocorreu na creche particular Cantinho do Bom Pastor. As vítimas tinham entre 3 e 7 anos. Todas eram filhos únicos. Elas estão sendo veladas na cidade, em clima de grande dor e consternação.
A tragédia em Santa Catarina expõe uma rotina de ações violentas nas escolas brasileiras nos últimos anos, algo que o País não observava.
Os brasileiros estavam acostumados a casos no Exterior, sobretudo nos EUA. O clima é de tensão entre pais, professores e estudantes em todo o Brasil. É neste contexto que Dário chamou a reunião. “Convoquei uma reunião urgente para discutir ações de enfrentamento à violência nas escolas. Precisamos nos mobilizar e o poder público tem de fazer a sua parte para evitar tragédias como a de Blumenau”, justificou.
“Estou profundamente consternado com o ocorrido na creche em Blumenau, onde 4 crianças foram mortas em um ataque monstruoso. Como pai não paro de pensar nos meus meninos. Que Deus conforte as famílias e que a Justiça seja rápida e dura contra o assassino”, escreveu o prefeito nas redes sociais, manifestando solidariedade às famílias.
Escalada no Brasil
Os casos de ataques nas escolas brasileiras se intensificaram desde 2020, segundo dados das autoridades estaduais. Para especialistas, ainda que não explique as decisões individuais de todos os agressores, o governo Bolsonaro disseminou a cultura do armamento desde 2019, quando chegou ao poder. Educadores entendem que esse discurso ajudou a fomentar uma cultura do submundo de grupos radicais. O lado obscurso da internet, onde eles se juntam e se inspiram, potencializa essas atitudes.
Segundo pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 23 ataques com violência extrema em escolas aconteceram no Brasil nos últimos 20 anos. Entre 2002 e 2023, incluindo o massacre na creche catarinense, 28 estudantes, quatro professores e dois profissionais de educação morreram.
No Brasil são dez ataques com grande violência registrados desde 2022, três este ano. Ao todo são 11 vítimas fatais. A Região Metropolitana de Campinas (RMC) não está imune aos casos nem ao ambiente de tensão.
No mês passado, um estudante promoveu um atentado a duas escolas em Monte Mor. Ele lançou bombas caseiras nas unidades. Não houve feridos. Assim como o jovem que matou a docente na escola estadual paulistana, estes jovens tinham comportamentos distorcidos: vestiam roupas de perfil agressivo, guardavam peças bélicas, escreviam bilhetes de repulsa e vingança e miravam uma espécie de “glamourização” após virarem “celebridade” na cobertura midiática.
Para especialistas, o enfrentamento desse problema passa por novas condutas das coberturas jornalísticas, não fazendo do agressor um protagonista; pelo combate à impunidade; por responsabilização das grandes plataformas de tecnologia e conteúdo, como Meta e Google; por mais apoio às escolas, aos alunos e educadores; por mais preparo das polícias e por mais cultura de paz, reduzindo o armamentismo que o País absorveu nos últimos anos.
Afinal, os EUA são exemplo sintomático: só em janeiro deste ano, foram 39 casos de agressão ou tiroteios com mortes nas escolas americanas. Uma realidade que o país acabou se acostumando. Lá, com o lobby forte do armamento, as iniciativas de controle são muito incipientes. Em alguns estados, é possível comprar até fuzil em lojas de armas, com poucas exigências legais.