Faleceu nesta segunda-feira (30), em sua casa, no Rio, aos 88 anos, o ator e diretor Milton Gonçalves. Ícone da TV brasileiro, ele convivia com sequelas desde que sofreu um Acidente Vascular Cerebral isquêmico, em 2020. Na época, ficou três meses internado. O velório e o enterro serão nesta terça-feira (31), no Teatro Municipal do Rio.
Mineiro de nascimento, o ator estreou no teatro, em 1958, e sete anos depois, na Globo. Participou de mais de 40 novelas apenas na emissora. Também atuou em programas humorísticos e minisséries de sucesso, como as primeiras versões de “Irmãos Coragem” (1970); “A Grande Família” (1972); e “Escrava Isaura” (1976).
“Um mestre em sua arte e trajetória. A cultura desse país sente sua partida, Milton Gonçalves. Descanse”, escreveu a atriz Ingrid Guimarães. Lázaro Ramos postou fotos ao lado do amigo e colega de trabalho. “O coração está pequeno agora. Choro com sua partida. E agradeço imensamente todos os caminhos que o senhor abriu pra nós”, disse.
Zezé Motta foi outra a postar nas redes sociais: “Foram muitos sets juntos, muitas histórias, muitas famílias… Nosso último trabalho juntos foi no Especial ‘Juntos a magia acontece’, que ganhou prêmio em Cannes. Descanse em paz meu querido colega. Obrigada por tanto, você é eterno. Você é referência.”
“Uma grande perda para a arte brasileira. Meu abraço na família e amos desse grande ator. #MiltonGoncalves”, tuitou Daniela Mercury. O nome do artista chegou a ficar em primeiro lugar nos assuntos mais comentados do Twitter.
A última participação de Milton Gonçalves em novelas foi em “O Tempo Não Para”, de 2018, quando interpretou Eliseu, um catador de recicláveis.
Carreira
Nascido em 9 de janeiro de 1934, na pequena cidade de Monte Santo, em Minas Gerais, filho de camponeses, mudou-se com a família ainda pequeno para São Paulo, onde foi aprendiz de sapateiro, de alfaiate e de gráfico. Fez teatro infantil e amador e estreou profissionalmente em 1957, no mítico Teatro de Arena, na peça Ratos e Homens. Depois de uma turnê nacional, decidiu morar no Rio.
“Sofri todos os percalços entendendo, mas não concordando, com o preconceito racial, que foi um trauma na minha vida. Assim, o teatro para mim foi a grande salvação”, revelou, em entrevista ao site Memória Globo.
Milton participou do primeiro elenco de atores da Globo. Ele chegou à emissora a convite do ator e diretor Otávio Graça Mello, de quem fora companheiro de set no filme Grande Sertão (1965), dos irmãos Geraldo e Renato Santos Pereira. Dirigido por Graça Mello, participou das primeiras experiências dramatúrgicas da Globo: o seriado Rua da Matriz, de Lygia Nunes, Hélio Tys e Moysés Weltman, e a novela Rosinha do Sobrado, de Moysés Weltman.
Estreou como diretor de TV na novela Irmãos Coragem (1970), de Janete Clair. A partir daí, esteve em várias produções da emissora: foi o Professor Leão, do infantil Vila Sésamo (1972); o médico Percival, de Pecado Capital (1975); o Filé, de Gabriela (1975), de Walter George Durst; dirigiu os primeiros capítulos da novela Selva de Pedra (1972), de Janete Clair; e, em Roque Santeiro (1985), de Dias Gomes, interpretou o promotor público Lourival Prata.
Milton também participou de uma vasta produção cinematográfica. Foram mais de 50 títulos como Cinco Vezes Favela (1962), Gimba, presidente dos Valentes (1963), A Rainha Diaba (1974), O Beijo da Mulher Aranha (1985), O Que É isso, Companheiro? (1997), Carandiru (2003).
Em 2011, trabalhou na novela Insensato Coração, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, como Gregório Gurgel. No ano seguinte, voltaria a atuar numa trama de época, ao interpretar o Afonso Nascimento, em Lado a Lado, novela de João Ximenes Braga e Claudia Lage, que ganhou o prêmio Emmy Internacional. Participou ainda de Pega Pega (2017), como Cristovão, e de O Tempo não Para (2018), como Eliseu.
Milton teve passagens pela política, sendo candidato ao governo do Rio, em 1994. Foi também superintendente da Rádio Nacional, nos anos 1980. “A Rádio Nacional é a rádio que estava na minha infância. Eu ouvia suas novelas, com minha mãe passando roupa, com aquele ferro quente à brasa. Era uma rádio que chegava no Brasil inteiro.”