Após as mortes de Guilherme da Silva, de 36 anos, e de Isabela Firmino Tiburcio, de 7, vítimas de quedas de árvores em Campinas, a Prefeitura anunciou a remoção de mais de 230 árvores na cidade em dois meses. Entre elas, estão as 181 da Lagoa do Taquaral, que estão em processo de extração. A curto prazo, ainda não está descartada a remoção total do grupo de eucaliptos do local – a medida ainda depende de uma avaliação da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
E na velocidade com que as intervenções estão em andamento, uma questão entre os ambientalistas da cidade é levantada: e o futuro?
A impressão entre os profissionais ligados a órgãos ambientais de Campinas é de que a Prefeitura quer corrigir em um curto espaço de tempo um erro que vem de décadas. Na avaliação desses grupos, muito mais do que anunciar o plantio de um novo bosque com árvores nativas na Lagoa do Taquaral, a Administração deveria trabalhar na reestruturação da Secretaria de Serviços Públicos para que os desastres atuais não venham se repetir no futuro.
Para o mestre em arborização urbana, engenheiro florestal e agrônomo José Hamilton de Aguirre Júnior, o “estado de calamidade” pelo qual passa a Lagoa do Taquaral hoje poderia ser evitado caso a Prefeitura tratasse com mais cuidado a arborização de Campinas. “Desde 2015 o Comdema (Conselho Municipal do Meio Ambiente) e a Secretaria do Verde e do Desenvolvimento Sustentável alertavam que os eucaliptos precisavam ser suprimidos e substituídos por espécies nativas”, diz.
“Mesmo com os alertas, não houve a devida atenção para o problema. Se houvesse equipe de engenheiros florestais, agrônomos, biólogos e outros profissionais com formação específica em arborização urbana, além de equipamentos, planejamento de arborização e o censo e inventários quali-quantitativos, essas tragédias anunciadas tinham uma grande chance de não acontecer.”
O secretário de Serviços Públicos de Campinas, Ernesto Paulella, diz que a área de arborização do órgão conta hoje com oito profissionais.
Para Aguirre Júnior, seriam necessários pelo menos 50 para abranger todas as regiões do município. Ainda segundo Paulella, Campinas tem o inventário de 30.500 árvores após levantamento realizado nos últimos dois anos. O número, no entanto, é extremamente baixo perto de um universo de mais de 750 mil árvores que compõe a área urbana da cidade.
Comissão de estudos
Presidida pelo vereador Paulo Gaspar (Novo), a Câmara Municipal de Campinas conta hoje com uma comissão de estudos sobre arborização da cidade. O objetivo é discutir alternativas para uma manutenção adequada das árvores de Campinas. Nesta sexta-feira (3), a comissão se reunirá no plenário a partir das 15h30 para a realização de uma palestra da professora da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, Raquel Gonçalves. “Tecnologias disponíveis para o apoio a inventários arbóreos e análises de risco de queda de árvore” é o tema da palestra.
Paulo Gaspar também fala em negligência da Prefeitura ao citar a necessidade urgente de remoção dos eucaliptos da Lagoa do Taquaral.
“Infelizmente, é necessário extrair os eucaliptos, pois são incompatíveis com o local, caem facilmente e não poderiam estar em um parque público nunca. O problema é que levou 50 anos para a Prefeitura acordar. Foi preciso morrer gente para se mexerem.”
Em relação às demais espécies do local que passam por um processo de remoção, Gaspar acredita que existe a necessidade de corte caso apresentem risco de queda. A Prefeitura promete um novo bosque na área.
O plano, afirma a Administração, é iniciar o plantio de espécies nativas, adequadas à região.
“O objetivo é que o local abrigue várias espécies de árvores que possam, além de proporcionar ar puro, sombra, abrigo da pequena fauna urbana, entre outros benefícios, forneçam sementes para que sejam cultivadas no Viveiro Municipal e para pesquisas”, afirma a Prefeitura.
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