O portal Hora Campinas publica nesta semana entrevistas com os candidatos ao governo do estado mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais. Para todos eles foram feitas as mesmas dez perguntas, que tratam de temas importantes para a Região Metropolitana de Campinas (RMC). O primeiro candidato é Fernando Haddad (PT), atual líder nos agregadores de pesquisas.
O ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo afirma que o conhecimento produzido pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) transforma a vida das pessoas para melhor. Por isso, pretende aumentar os recursos para a instituição e vai contar com o conhecimento que é produzido lá para ajudar na reindustrialização do estado.
No campo da saúde, caso eleito, o candidato aposta na implantação do conceito do Hospital Dia para consultas com especialistas e cirurgias eletivas de caráter ambulatorial, que, segundo Haddad, deve diminuir as filas de atendimento e desafogar outros equipamentos como a Unicamp.
“Vamos dar total atenção às necessidades dos hospitais regionais e, em paralelo, criar um cinturão de estruturas que contribuam para aliviar a demanda e atender com mais agilidade a população. O projeto do Hospital Dia é uma alternativa eficaz e viável para isso”, aponta.
Ainda segundo o candidato, o projeto do Trem Intercidades sairá do papel em um eventual governo seu, porque o estado já não comporta mais rodovias.
Haddad ainda traçou planos para a segurança pública e empregabilidade, afirmando que, independentemente de divergências político-partidárias, dialogará com os prefeitos para melhorar as condições das cidades paulistas.
CONFIRA A ENTREVISTA COM O CANDIDATO:
Hora Campinas – O longo tempo de espera e a baixa qualidade nos atendimentos são alguns dos problemas da Saúde. Qual o modelo que será aplicado para resolver essas e outras deficiências ligadas ao setor, como a falta de estrutura para exames, por exemplo? Para Campinas, há algum projeto específico nessa área?
Fernando Haddad – Vamos trazer para o Interior a experiência do Hospital Dia. São equipamentos onde você faz o exame, a consulta de especialidades e cirurgias eletivas de caráter ambulatorial, que são aquelas que você não precisa de internação. Se tiver uma unidade dessas para cada 400 mil habitantes, dá para desafogar o hospital regional e faz a fila do SUS andar numa velocidade muito maior. Na cidade de São Paulo, entregamos 21 unidades e podemos levar esse conceito também para os demais municípios, inclusive para a região de Campinas, que é muito populosa e carente de mais atenção na área da Saúde. Minha proposta é implementar 70 Hospitais Dia em todo estado, sendo 60 no Interior e 10 na Região Metropolitana de São Paulo.
O paulista ainda tem sofrido com o abandono das Santas Casas, que chegaram a ter cortes de 12% pelo governo do Estado.
Nós vamos mudar isso e devolver o respeito que elas merecem por seu papel social importantíssimo. Não podemos esquecer que também é preciso investir em novos equipamentos e valorizar os profissionais de Saúde locais, que se dedicam com muito esforço e, muitas vezes, sem o devido reconhecimento profissional e financeiro. Temos que sentar e estabelecer um plano de valorização profissional para os servidores.
A Unicamp é referência na área de saúde para diversos municípios da região de Campinas. Há um planejamento visando a ampliação de recursos para o Hospital de Clínicas da Unicamp?
O Hospital de Clínicas da Unicamp é uma referência nacional – e diria até internacional – de qualidade e atendimento. Sabemos que muitos municípios menores, sem a mesma estrutura para atender a sua população, acabam recorrendo a locais como o HC. Se eleito, vamos dar total atenção às necessidades dos hospitais regionais e, em paralelo, criar um cinturão de estruturas que contribuam para aliviar a demanda e atender com mais agilidade a população. O projeto do Hospital Dia é uma alternativa eficaz e viável para isso.
Além disso, vamos garantir o acesso da população carente a medicamentos, apoiando os municípios no abastecimento de remédios básicos – o programa Dose Certa – com a reorganização das Farmácias Regionais de Medicamentos Especializados de alto custo.
Também vamos desenvolver o que chamamos de Complexo Econômico e Industrial da Saúde paulista, a partir do uso do poder de compra pública do SUS.
Fortalecer os Institutos de Pesquisa, como o Butantã, Pasteur e Adolfo Lutz é outra camada de atuação nessa política de resgate de uma saúde de qualidade em São Paulo.
Existe algum projeto que o senhor planeja implantar utilizando como recurso uma parceria com a Unicamp? E de que maneira o senhor pretende utilizar a Unicamp para contribuir na solução de problemas na região de Campinas?
Um quarto da produção científica latino-americana é produzida aqui em São Paulo, em nossas universidades. Nós vamos reindustrializar o estado com o conhecimento produzido nas nossas universidades.
A Unicamp é, historicamente, um patrimônio brasileiro e internacional.
Dela saem profissionais que contribuem para o desenvolvimento do País e até do Exterior, transformando a vida das pessoas para melhor. Sendo assim, a universidade será uma parceira constante em nosso governo, tanto na formação de profissionais de qualidade quanto como um centro de pesquisas e novas ideias.
Hoje, o repasse dos 9,57% do ICMS-Quota-Parte do Estado é a principal fonte de financiamento das universidades estaduais paulistas e isso não é o suficiente. Então, vamos trazer mais recursos para a Unicamp fazer ainda mais por São Paulo, pelo Brasil e pelo mundo.
A Região Metropolitana de Campinas tem sofrido com a criminalidade e o feminicídio tem se tornado cada vez mais comum. Como o senhor pretende gerir a segurança pública e enfrentar essas questões mais específicas?
O aumento no número de roubos e furtos durante a pandemia reacendeu o debate sobre Segurança Pública no Estado de São Paulo. Para nós, o sério combate a esse problema passa pela valorização salarial dos policiais aliada a um plano de metas para combater a criminalidade.
Vamos acabar com o desmonte das corporações, começando pela criação de um Plano de Carreira para esses profissionais.
Vamos Implementar o Policiamento de Proximidade (Policiamento Preventivo e Comunitário), com centenas deles nas regiões com maior índice de crimes e priorizar o enfretamento às organizações criminosas, com criação de uma Força Tarefa Permanente envolvendo as polícias civil e militar, Ministério Público, Receita Federal e Polícia Federal, mapear o dinheiro do crime e atuar nas estruturas de comando das organizações criminosas são exemplos disso.
Vamos investir no Departamento de Crimes Cibernéticos para enfrentar os golpes nas redes sociais, tais como as quadrilhas do PIX e fake news.
Sou ainda totalmente a favor das câmeras nos uniformes da PM, isso reduziu a letalidade policial em São Paulo, inclusive.
Queremos expandir e qualificar as Delegacias de Defesa da Mulher – para um maior enfrentando ao feminicídio -, dar um padrão Poupatempo a delegacias em geral, recompor os quadros da Polícia Civil, que foi sucateada, além de redistribuir os efetivos policiais no estado.
ICMS e IPVA são impostos que têm corroído a renda das famílias, principalmente no momento atual em que os salários estão achatados. Existe alguma alternativa para a diminuição dos valores dos impostos?
Em primeiro lugar, quero dizer que, caso seja eleito, vou aumentar o salário-mínimo paulista para R$ 1.580,00 e zerar o ICMS da cesta básica e da carne. A economia só vai funcionar aumentando o poder de compra do trabalhador, que precisa ter comida na mesa para ele e sua família.
Outra medida é destinar 100% dos recursos da Nota Fiscal Paulista para a área da Saúde no estado.
A informalidade tem tomado conta do mercado de trabalho e em Campinas isso é muito evidente. De que forma o estado pode ser um indutor da economia para gerar emprego e renda na região, que é rica nos setores de indústria e serviço?
Com mais de 3,5 milhões de desempregados, o Estado de São Paulo precisará de medidas urgentes e inovadoras para superar a crise. A solução passa pela criação do Sistema Estadual de Inovação (SEI). A iniciativa reunirá toda produção científica paulista – sobretudo a feita pelas universidades – para gerar empregos e atrair de volta as empresas que fugiram de São Paulo durante a pandemia, além colocar a gestão em sintonia com o que há de mais moderno em tecnologia e sustentabilidade.
O setor privado também terá papel fundamental no SEI para criar um ambiente de negócios e atrair empregos de qualidade para a população.
Queremos dar um choque de inovação em São Paulo, que tem toda a capacidade de liderar o Brasil nessa sólida retomada. Vamos também retomar as mais de 800 obras paradas e fazer a economia girar e gerar empregos.
Como o senhor pretende superar as divergências ideológicas que possam surgir na relação com os prefeitos nesse momento de polarização política, de modo que a população não seja prejudicada?
Assim como fiz quando prefeito e na gestão do Ministério da Educação, vou manter o diálogo com todos os municípios. À frente do MEC assinamos convênios não só com os 645 municípios paulistas. Nossa missão, na época, era identificar em cada município qual a vulnerabilidade educacional. Temos um estado diverso e forte, vamos unir nossas capacidades para construir um caminho de mais prosperidade para todos.
O trem intercidades que ligará Campinas a São Paulo sairá do papel no seu governo? De que forma ele pode ser implantado?
Uma das prioridades na área da Mobilidade, caso eleito, é tirar do papel o aguardado projeto de trem intercidades. Nós vamos fazer os trilhos interurbanos. Campinas também tem um centro tecnológico importante, como a Unicamp, e um polo industrial muito representativo. Sendo assim, nós precisamos ligar a Capital com Campinas para que essa integração aconteça de fato.
Vamos criar um novo traçado paralelo ao já existente para cargas. O projeto é totalmente viável.
Após a conclusão do trecho Campinas-São Paulo, será a vez de São José dos Campos, Baixada Santista e Sorocaba também terem suas regiões contempladas.
O transporte ferroviário é mais barato e polui menos numa comparação com o transporte rodoviário. Existe algum planejamento para o aproveitamento maior desse tipo de transporte, levando-se em conta também a saturação do sistema viário de São Paulo?
Fomentar a criação de uma rede ferroviária intermunicipal de passageiros, integrando as cidades da macrometrópole paulista é uma das nossas prioridades, como disse na pergunta anterior. Vamos criar uma nova rede de transportes ferroviário com trens de média velocidade. A macrometrópole paulista, da qual faz parte Campinas, possui 173 municípios e população de 30,5 milhões de habitantes. Se não apostarmos nos trens não haverá saída. São Paulo não suporta mais rodovias. Com isso, garantimos ganhos de eficiência, produtividade e combate às mudanças climáticas.
Qual a sua mensagem para a população de Campinas e região?
Eu quero dizer que Campinas e região sempre foram, e continuam sendo cada vez mais, muito importantes em todos os aspectos do desenvolvimento do Estado de São Paulo. Historicamente, na economia, na cultura e esporte, no avanço tecnológico, no modo de sempre buscar o novo e o melhor. Nos últimos anos, foram espalhadas praças de pedágios pelas cidades e pouco se fez para garantir empregos, saúde, moradia e segurança.
Caso eleito, quero a região de Campinas ao nosso lado para fazer de São Paulo um estado forte novamente, referência no Brasil e no mundo.