Num mundo onde parte da sociedade vive na bolha do negacionismo, ignorando o valor da ciência e da construção do conhecimento, vale a pena ser exaltada a homenagem promovida em Campinas, na sede do IAC, pela empresa Daterra Coffee a pesquisadores do café brasileiro, na tarde desta quarta-feira, 13 de novembro.
Foi um reconhecimento, à altura de toda uma vida de trabalho, ao legado de pesquisadores na árdua tarefa de buscar o melhor café possível, dentro do manejo mais adequado e seguindo rigorosos padrões de qualidade. Uma variedade de café, muitas vezes, só é completamente maturada e acabada após 30 anos de pesquisas.
Trata-se de um contraponto aos tempos atuais, bastante fluidos e imediatistas. A ciência precisa de tempo e de investimento. Muitas vezes, ela não consegue nem um nem outro. Mas a homenagem coloca nos devidos lugares a importância de se buscar a excelência por meio da educação, do ensino, da aprendizagem, da pesquisa e do labor.
O evento no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) homenageou e premiou 16 pesquisadores, em reconhecimento às contribuições que fizeram para o café brasileiro e global.
Também foram concedidas bolsas de estudo a três jovens pesquisadores para garantir o futuro da ciência do café. Além das homenagens e premiações, houve uma breve degustação dos cafés especiais da Fazenda Daterra.
A empresa, antiga parceria do IAC e incentivadora da pesquisa, pertence a um empresário que pode ser considerado uma joia rara do segmento. Luis Norberto Pascoal é incentivador de outras áreas nobres do conhecimento, como a educação e o jornalismo. Sua vida carrega propósitos, além da bem-sucedida rede empresarial que construiu ao longo da vida, junto com a sua família e centenas de colaboradores.
A homenagem prestada pela Daterra no IAC emocionou uma plateia de pesquisadores, familiares e convidados. Ali estava a certeza de que vale a pena, sim, dedicar seu conhecimento e sua vocação ao universo da pesquisa, mesmo que isso leve uma vida inteira.
Parte dos pesquisadores que subiu no palco do anfiteatro, com seus cabelos brancos, carregava uma história. O olhar de satisfação e de gratidão era evidente.
O reconhecimento aos pesquisadores ocorreu em um momento de apreensão na comunidade científica regional. A possibilidade de venda de parte da fazenda do IAC, admitida pelo governo estadual, preocupa pesquisadores da área.
Em seu discurso, Luis Norberto exaltou os homenageados e os seus legados. E deixou um recado: a operação de venda da terra no IAC, se concretizada, extrapolaria a questão comercial. “Não é sobre terra, é sobre filosofia”, observou, colocando-se como aliado da pesquisa na defesa do instituto.
Os aplausos efusivos dos cientistas, ao final da fala do empresário, traziam uma certeza: a de que não estavam sozinhos na luta.