Os riscos de episódios de violência nos atos previstos para este 7 de setembro são grandes e decorrem da estética bolsonarista – segundo avaliação do professor do Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH-Unicamp), Wagner de Melo Romão.
“Toda estética, as ações, o estímulo ao uso de armas, os discursos de enfrentamento, as narrativas de ódio, da desqualificação das instituições, como o STF, por exemplo, tudo gera medo”, diz o cientista político.
“Nós tivemos essa semana, informações de caravanas de policiais indo para Brasília. Existe, de fato, um clima de insegurança que cerca as manifestações deste 7 de setembro”, conclui.
Romão avalia que o resultado das manifestações desta terça (7) – com muito ou pouco público a favor do presidente – pouco vai mudar a narrativa bolsonarista.
“Seja qual for o resultado, a narrativa será a de sucesso. Não importa se tiver 100 mil em Brasilia e 500 mil na Paulista, ou se foram 10 mil ou cinco mil. A imagem já está dada”, diz ele.
“Nós vimos isso com a motociata, que teve gente falando que havia 1 milhão, quando na verdade, se descobriu depois que eram perto de seis mil”, lembra. “Isso (os números) não importa porque ele (presidente) fala para a base dele”.
Romão avalia que não há indícios de um golpe de estado no Brasil no curto prazo. “Se tiver pouca gente nos atos desta terça (7) o risco de golpe me parece que fica menor, mas na verdade, um golpe não se dá num dia. Ninguém anuncia na véspera que vai dar um golpe. Ele acontece e num momento em que as condições estão maduras”, explica.
Para o professor da Unicamp, o discurso de Bolsonaro de desqualificação das instituições vem já de algum tempo e isso pode ser a base de um golpe. Ele lembra os discursos contra a urna eletrônica, as tentativas de pressão sobre ministros do STF, e investidas contra parte da classe política e da imprensa.
“Não haverá tomada de poder, com fechamento do Congresso e apoio das Forças Armadas. Isso virá ao não aceitar o resultado das eleições”, acredita Romão.
O professor do Centro de Linguagem e Comunicação da PUC-Campinas, Victor Corte Real, também não vê possibilidade de golpe já. “Do jeito que as coisas vão, se houver alguma tentativa, será só depois das eleições do ano que vem”, acredita ele.
O cientista político Christian Lynch, por sua vez, disse à BBC News que o tensionamento que se verifica nas relações do presidente com as instituições tem mais a ver com uma blindagem de si e de seus filhos, que propriamente uma estratégia golpista.