Após uma temporada que deixou o torcedor de cabelo em pé, com vários resultados desagradáveis e briga constante contra o rebaixamento, a Ponte Preta iniciou o ano de 2022 com esperanças renovadas, especialmente pelas contratações de peso do zagueiro Dedé e do atacante Lucca, dois jogadores de alto nível dentro do futebol brasileiro. O cartão de visitas da nova diretoria capitaneada pelo presidente Marco Antônio Eberlin, com o ex-atacante Luís Fabiano na função de coordenador de futebol, não poderia ser melhor. A permanência do técnico Gilson Kleina, após salvar a equipe do descenso à Série C, também foi vista com bons olhos.
Com a bola rolando, a estreia com derrota incontestável por 3 a 0 para o Palmeiras, atual bicampeão da Libertadores, no Allianz Parque, deixou o torcedor pontepretano com uma pontinha de frustração, mas havia dois atenuantes claros: a pré-temporada prejudicada pelo surto de Covid-19 que tinha afetado grande parte dos atletas e a qualidade do adversário, que integra outra prateleira do futebol brasileiro e estava prestes a disputar o Mundial de Clubes. Os argumentos eram legítimos, mas muita coisa estava escondida por trás deles.
Na volta ao estádio Moisés Lucarelli após mais de dois meses, a torcida pontepretana matou a saudade da equipe no empate em 2 a 2 com a Inter de Limeira, mas deixou as arquibancadas com um misto de sensações: alívio pelo ponto salvo nos minutos finais com gol do artilheiro Lucca e decepção pela má atuação geral. Como era apenas o segundo jogo da temporada, o discurso de que o elenco havia sido reformulado e o time estava em processo de entrosamento ainda funcionava como muleta, embora até fosse aceitável àquela altura.
Logo na sequência, a vitória por 2 a 0 sobre o Novorizontino no Majestoso, a primeira na temporada, com uma exibição sólida e convincente, tratou de acalmar os ânimos, porém o tempo acabou mostrando que aquele resultado dizia mais sobre a equipe adversária do que o time de Gilson Kleina. Basta olhar a tabela do Paulistão para encontrar o Novorizontino na lanterna geral do campeonato, sem nenhuma vitória, com apenas dois pontos e um gol marcado em oito rodadas. Em suma, a Ponte Preta não fez nada além da obrigação.
Logo após a vitória sobre o Novorizontino, na noite do dia 2 de fevereiro, o presidente Marco Antônio Eberlin foi flagrado batucando no meio da torcida organizada da Ponte Preta, em ritmo de bateria de escola de samba, em frente ao portão principal do estádio Moisés Lucarelli.
A oscilação da Ponte Preta continuou com a derrota por 2 a 0 para o São Bernardo, em uma manhã de muita apatia no ABC Paulista, seguida pela vitória por 2 a 1 sobre a Ferroviária, em Araraquara. O gol salvador do recém-chegado atacante Ribamar no final do jogo tranquilizou a torcida e gerou novamente a falsa sensação de que a equipe estava entrando nos trilhos. Ledo engano. As derrotas consecutivas para São Paulo e Botafogo no Majestoso, com futebol paupérrimo, escancararam que o problema do barco pontepretano era falta de direção, e não de tempo.
A confiança numa guinada com um possível resultado positivo no Dérbi contra o Guarani, no Brinco de Ouro, ainda sustentava a permanência de Gilson Kleina no comando da equipe, mas o treinador não resistiu à derrota por 3 a 0 no Brinco de Ouro, a terceira consecutiva no campeonato. Bola cantada.
Às vésperas do Dérbi, um vídeo que mostra Marco Eberlin discutindo com membros da torcida organizada da Ponte Preta circulou nas redes sociais. Os torcedores reivindicavam a realização de um treino aberto antes do clássico contra o Guarani, mas Eberlin não liberou. As imagens, feitas na noite da derrota para o Botafogo, revelam um clima totalmente diferente da comemoração com batuques animados após a vitória sobre o Novorizontino, praticamente no mesmo local do estádio.
“O seu direito termina quando começa o meu. Sabe por que não vai ter treino aberto? Porque se vocês derem um calor nesse time, nós vamos perder de seis”, vociferou Eberlin, dirigindo-se ao grupo da organizada. “Ah, então você não confia no time que tem! Que presidente você é?”, retrucou um dos torcedores. O fim da gravação mostra Eberlin virando as costas e indo embora, deixando os torcedores.
A postura de Eberlin no bate-boca com os torcedores foi muito malvista pelo fato de expor as limitações da equipe, que apesar de evidentes, não deveriam ser externadas daquela maneira pelo comandante máximo do clube. No fim das contas, mesmo sem treino aberto, a Ponte Preta tomou 3 a 0 do Guarani e amargou a pior derrota em mais de 60 anos para o rival da cidade. E, acredite, não seria nenhum absurdo se o jogo realmente terminasse 6 a 0, de acordo com a profecia de Eberlin, tamanha a inércia da Macaca no clássico.
Simbólico, o placar do Dérbi 202 não refletiu apenas a superioridade da equipe bugrina dentro de campo, mas também a diferença dos dois clubes fora das quatro linhas há pelo menos dois anos. A impressão é que o Guarani progrediu e avançou várias casas, enquanto a Ponte Preta não saiu do lugar, apenas andou em círculos e voltou para o mesmo ponto. Neste contexto, a figura do técnico Gilson Kleina é emblemática. Em 2019, o treinador conduziu a Macaca em uma campanha medíocre na Série B, ganhou voto de confiança de uma nova diretoria para virar o ano no comando da equipe, mas não resistiu aos primeiros jogos da temporada e acabou demitido no meio do Campeonato Paulista. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Sem treinador na última partida contra o Cascavel, no Paraná, a Ponte Preta ainda sofreu eliminação precoce na Copa do Brasil, amargando a quarta derrota consecutiva, a terceira sem balançar as redes, e deixou de embolsar mais de meio milhão de reais. Mais uma estaca no coração ferido do torcedor pontepretano. Diante do grave cenário de crise, Marco Eberlin escolheu o técnico Hélio dos Anjos para a urgente correção de rota, a fim de evitar mais um fiasco, desta vez com proporções ainda maiores: o rebaixamento à Série A2.
Na última quinta-feira (24), conforme revelou em entrevista à web rádio Ponte News, Marco Antônio Eberlin recebeu membros da torcida organizada da Ponte Preta no Salão Nobre do Majestoso. Em tom pacífico e respeitoso, houve cobrança por parte da torcida e pedido de apoio por parte do dirigente. O encontro contou com a participação de jogadores como o atacante Lucca e o zagueiro Fabrício.
A instável relação entre Marco Eberlin e a torcida pontepretana viveu mais um capítulo e agora depende do desfecho do Campeonato Paulista para não degringolar novamente. Com a equipe nas mãos do técnico Hélio dos Anjos, o primeiro passo é vencer fora de casa o Mirassol neste sábado (25), às 18h30.