Após 30 horas de trabalho, divididos em turnos nos dois empregos que tem, a enfermeira Viviane Ferreira Pimentel, de 41 anos, emprega recorrentemente as palavras amor, carinho e dedicação ao falar da profissão que escolheu. A entrevista que antecede o esperado descanso é animada, a conversa se estende e os adjetivos se somam para compor a matéria que falará sobre o dia deles, os profissionais da enfermagem. Pela disposição de Viviane, 30 horas de jornada pareciam 30 minutos.
O fôlego desses profissionais não se esgota. O empenho reconhecido justifica o fato de que três nomenclaturas diferentes homenageiem a mesma profissão. Doze de maio é o Dia Mundial do Enfermeiro, Dia Internacional da Enfermagem e Dia do Trabalhador da Saúde – este, estabelecido por decreto municipal.
Viviane é uma enfermeira com 15 anos de experiência, funcionária do Hospital Ouro Verde, em Campinas, que se dedica a dois empregos no momento em que a saúde é testada ao limite. A rotina dela é semelhante à da maioria de seus colegas de profissão. Ela poderia até ser um personagem fictício para simbolizar o esforço de quem escolheu a enfermagem como orientação de vida – sim, enfermeiros são mais que trabalhadores essenciais.
“Nós interagimos diretamente com pacientes, olhamos nos olhos deles, pegamos em suas mãos, recebemos carinho, estamos ali sempre para dar algo além de cuidados”, descreve Viviane Ferreira Pimentel, profissional da linha de frente da Covid.
A pandemia, lembra Viviane, trouxe para a vida real tudo o que havia estudado e lido sobre as grandes crises mundiais da saúde. Também confirmou a larga diferença entre a teoria e a prática. “Nunca imaginei que um dia vivenciaria algo parecido com o que tinha estudado em livros. Tudo é novo, desconhecido. Olho nos olhos dos pacientes e vejo o medo que o desconhecido desperta”.
A história que transcorre agora, diz Viviane, salienta a dedicação profissional que sempre existiu. Traz gratidão, afeto, homenagens, porém, não reconhecimento concreto. “Acho que é cultural não valorizarem nossa profissão. Precisaríamos ser vistos por outros olhos. A dupla jornada não é opção, é necessidade. Gostaria que isso mudasse depois da pandemia.”
“Quem escolhe a enfermagem, escolhe porque gosta da profissão, mesmo sabendo tudo o que vem com ela”, diz Ananda Evelyn, técnica de enfermagem
Ananda Evelyn Rodrigues Gonçalves, de 31 anos, é técnica de enfermagem no Ouro Verde. Admite a amplitude das dificuldades e das qualidades, o peso que vem junto com a dor dos outros, a responsabilidade por nunca poder errar. E não mudaria nada na vida. “Quem escolhe a enfermagem, escolhe porque gosta da profissão, mesmo sabendo tudo o que vem com ela”, observa. Amanda tem tanta certeza de que fez a escolha certa, que atualmente cursa faculdade de enfermagem, para ratificar a primeira opção profissional. Também é voluntária na maternidade de Americana, como doula, e ajuda mulheres nas técnicas para amamentação.
A disposição para tantas tarefas vem de um lugar que fica além do que é descritível. “Há uma força interior nos profissionais da enfermagem, algo que nos leva a ajudar os outros. Creio que existe um campo energético que nos envolve para passar coisas positivas aos pacientes.”
Ao responder à pergunta sobre o que há de peculiar no trabalho da enfermagem, Luciana Dias, coordenadora de práticas de assistência do Centro de Oncologia Campinas, resume: “Diferença não há. É gente que cuida de gente, só que estamos presentes em todas as etapas da vida. Empregamos a técnica, e também outras habilidades do ser humano”, descreve, para estabelecer a relação de humanidade na própria extensão do serviço prestado.
“O amor ao próximo faz toda a diferença no nosso trabalho”, conta Andréia Cristina da Costa
Além dos processos técnicos, sensoriais e científicos, há muito amor envolvido no trabalho da enfermagem, atesta Andréia Cristina da Costa, coordenadora de enfermagem do Hospital Ouro Verde. “O paciente fica sempre em nossas mãos. Temos a formação, o conhecimento, mas precisamos buscar todos os meios possíveis para ajudar. O amor ao próximo faz toda a diferença no nosso trabalho.”
Assim como Viviane, Andréa torce por um futuro de reconhecimento para a área da enfermagem, algo à altura do comprometimento exigido, como salários compatíveis à responsabilidade de trabalhar pela vida.