O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), manifestou nesta quarta-feira (14) solidariedade à jornalista Vera Magalhães, atacada e insultada por um membro de seu partido, o deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos). O episódio de agressão verbal ocorreu na noite de terça-feira (13), após o debate entre os candidatos ao governo de São Paulo. Dário classificou de “inaceitável” o ataque, que segue provocando polêmica e viralizando nas redes sociais.
Fernando Haddad (PT), Rodrigo Garcia (PSDB), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Vinícius Poit (NOVO) e Elvis Cezar (PDT) participaram do encontro nos estúdios da TV Cultura, em São Paulo. O encontro foi realizado em parceria com o UOL e a Folha de S.Paulo.
Ao Hora Campinas, o prefeito disse que o parlamentar paulista “prestou um desserviço à campanha do candidato Tarcísio de Freitas, que já se manifestou de forma clara e incisiva sobre o episódio, inclusive excluindo o parlamentar de sua comitiva em todas as atividades de campanha”.
Tarcísio repreendeu o ato em manifestações públicas nesta quarta-feira. O deputado agressor pediu desculpas ao candidato, mas não à Vera.
Entenda o caso
O deputado estadual Douglas Garcia, bolsonarista e defensor de pautas conservadoras, passou a gravar a jornalista com um celular após o debate. Ela estava sentada na primeira fila do auditório e foi hostilizada pelo parlamentar sob a acusação de que ganharia “meio milhão” de reais em um contrato com a TV Cultura, onde apresenta o programa Roda Viva. Garcia, aos berros, insistia que a jornalista ganhava um dinheiro exagerado, sob sua visão, do erário público, já que a Fundação Padre Anchieta é a mantenedora da TV Cultura e recebe recursos públicos do governo paulista, por meio de dotação orçamentária, além de verba própria da iniciativa privda.
Vera Magalhães, que também já havia sido atacada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no debate da Band, em agosto, reagiu aos ataques e passou a gravar também o deputado. Ela negou os valores de “meio milhão” e disse que seu contrato anual é de aproximadamente R$ 200 mil, algo em torno de R$ 22 mil por mês. A jornalista afirmou no bate-boca que o próprio deputado já havia tido acesso à informação pública com os valores corretos do contrato. Garcia foi retirado da emissoa por seguranças.
A jornalista tem sido uma das príncipais vítimas de ataques virulentos de seguidores de Bolsonaro.
O candidato Tarcísio de Freitas, apoiado pelo presidente, afirmou que não compactua desse modo de pensar e agir de Garcia, que encontra eco em grupos mais radicais do bolsonarismo. A própria campanha de Bolsonaro, internamente, avaliou que o comportamento do deputado paulista foi inadequado. Mesma avaliação tem o staff de Tarcísio, que teme algum impacto na reta final. Ele está à frente de Rodrigo Garcia na disputa e teria mais chances de disputar o segundo turno com Haddad. O candidato do Republicanos, inclusive, teria telefonado para Vera para pedir desculpas.
Investigação
O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo irá apurar as denúncias em relação à conduta do deputado Douglas Garcia. Segundo a Casa, isso ocorrerá com “transparência e celeridade”. Em nota, a Alesp afirmou que “repudia e não compactua com condutas ofensivas e desrespeitosas, sempre prezando pelo respeito, diálogo e tolerância entre todos.”
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Carlão Pignatari, manifestou também a sua solidariedade à jornalista Vera Magalhães e seu repúdio à atitude “irresponsável” do deputado Douglas Garcia. Pelo menos dois partidos (PT e PCdoB) vão entrar com pedido de cassação do deputado.
Sobre as implicações estatutárias dentro do Republicanos, o prefeito de Campinas, Dário Saadi, defende que a Executiva Estadual do Republicanos analise o caso.
Quem é Douglas Garcia
Douglas Garcia foi eleito em 2018 deputado estadual com 74.351 votos. Em seu perfil no site da Alesp, consta que ele é “vice-presidente do Movimento Conservador (antigo Direita São Paulo) e que defende pautas e movimentos como Marcha Contra a Lei de Migração, Marcha Pela Revogação do Estatuto do Desarmamento, Marcha Em Defesa Da Família, Marcha Pela Vida dos Policiais Militares e ações como o Escola Sem Partido, Infância Sem Pornografia. Ele prega a “ocupação de espaço à direita” em diversas casas legislativas.
Repercussão na internet
Alvo de ofensas do deputado estadual bolsonarista, a jornalista Vera Magalhães se tornou personagem principal da repercussão do debate para o Governo de São Paulo. Entre 22h da terça (13) e 12h da quarta (14), o nome da jornalista gerou cerca de 785 mil interações (postagens, likes, comentários e compartilhamentos) no Twitter, número 144% maior do que as 321,7 mil interações geradas por menções a Fernando Haddad (PT), Rodrigo Garcia (SPDB), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Vinícius Poit (NOVO) e Elvis Cezar (PDT) somados.
Os dados são da Vox Radar, empresa especializada na análise das redes sociais, encomendados pela startup O Pauteiro.
Vera foi citada em 45 mil postagens, aproximadamente 50% mais que as 29,5 mil publicações que citaram os candidatos. Os picos de publicações sobre o tema ocorreram, sobretudo, por conta de manifestações de solidariedade à jornalista, entre 00h e 2h da madrugada desta quarta, na repercussão imediata dos ataques, e por volta das 8h, quando o ex-presidente Lula se solidarizou com Vera.
Ainda de acordo com dados da Vox Radar, entre os 41,6 mil perfis que citaram o nome da jornalista neste intervalo de tempo, cerca de 40% são de viés bolsonarista, 33% não manifestam preferência política na rede, 18% são de esquerda e 9% são de direita não bolsonarista.
Entre os termos mais citados nas postagens sobre as ofensas cometidas pelo deputado Douglas Garcia estão “agressão”, citado em 3,7 mil postagens; “vergonha”, com 2,5 mil menções; “Bolsonaro”, com 2,3 mil; além de “bolsonarista” e “solidariedade”, utilizados em cerca de 1,5 mil postagens.
O contexto da agressão sofrida pela jornalista fez o seu nome ser o termo mais citado no Twitter entre 6h e 10h desta quarta (14). Entre 10h e 12h foi o segundo termo mais citado, atrás apenas de “Tarcísio”, também muito mencionado dentro do contexto da agressão. Douglas Garcia, que atacou Vera, e Leão Serva, diretor de Jornalismo da TV Cultura, que jogou para longe o celular do deputado bolsonarista, também esteve entre os termos mais citados ao longo da manhã.