“É um cenário de guerra”. Essa é a definição da campineira Gisela Luti, de 37 anos, para a tragédia que ela acompanha de perto em São Sebastião desde o último sábado, quando começaram os temporais que devastaram a região. Grávida de 4 meses e isolada junto com o marido e um casal de amigos em uma pousada na Praia de Camburi, Gisela só pensa em voltar para casa. O que era para ser um momento de lazer e descanso durante o feriado de Carnaval, se transformou em pesadelo. Em depoimento ao Hora Campinas nesta segunda-feira (20), ela se mostra assustada, mas diz estar bem em comparação ao drama que testemunha ao seu redor.
“Temos condições aqui de nos sustentarmos durante uns três dias. O que assusta é se demorar mais do que isso para a liberação dos acessos de saída”, afirma a bancária de 37 anos, que mora em São Paulo. Ela conta que diante do caos e dos depoimentos que ouve, a tragédia é maior do que se divulga.
Até agora, o Governo do Estado informou que na região 44 pessoas morreram, 40 estão desaparecidas e 2.500 e encontram desalojadas ou desabrigadas.
“A informação principal hoje (segunda) foi de que um bebê de 10 meses morreu, depois que um deslizamento atingiu a casa da família aqui perto”, relata, assustada. Gisele afirma que na Barra do Sahy, área ao lado de onde ela está hospedada, comunidades foram devastadas. Numa escola adaptada para receber feridos as cenas eram desesperadoras, diz.
“Nosso amigo, que está hospedado com a gente, esteve como voluntário e contou o que viu lá. Houve casos de fraturas expostas, hemorragias e até pontos dados em ferimentos abertos na cabeça sem anestesia ou medicação”, relata, acrescentando que os socorros foram prestados por voluntários, entre os quais médicos e enfermeiros que estavam passando o feriado na cidade. “Os bombeiros começaram a chegar domingo no início da noite e o pessoal da saúde, na manhã de hoje (segunda).” Entre as cenas mais triste que ouviu foi a de uma mulher que teve a casa soterrada e viu a avó morrer em seus braços.
O início do drama
A chuva forte começou no início da noite de sábado e se estendeu por toda a madrugada. “Não parava e nem diminuía a intensidade”, relata Gisela. Quando amanheceu, o estrago nas casas, pousadas e carros ao redor ficou visível. “Aqui onde estamos não entrou água e o carro, como ficou estacionado numa vaga inclinada, não foi atingido. Mas muitas pousadas ficaram completamente alagadas e várias pessoas perderam seus veículos.”
A campineira conta que no domingo a situação estava caótica. “Acordamos sem luz, água e sinal de internet. Mais da metade de Camburi ficou assim. Alguns poucos estabelecimentos tinham wi-fi e energia, mas o sinal estava fraco, pois muita gente estava usando. Poucos mercadinhos abriram, mas logo as prateleiras esvaziaram.”
O problema foi pagar o pouco que conseguiram comprar para passar o domingo. “Os caixas eletrônicos não tinham mais dinheiro e não havia rede de internet para pagar com cartão. Precisamos nos deslocar para os locais onde o wi-fi funcionava para fazer o pix e depois voltar ao local para recolhermos o que compramos, além de mostrar o comprovante de pagamento.”
Na segunda pela manhã, a energia elétrica e o sinal de internet foram restabelecidos. “O maior mercado do bairro também abriu, mas se formou uma fila enorme na frente da porta. Como estou grávida, consegui prioridade e fizemos uma compra boa para passar pelo menos três dias.”
Gisela espera agora que o pesadelo passe logo. “Os moradores daqui contam que nunca viveram uma situação parecida. Eu também nunca presenciei uma tragédia assim antes.” A expectativa é de que o momento não passe de história para ser contada no futuro para a criança que vem aí.