Um arrojado projeto, ao estilo renascentista italiano, encomendado junto ao então famoso construtor Luiggi Pucci, ganhava forma há 140 anos. Era 1883 quando o palacete foi inaugurado. A edificação de 227 quartos acomodou a família de Joaquim Policarpo Aranha, o Barão de Itapura, e incorporou ao longo dos anos muitas outras histórias.
Conhecido como Solar do Barão, o prédio resistiu ao tempo e foi participante das transformações da paisagem urbana do Centro de Campinas. Atualmente, o local, berço da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas por quase 75 anos, está desativado desde 2015 à espera de um novo destino.
Depois de abrigar dezenas de cursos e formar mais de 180 mil profissionais, o espaço deixou de existir como unidade acadêmica da PUC-Campinas há quase oito anos, quando a Faculdade de Direito, última a resistir no local, se transferiu para um novo prédio. Hoje, a Universidade tem o seu polo apenas no Campus 1, localizado na Fazenda Santa Cândida, e no Campus 2, às margens da avenida John Boyd Dunlop.
Em 2017, a PUC chegou a lançar um projeto de restauro do Pátio dos Leões, como o prédio ficou conhecido em função dos pilares de cantaria na forma do animal no jardim.
A ideia era retomar as características originais da construção do século 19 e transformar a área em um centro cultural e turístico. O projeto, no entanto, nunca saiu do papel.
Segundo Jorge Alves de Lima, presidente da Academia Campinense de Letras e ex-estudante do Pátio dos Leões, a iniciativa estancou depois que Dom Airton José dos Santos deixou de ser o arcebispo de Campinas, em 2018.
“Projetos precisam ter continuidade por meio de execuções, senão de que valem?”, critica Jorge Alves de Lima, que também lamenta.
“Voltei recentemente de Buenos Aires e fiquei pasmo ao ver a forma como a cidade conserva seus edifícios históricos. Aqui, ver o Pátio dos Leões desativado é triste. É necessário implementar uma ação efetiva e concreta para restaurar o prédio e mantê-lo como um ponto cultural. Poderia ser feito ali um museu, que é algo que falta a Campinas”, comenta, sugerindo uma mobilização das autoridades municipais e estaduais.
Segundo a assessoria de imprensa da PUC, a área segue em manutenção por parte da Universidade, mas sem projeto em vista.
Veja fotos (por Leandro Ferreira)
Uma visita externa ao icônico prédio revela um processo visível de deterioração. A fachada exibe uma tela de proteção para impedir a queda de eventual pedaço de concreto, que poderia ferir algum pedestre.
As paredes estão descascadas e com bastante infiltração. E possível ver até arbustos cerscendo nas frestas. A pintura está deteriorada e o aspecto é que o prédio que pertence à PUC-Campinas não está sendo bem-cuidado
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Memórias
Jorge Alves de Lima estudou no histórico prédio, localizado entre a Avenida Francisco Glicério e a Rua Marechal Deodoro, de 1959 a 1963, período em que cursou a Faculdade de Direito. Para ele, as memórias mais vivas são referentes aos colegas de turma.
“Lembro do Orestes Quércia, assíduo frequentador da cantina, comendo pão e tomando pingado”, conta, invocando aquele que foi vereador e prefeito de Campinas, senador e governador de São Paulo.
Lauro Péricles, também ex—prefeito de Campinas, foi outro que conviveu com Jorge Alves de Lima pelas salas de aula e corredores do edifício.
Considerada por muitos anos como uma das melhores do País, a Faculdade de Direito da PUC-Campinas foi inaugurada em 1952, 11 anos depois do então Solar do Barão ser transferido para a Sociedade Campineira de Educação e Instrução, mantenedora da PUC-Campinas, para a instalação da Faculdade de Ciências, Filosofia e Letras.
O Solar é tombado pelos órgãos de preservação estadual, o Condephaat (1983) e municipal, o Condepacc (1988).