Reportagem especial de
Eduardo Martins e Gustavo Magnusson
Neste mês de março, o futebol brasileiro completou um ano sem torcida nos estádios, em virtude das restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus. Um ano singular, sombrio, em que o próprio futebol e os torcedores forçosamente reinventaram a forma de acompanhar os clubes do coração. O Hora Campinas mostra, em uma série de quatro reportagens, histórias de bugrinos e pontepretanos para reforçar que uma paixão repousa, mas não morre. Que o futebol é alento e esperança. São tempos difíceis, porém, ainda há alegria em ver a bola rolar. Da maneira que der. Acompanhe a seguir o quarto (e último) capítulo, sobre José Ricardo Mariolani, um torcedor apaixonado que faz e conta a história.
Frequentador do Brinco de Ouro desde os quatro anos de idade, José Ricardo Mariolani, de 61 anos, conheceu o Guarani por meio do avô e do pai, que o colocou ainda criança como sócio do clube. Desde então, leva o Guarani no coração e está com saudade de voltar ao estádio para apoiar o clube que tanto ama. Fanático pelo Alviverde, Mariolani lembra que quando tinha 15 anos se propôs a não perder mais nenhum jogo do Bugre e até antes da pandemia só deixou de comparecer ao estádio por motivos como viagem, saúde ou trabalho.
“Desde que fui ao Brinco pela primeira vez, nunca havia ficado tanto tempo sem ver um jogo lá. Para você ter uma ideia, o último jogo que eu havia perdido (antes da pandemia) no Brinco fora em 2015, o penúltimo em 2011 e o antepenúltimo em 2005”, pontua o apaixonado torcedor alviverde.
Mariolani lembra que acompanhou das arquibancadas momentos de glória do Guarani. Desde a década de 1970, o fanático participou de caravanas para as partidas fora do estado de São Paulo e viveu de perto campanhas históricas do Alviverde, como a conquista do título brasileiro de 1978.
O último jogo com presença de público no Brinco foi em 28 de fevereiro de 2020, no empate por 0 a 0 com o Água Santa, pelo Paulistão. Já a última vez que o Moisés Lucarelli recebeu torcedores foi no dia 12 de março, quando a Ponte bateu o Afogados-PE por 3 a 0, pela Copa do Brasil.
“Eu participava de caravanas quando era mais novo, fui diminuindo as viagens depois que casei. Estive na semifinal contra o Vasco em 1978 e depois no primeiro jogo contra o Palmeiras na final do Campeonato Brasileiro. Também estive no Maracanã no jogo com o Flamengo em 1982, fui no Mineirão jogo com o Atlético-MG em 1987. Mais recentemente estive na final do Paulistão de 2012 no Morumbi e na final da Série C de 2016 contra o Boa, em Varginha”, destaca.
Durante a campanha na Libertadores de 1979, quando o Guarani chegou até a semifinal, o torcedor estava preparado para viajar e acompanhar os dois jogos da final, porém, o Alviverde acabou eliminado na semifinal. “Eu não cheguei a viajar fora do Brasil em 1979, na época ainda não trabalhava, mas fui no jogo contra o Palmeiras, no Morumbi, quando goleamos por 4 a 1”, afirma.
Torcedor e historiador
Formado em engenharia mecânica, Mariolani tem como hobby estudar a história do Guarani e é o responsável pelo portal Jogos do Guarani (jogosdoguarani.com), acervo histórico com resultados e ficha técnica de partidas do Bugre que aconteceram a partir de 1960.
“Comecei a anotar as fichas técnicas em 1976, mas eu anotava só para mim. Aí quando surgiu a internet, resolvi colocar o que já tinha anotado, fazer um site e coloquei no ar em 2002. Coloquei tudo que já tinha anotado em 1976, fui atualizando e passei a procurar as fichas mais antigas”, relembra.
“A FPF lançou uma coleção de livros, chamada O Caminho da Bola, que tem todos os jogos desde 1902. De lá tirei várias fichas, faço pesquisas em acervos on-line e biblioteca nacional para recuperar as fichas mais antigas. Realmente é algo que eu faço por hobby, nada profissional”, finaliza o historiador.