O mês de junho é o mês dedicado à Escoliose. Em dados divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), a escoliose é uma condição que acomete cerca de 2% da população mundial. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), no ano de 2017 a população global era de aproximadamente 7,6 bilhões de habitantes, ou seja, estima-se que 380 milhões de pessoas no mundo apresentam algum tipo de escoliose.
Por ser uma condição não contagiosa, e na maioria das vezes não provoca dor ou limitações nas atividades de vida diária, ela pode passar desapercebida dando margem a incompreensões e dúvidas em relação a importância diagnóstica da escoliose e seu tratamento. Mas, antes de definir o que é escoliose, falemos um pouco sobre nossa coluna vertebral: a coluna é o eixo central do esqueleto humano. Trabalhando em conjunto com músculos, ligamentos e nervos, ela é responsável por nos manter em postura ereta, movimentar nosso tronco e membros, proteger a medula espinhal dentre outras funções.
Em todo processo de crescimento e desenvolvimento motor, a coluna se adapta as cargas e posições, formando curvas ditas fisiológicas (normais), com o objetivo de manter nosso equilíbrio e distribuir a descarga de peso que a gravidade exerce sobre nosso corpo. Se olharmos em uma vista lateral do corpo (eixo sagital) temos estas curvas fisiológicas: lordose cervical (região do pescoço), cifose torácica (região do tórax) e lordose lombar (região da barriga e cintura).
Quando há curvaturas “não fisiológicas” no plano frontal (coluna vista de frente), ou seja, curvas laterais, dando a ela um aspecto de letra “C” ou “S”, denominamos estes desvios de escoliose. Esta é uma visão simplificada para um problema que faz alterações nas três dimensões e planos de movimento das vértebras e tronco, e que modificam os aspectos funcionais da coluna de forma postural e estrutural (adaptações mecânicas de discos intervertebrais, vértebras e costelas).
Por definição feita em 2018 pela Sociedade de Tratamento Ortopédico e de Reabilitação da Escoliose (SOSORT), a “Escoliose é um termo geral que compreende um grupo heterogêneo de condições que consistem em mudanças na forma e na posição da coluna, do tórax e do tronco”.
A escoliose pode ser classificada em: 1. Escoliose Funcional (atitude escoliótica): a estrutura óssea das vértebras se mantém preservadas e a atitude escoliótica se dá devido a um problema secundário, como por exemplo, uma diferença de membros inferiores ou uma postura antálgica da coluna; 2. Escoliose Estrutural: há uma alteração óssea instalada devido a: 1- Causas conhecidas (20% dos casos): como alterações congênitas, neurológicas ou de tecidos conectivos; 2. Causas idiopáticas (80% dos casos): ou seja, sua origem ainda é desconhecida.
A Associação Brasileira de Tratamento da Escoliose oferece informação de qualidade e dicas de como observar a postura das crianças, detectar possíveis assimetrias que ajudam pais e responsáveis na procura por um médico especializado e detecção precoce da escoliose.
Uma vez detectada a origem da Escoliose Funcional, as curvas funcionais são flexíveis e podem ser corrigidas com tratamento conservador adequado. Já para as escolioses estruturais, o tratamento terá cursos diferentes, dependendo do diagnóstico. Como exemplo, escolioses de causas conhecidas (por exemplo, as congênitas), o paciente já nasce com essa alteração na estrutura da coluna. O tratamento na maioria das vezes é cirúrgico, visto que as curvas laterais neste grupo tendem a progredir muito, interferindo diretamente na qualidade de vida e função destes pacientes. Contudo, essas são menos comuns de serem encontradas.
Por outro lado, a escoliose idiopática é responsável por 80% dos casos das escolioses estruturais. Ela se manifesta e pode ser detectada mais comumente na infância e adolescência e têm maior prevalência no sexo feminino.
O tratamento atualmente, com a prática clínica, respaldo e evolução nas pesquisas científicas, tem demonstrado que os “Exercícios Fisioterapêuticos Específicos para Escoliose” são, na maioria dos casos, eficientes no tratamento conservador das escolioses idiopáticas. O método Schroth é o mais pesquisado para essas intervenções. O objetivo não será a correção total da curva, e sim, estabilizá-la a fim de evitar a sua progressão, melhorando também a estética do paciente e a qualidade de vida em uma abordagem biopsicossocial.
Além destes exercícios, o uso de colete muitas vezes se faz necessário. Em alguns casos específicos, quando não há estabilização da curva com as abordagens conservadoras, o tratamento cirúrgico é recomendado. Quanto mais precocemente diagnosticada, maiores as possiblidades de uma boa evolução no tratamento conservador e possibilidades de se evitar as complicações da condição.
A identificação e o tratamento das escolioses são sempre multidisciplinares e contam com a participação da família.
Por isso, uma família bem-informada e o comprometimento do paciente, serão sempre peças fundamentais para o sucesso do tratamento. Para maiores informações, o leitor pode https://www.instagram.com/tratando.escoliose/.
Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994), da cidade de Campinas entre 2013 e 2020 e Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022. Atual presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan.
Aline Granato Barbosa. Fisioterapeuta do Instituto Wilson Mello de Campinas na equipe CineticsPhysio. Especializada em tratamento conservador da escoliose. Cofundadora e vice-presidente da ABTE (Associação Brasileira de Tratamento da Escoliose)
Bruno de Paula Leite Arruda, fisioterapeuta do Instituto Wilson Mello de Campinas na equipe CineticsPhysio, membro do grupo de cirurgia de quadril e pelve da PUCC e especialista em dor crônica.