O Prêmio Sócrates foi a grande novidade da cerimônia de entrega da Bola de Ouro, ocorrida na última segunda-feira (17), em evento de gala realizado em Paris, organizado anualmente pela revista France Football. O principal troféu da noite ficou com o craque francês Karim Benzema, de 34 anos, eleito o melhor jogador do mundo na temporada 2021/22. Atual campeão europeu com o Real Madrid, ele desbancou o atacante senegalês Sadio Mané, ex-Liverpool, atualmente no Bayern de Munique, que ficou em segundo lugar, mas faturou a inédita honraria com o nome do craque brasileiro Sócrates, criada para premiar jogadores com engajamento social.
Um dos maiores talentos da história do futebol brasileiro, ídolo do Corinthians e líder do movimento que ficou conhecido como Democracia Corintiana, no início da década de 80, Sócrates também brilhou com a camisa da Seleção e disputou duas edições de Copa do Mundo, a primeira em 1982, na Espanha, e a outra em 1986, no México. Neste ínterim, em agosto de 1985, ele ficou a um passo de atuar no futebol campineiro, mas o que seria um presente de aniversário pelos 85 anos de fundação da Ponte Preta, acabou se tornando a negociação mais frustrada da história do clube, episódio que ficou conhecido como o “agosto do desgosto”.
Na ocasião, um imbróglio burocrático travou a operação liderada pelo célebre locutor esportivo campineiro Luciano do Valle, torcedor declarado da Macaca e um dos proprietários da empresa de marketing esportivo Luqui. Com apoio do então presidente pontepretano Luis Carlos Vacchiano, o objetivo era formar um consórcio de investidores para arrecadar um milhão de dólares, na tentativa de repatriar Sócrates, após uma temporada de pouco destaque no futebol italiano, defendendo a Fiorentina.
Na semana do aniversário da Ponte Preta, comemorado no dia 11 de agosto, Sócrates desembarcou no Brasil e vestiu a camisa do clube campineiro ainda no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, onde foi recepcionado por centenas de torcedores pontepretano. O meia chegou a dizer que o negócio estava 95% acertado, mas a transferência nunca se concretizou.
“Apesar de todos os esforços de Luciano do Valle e Carlos Vacchiano, a Ponte Preta não conseguiu formalizar a venda e a compra do atestado liberatório em razão dos prazos burocráticos, mas legais, já que a negociação envolve moeda estrangeira, cuja matéria é de competência exclusiva do Banco Central. A tramitação demanda cerca de dez a 15 dias até a final liberação, a ocorrer, portanto, após o término do prazo designado pela Federação Paulista de Futebol para o registro de jogadores”, explicou o então advogado de Sócrates, José Abud Jr., em artigo publicado na revista Placar, na edição nº 796, do dia 23 de agosto de 1985.
“Poderia a Ponte Preta efetuar o pagamento diretamente à Fiorentina, em dólares, mas tal medida é desaconselhável por ser ilegal. Portanto, a situação chegou a uma situação irreversível e final”, acrescentou o advogado, em artigo redigido para a Placar. As cifras da contratação, que acabou melando, giravam em torno de 600 mil dólares para um contrato de 16 meses, desde que os salários fossem pagos pela Ponte.
O desfecho negativo da história acabou levando à renúncia o presidente pontepretano Vacchiano, enquanto Luciano do Valle, durante muitos anos, encontrou problemas para trabalhar em jogos da Macaca no estádio Moisés Lucarelli.
Sócrates acabou se transferindo para o Flamengo, depois jogou no Santos e encerrou a carreira exatamente onde começou: no Botafogo, de Ribeirão Preto. Ele faleceu no dia 4 de dezembro de 2011, em São Paulo.
Nascido no dia 19 de fevereiro de 1954, em Belém do Pará, Sócrates começou a carreira de jogador de futebol no Botafogo, de Ribeirão Preto, onde se profissionalizou no fim de 1973, porém sem abandonar o curso de Medicina que havia iniciado no início daquele ano, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, concluindo a graduação em 1977. Por esse motivo, ele era conhecido pelo apelido de Doutor Sócrates. O Dia do Médico é comemorado no Brasil nesta terça-feira (18).
No fim das contas, o maior prejudicado foi o torcedor pontepretano, que acabou privado de ver um grande ícone do futebol brasileiro em ação com a camisa do clube. Um ano depois, no entanto, a Ponte Preta trouxe um jovem jogador chamado Raí, irmão mais novo de Sócrates, que também havia começado a carreira no Botafogo, de Ribeirão Preto, e se tornaria um dos grandes jogadores da história do futebol brasileiro, com passagem de grande destaque pelo São Paulo. Foi ele, inclusive, o escolhido para entregar o Prêmio Sócrates a Sadio Mané.