Chegou cansado do trabalho e resolveu “pular” a escovação noturna (só mais uma vez)? Notou uma retração na gengiva, mas está ignorando (afinal, “antes de casar, sara”)? Percebeu a formação de abscessos com pus na boca, porém acredita que ainda não é o caso de ir ao dentista?
Este texto é um alerta para quem respondeu com sim ao menos para uma das perguntas acima. Isso porque, apesar da tendência da maioria das pessoas de “amenizar” problemas relacionados à saúde bucal, o assunto é sério e pode afetar até mesmo os pulmões e o coração. Estimativas da OMS (Organização Mundial de Saúde) consideram que agravos bucais atinjam cerca de 3,5 bilhões de pessoas no mundo, número que reforça o alerta.
A recorrência de casos da doença periodontal, quando não tratada, pode desencadear uma série de outros diagnósticos, sem falar na perda dos dentes.
“A principal característica da doença periodontal é o fato de que ela não atinge especificamente o dente. Trata-se de um problema que afeta os tecidos que estão ao redor dele e que garantem a sua sustentação e proteção, ou seja, o periodonto, composto pela gengiva, ligamento periodontal e o osso alveolar”, explica o cirurgião dentista Edinei Dias.
“Mas é importante dizer que, além dessas complicações restritas à cavidade bucal, a doença periodontal está relacionada com complicações sistêmicas. Isso porque as bactérias que se proliferam no local afetado podem migrar para o organismo, atingindo os pulmões e o coração. Isso pode, por exemplo, desencadear a endocardite bacteriana e favorecer a instalação de outras infecções”, completa Dias, graduado em Odontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O especialista explica, para quem está se perguntando sobre as causas, que a doença periodontal não se manifesta como um problema primário. Ou seja: é diretamente associada ao acúmulo da placa bacteriana (biofilme) que, por sua vez, é consequência do descuido com a higiene bucal e com a falta de manutenção da dentição junto ao dentista.
“Isso porque, se a placa bacteriana não é devidamente removida por meio da escovação, ela sofre um processo de mineralização com passar do tempo. Consequentemente, desenvolve-se uma gengivite, que é uma inflamação que fica restrita ao tecido gengival.”
Desse modo, a falta de tratamento desse processo inflamatório evolui para a instalação dessa mesma inflamação nos tecidos periodontais, desenvolvendo a doença periodontal. Nesse caso, trata-se de um quadro geralmente crônico e muito mais extenso do que o primeiro.
Nesta fase, o não tratamento traz consequências sérias como retração gengival; reabsorção dos tecidos periodontais; formação de abscessos com pus; mobilidade dentária; e mesmo a perda do elemento dentário. “Por ser um problema geralmente crônico, ela não desencadeia a dor, mas apresenta sintomas característicos como o sangramento. Além disso, conforme o problema evolui, ocorre ainda a reabsorção dos tecidos do periodonto, entre outras consequências”, ressalta.
Será que eu tenho periodontite?
Existem alguns grupos de risco, ou seja, pessoas com maior propensão para o desenvolvimento do problema. Entre os fatores que aumentam as chances do diagnóstico estão o hábito de fumar ou mascar tabaco ou mesmo de cigarro eletrônico/vape; alterações hormonais na gravidez ou menopausa; deficiência de vitamina C; doenças como diabetes, obesidade e artrite reumatoide; ou mesmo uso de anticoncepcionais orais e remédios que reduzam a produção de saliva, como anti-histamínicos, antidepressivos ou anti-hipertensivos.
“Além disso, fatores genéticos ou doenças que afetam o sistema imunológico, como infecção pelo HIV ou leucemia, também podem aumentar o risco de desenvolvimento da periodontite. Quando esses fatores ou indicadores de risco são associados ao acúmulo da placa bacteriana e do tártaro, as chances de a doença periodontal se manifestar são muito maiores. Afinal, há uma condição propícia para a instalação da inflamação”, alerta.
Outra dica é estar atento aos sinais e sintomas que indicam a necessidade de recorrer a um profissional da doença periodontal como: sangramento gengival espontâneo ou ao escovar ou mastigar; mau hálito; alteração da tonalidade da pele; vermelhidão das gengivas; mudanças na textura do tecido interno da boca; inchaço gengival; e sensibilidade dental.
A recomendação é ir ao dentista com certa regularidade, ao menos uma vez a cada seis meses. “No entanto, quando o paciente tem uma propensão maior para doença periodontal, ele pode ser aconselhado a passar pela profilaxia dentária ou raspagem a cada quatro meses.”