O alto endividamento das famílias e a dificuldade das construtoras em adquirir terrenos a preços acessíveis para seus empreendimentos causam preocupação no setor de construção civil da região de Campinas. Apesar da perspectiva de crescimento do PIB da construção em 2022, o diretor da Regional Campinas do SindusCon-SP, Marcio Benvenutti, acrescentou que essa tendência deve se manter no segundo, principalmente pela instabilidade em função das eleições.
O PIB da construção pode crescer pelo menos 3,5% em 2022, mas a grave situação macroeconômica atual lança um elevado grau de incerteza sobre o desempenho do setor em 2023. Essa foi a sensação dominante na Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP, conduzida por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia, com a participação de Odair Senra, presidente da entidade.
De acordo com Zaidan, a indústria da construção ainda vive um bom momento em função dos negócios celebrados no passado. Já a contratação de novas obras ocorre em um momento conturbado politicamente e economicamente, nos cenários doméstico e mundial.
Em relação aos preços dos insumos da construção, ele considera que não haverá muitas mudanças, numa conjuntura em que a desoneração dos combustíveis só vai até o final do ano.
“O ano que vem não será fácil para ninguém”, comentou.
O professor da FGV Robson Gonçalves apresentou análises de diversos economistas, mostrando, de um lado, a dominância monetária: inflação e juros em elevação refletem no risco-país, nos fluxos de capital e na taxa de câmbio, retroalimentando a inflação; e de outro lado, a dominância fiscal, pela qual a percepção de descrédito motivada por este cenário pelos agentes econômicos também reflete naqueles fatores e alimenta a inflação.
O rombo do teto de gastos piora esse cenário e o teto acaba se mostrando inútil como âncora fiscal.
Robson pontuou que, embora os preços das commodities e do petróleo tenham caído, persiste a incerteza em relação ao câmbio, e o clima interno não contribui para uma desejada queda dos preços.
Segundo ele, há grande incerteza em relação a 2023, alimentada pela polarização das candidaturas à Presidência da República, as quais, segundo ele, mostram um discurso populista vazio, e tudo isso acontece num contexto da alta dos juros nos Estados Unidos, que também tende a elevar o câmbio.
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, mostrou a evolução da construção no primeiro semestre e sua contribuição ao crescimento da atividade econômica do país.
Ela disse acreditar que o INCC (Índice Nacional de Custos da Construção) deverá fechar neste ano em um patamar próximo ao que se encontra neste momento (11,6% no acumulado de 12 meses até julho).
“Parece que o pior momento do aumento do índice já passou, embora as incertezas globais ainda estejam presentes”, comentou.
A economista afirmou que o maior reflexo negativo da situação atual tem sido na oferta e na demanda de habitação de interesse social. Por outro lado, as mudanças no programa Casa Verde e Amarela estão levando ao aumento das contrações no Grupo 3 do programa, e é possível que isso também aconteça com o Grupo 2, comentou.