A escalada de violência nas escolas está tirando o sono de pais, estudantes, professores e dirigentes de ensino. O recente ataque a uma creche em Blumenau detonou o gatilho do medo nas unidades de todo o País. É que, além da sucessão de casos no Brasil, se seguiu uma onda de ameaças veladas, brincadeiras de mau gosto e boatos. O somatório dessa situação gerou instabilidade na comunidade escolar.
Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), várias cidades adotaram medidas e reforçaram a seguranças nas unidades, entre elas Campinas, Vinhedo e Valinhos. Agora, o município de Jaguariúna também decidiu adotar um pacote de ações para enfrentar essa situação.
São pelo menos cinco ações para garantir mais segurança nas escolas da cidade e tranquilizar a comunidade escolar, afetada com os recentes ataques a unidades de ensino em São Paulo e Santa Catarina e com uma onda de boatos e ameaças anônimas que surgiu após esses casos.
O Hora Campinas apurou que nesta segunda-feira (10) vários pais decidiram não levar seus filhos para as escolas municipais, estaduais e privadas da cidade, além das creches mantidas pela Prefeitura. Houve um esvaziamento das unidades.
Colaborou para isso não só o clima de receio mas um boato de que haveria um ataque no dia, que não se confirmou.
Na própria segunda-feira, um encontro no Paço Municipal reuniu o prefeito Gustavo Reis, os secretários municipais de Educação, Cristina Catão, de Segurança Pública, Edgard Mello do Prado Filho, e de Negócios Jurídicos, Fabiano Urbano, além dos comandos da Polícia Militar e da Guarda Municipal e de representantes da Polícia Civil. Foram definidas as seguintes ações:
♦ O efetivo da Guarda Municipal para patrulhamento nas escolas será dobrado, para intensificação das rondas;
♦ A Prefeitura vai criar, por meio de projeto de lei, a atividade delegada no município, ampliando o apoio da Polícia Militar;
♦ Criação do “botão do pânico” nas escolas, por meio do aplicativo CCC Jaguariúna;
♦ Visitas técnicas nas escolas e treinamento dos professores e demais profissionais da educação para identificar comportamentos estranhos;
♦ Reunião com todos os diretores das escolas da cidade para discutir a situação e tranquilizar a comunidade escolar, realizada na tarde desta segunda-feira.
Esse conjunto de ações se soma à primeira medida, já anunciada pela Prefeitura de Jaguariúna, de realização de um curso de capacitação em defesa pessoal a todos os professores e demais funcionários da Educação municipal.
Na reunião com os diretores, além do prefeito, secretários e representantes da PM, Polícia Civil e da Guarda Municipal, também participou o delegado de Jaguariúna, Erivan Vera Cruz.
“Não podemos ficar inertes a essas tragédias que, infelizmente, estão se tornando rotina também em nosso país. Nesse momento, é importante a gente ter orientação. Aqui nós unimos as forças do bem contra as forças do mal. E esse é o objetivo dessas ações”, disse o prefeito Gustavo Reis.
Reforço
Além das unidades públicas, vários colégios particulares da cidade decidiram reforçar os seus sistemas de segurança. Algumas escolas passarão a ter empresa de vigilância nas dependências e câmeras de segurança.
Estão sendo adotadas também medidas internas, como capacitação de professores e funcionários e mudança na rotina, como suspensão de entregas de delivery para os alunos.
“Nós reunimos os diretores de todas as escolas de Jaguariúna, não só as municipais, mas também as estaduais e as particulares. Queremos transmitir uma mensagem de segurança e tranquilidade para toda a comunidade escolar da cidade”, disse a secretária de Educação, Cristina Catão.
A tensão na cidade segue nesta terça-feira (11), com pais ainda receosos de enviar os seus filhos. Diretores e educadores estão procurando tranquilizar os alunos, realçando que não podem ficar reféns da boataria, mas também estão intensificando as medidas internas para não deixar as unidades vulneráveis.
“Eu até acho que pode ser um boato, mas não vou pagar para ver”, afirma uma mãe da cidade, que decidiu retirar a filha que estava numa creche após saber que a unidade estava praticamente vazia.
Histórico
Os casos de ataques nas escolas brasileiras se intensificaram desde 2020, segundo dados das autoridades estaduais. Para especialistas, ainda que não explique as decisões individuais de todos os agressores, o governo Bolsonaro disseminou a cultura do armamento desde 2019, quando chegou ao poder. Educadores entendem que esse discurso ajudou a fomentar uma cultura do submundo de grupos radicais. O lado obscuro da internet, onde eles se juntam e se inspiram, potencializa essas atitudes.
Segundo pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 23 ataques com violência extrema em escolas aconteceram no Brasil nos últimos 20 anos. Entre 2002 e 2023, incluindo o massacre na creche catarinense, 28 estudantes, quatro professores e dois profissionais de educação morreram.
No Brasil são dez ataques com grande violência registrados desde 2022, três este ano. Ao todo são 11 vítimas fatais. A Região Metropolitana de Campinas (RMC) não está imune aos casos nem ao ambiente de tensão.
No mês passado, um estudante promoveu um atentado a duas escolas em Monte Mor. Ele lançou bombas caseiras nas unidades. Não houve feridos. Assim como o jovem que matou a docente na escola estadual paulistana, estes jovens tinham comportamentos distorcidos: vestiam roupas de perfil agressivo, guardavam peças bélicas, escreviam bilhetes de repulsa e vingança e miravam uma espécie de “glamourização” após virarem “celebridade” na cobertura midiática.
Análise
Para especialistas, o enfrentamento desse problema passa por novas condutas das coberturas jornalísticas, não fazendo do agressor um protagonista; pelo combate à impunidade; por responsabilização das grandes plataformas de tecnologia e conteúdo, como Meta e Google; por mais apoio às escolas, aos alunos e educadores; por mais preparo das polícias e por mais cultura de paz, reduzindo o armamentismo que o País absorveu nos últimos anos.
Afinal, os EUA são exemplo sintomático: só em janeiro deste ano, foram 39 casos de agressão ou tiroteios com mortes nas escolas americanas. Uma realidade que o país acabou se acostumando. Lá, com o lobby forte do armamento, as iniciativas de controle são muito incipientes. Em alguns estados, é possível comprar até fuzil em lojas de armas, com poucas exigências legais.
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