O tradicional Dérbi entre Guarani e Ponte Preta foi oficialmente reconhecido como patrimônio imaterial de Campinas. A aprovação ocorreu nesta quinta-feira (26), durante reunião do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), realizada no auditório do Planetário do Parque Portugal, em Campinas. O encontro contou com a participação de conselheiros, representantes da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, da sociedade civil, entidades e membros dos dois clubes de futebol.
O Guarani esteve representado por Erik Franco, vice-presidente de Patrimônio, e Adriano Hintze, vice-presidente de Marketing. Pela Ponte Preta, participou o diretor de Patrimônio Histórico Marco Antônio Castiglieri. “É muito importante ter esse reconhecimento da Prefeitura. Esse é o clássico mais antigo. A decisão do Condepacc interfere na vida da cidade, trazendo a história para a rotina das pessoas”, afirmou Castiglieri.
A proposta de reconhecimento foi embasada em um estudo conduzido por Marcela Bonetti, especialista cultural da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Campinas. A pesquisa envolveu entrevistas, coleta de depoimentos, levantamentos documentais e bibliográficos, além de visitas técnicas aos clubes.
O estudo utilizou a torcida como categoria social central, considerando sua atuação como elemento vivo da prática cultural que se mantém ativa e revigorada ao longo das décadas. “O clássico entre Guarani e Ponte Preta é um dos confrontos mais tradicionais e emblemáticos do futebol brasileiro, especialmente importante para a cidade de Campinas. A realização dos jogos ao longo da história mantém o suspense e a emoção a cada novo encontro”, destacou Bonetti.
História e identidade
O primeiro Dérbi aconteceu em 24 de março de 1912, com resultado desconhecido. O primeiro confronto com cobrança de ingresso foi registrado em 24 de outubro de 1915, no Hipódromo de Campinas, com vitória do Guarani por 1 a 0. No segundo jogo, no mesmo local, a Ponte Preta venceu por 2 a 1. Desde então, os encontros entre os dois clubes se tornaram parte fundamental da cultura campineira.
Mais do que um jogo, o Dérbi é um marcador da identidade da cidade. Ele atravessa gerações e compõe a memória coletiva dos moradores: famílias inteiras guardam lembranças dos clássicos, com histórias que vão além do futebol — festas, encontros, brigas, reconciliações e tradições familiares. A oralidade é um dos pilares dessa herança: torcedores mais velhos contam suas experiências aos mais jovens, criando uma linha afetiva contínua.
Também fazem parte desse patrimônio expressões culturais que permeiam o cotidiano campineiro, como cantos de torcida, grafites urbanos, camisetas, bandeiras e apelidos carinhosos, como “bugrinos” e “pontepretanos”. O dia do Dérbi mobiliza a cidade: bares enchem, rádios dedicam a programação ao jogo, escolas comentam o duelo. É uma verdadeira festa popular que reforça o sentimento de pertencimento.
“Esse passo é fundamental para formar novos torcedores. É a história sendo valorizada. Usaremos agora esse reconhecimento em nossos materiais informativos. O Guarani tem esse cuidado em formar novos públicos. Criamos, por exemplo, uma área kids no clube pra atrair os futuros torcedores”, explicou Erik Franco, do Guarani. Para Adriano Hintze, também representante do Guarani, “é um reconhecimento da história. Isso ajuda no futuro porque as pessoas estão acompanhando a valorização deste clássico”.
Com a aprovação pelo Condepacc, o Dérbi campineiro se junta a outros bens culturais reconhecidos oficialmente e passa a ter mecanismos de preservação e valorização dentro das políticas públicas de patrimônio da cidade.
“Ser da Ponte ou do Guarani é parte da biografia de muitos campineiros. Esse reconhecimento institucional valoriza uma tradição que sempre pertenceu ao povo”, afirmou a secretária municipal de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli.
O que é Patrimônio imaterial?
O patrimônio imaterial é composto por práticas, saberes, expressões e celebrações que dão identidade a um povo e fortalecem o sentimento de pertencimento de uma comunidade. Em Campinas, esse tipo de patrimônio é protegido desde 2013 por meio do Programa Municipal de Patrimônio Imaterial, instituído pela Lei 14.701.
São considerados bens imateriais aqueles que representam a memória, a ação e os valores dos grupos sociais que formam a cidade, como festas populares, saberes tradicionais e manifestações artísticas.
O reconhecimento oficial acontece por meio de registro em livros específicos, e o processo deve contar com o consentimento da comunidade detentora da prática, garantindo a continuidade e valorização desses elementos culturais vivos.
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