Um dia após a liberação de cultos religiosos pelo ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Catedral Metropolitana de Campinas realizou missa de Páscoa na manhã deste domingo (4). A determinação individual, em caráter liminar, ainda será analisada pelo plenário do STF, mas garante momentaneamente a realização de celebrações religiosas de forma presencial em todo o Brasil, atrelada a uma cartilha de protocolos sanitários.
Entre as principais exigências, estão limitação de 25% da capacidade do local, distanciamento alternado entre assentos e fileiras, garantia de circulação de ar, uso irrestrito de máscaras, medição de temperatura e disponibilização obrigatória de álcool gel na entrada.
“O que não podemos fazer é banalizar. Trata-se de uma questão de consciência e educação para a cidadania”, diz o padre Luiz Roberto Teixeira Di Lascio
Para o padre Luiz Roberto Teixeira Di Lascio, da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Campinas, a liberação das celebrações religiosas é algo positivo. “Eu vejo com bons olhos essa abertura, pois nesse momento as pessoas precisam de algo que as conforte, como a fé. As minhas celebrações são rápidas, uma de manhã e outra à noite, seguindo todo o processo de higienização e profilaxia. O que não podemos fazer é banalizar. Trata-se de uma questão de consciência e educação para a cidadania”, avalia.
Igreja Evangélica
De acordo com o pastor Giba Gimenes, presidente da Galileia Church, em Valinhos, a liberação das comemorações religiosas é necessária para que a igreja cumpra de forma efetiva o papel de auxiliar pessoas que enfrentam dificuldades psicológicas ou financeiras por causa da pandemia.
“Mesmo diante desse momento tão complicado, a medida nos alegrou porque a Páscoa tem um significado muito forte para os cristãos, tanto católicos quanto evangélicos. A igreja tem trabalho fundamental em acolher, orientar e ajudar as pessoas que estão desesperadas ou depressivas, passando por problemas de perda de familiares ou emprego, sem controle da situação”, explica.
“Estamos tomando todas as medidas para respeitar o limite de capacidade, o espaçamento entre os assentos e garantir o espaço arejado. Temos uma equipe preparada para realizar a limpeza e aferir a temperatura. Alertamos para que não haja nenhum contato físico, nem mesmo soquinho com a mão, entre outras exigências. Com todos esses cuidados, não vejo problema nenhum”, opina o pastor Giba, que ministra culto evangélico neste domingo (4), às 17h, após inscrições com vagas limitadas.
“Podemos adorar a Deus individualmente dentro de nossas casas e ministrar as pregações e estudos com os recursos que temos de mídia, via redes sociais”, afirma o pastor Michael Abrão Ferreira
Contraponto
Por outro lado, o ceticismo quanto à decisão do ministro Nunes Marques toma conta do pastor Michel Abrão Ferreira, da Comunidade Cristo Vive Mananciais, em Campinas. “É muito preocupante essa liberação geral, pois estamos vivendo o momento mais difícil da pandemia e é sabido que o isolamento é uma das poucas maneiras de evitar o contágio. Muitas igrejas se organizam com relação aos cuidados sanitários, porém sabemos que grande parte delas não toma, sequer, os cuidados básicos. Como pastor, posso afirmar a importância da igreja como comunidade e local de adoração, entretanto temos de ter consciência dos riscos e saber que, assim como o comércio em geral e outras atividades coletivas, as igrejas também são locais de alta transmissibilidade”, posiciona-se.
O pastor Fernando Leite, da Igreja Batista Fonte, em Campinas, também adverte sobre os cuidados. “Entendo que o reconhecimento do direito à celebração religiosa por parte da administração pública é um direito inalienável, assim a decisão do STF está de acordo com a Constituição. Por outro lado, cabe às lideranças religiosas pesar em suas decisões o bom senso neste tempo de colapso hospitalar e avanço da contaminação para a conduta mais adequada. Não se pode mover pelo medo, nem pela insensatez, mas sempre pensando em levar a mensagem de amor e segurança que vem da parte de Deus”, pondera.
Religiões de Matriz Africana
A retomada dos cultos religiosos não é endossada pela Associação dos Religiosos de Matriz Africana de Campinas e Região (ARMAC), que cuida de 210 terreiros de umbanda e candomblé. De acordo com João Galerani, diretor-executivo da entidade e dirigente do terreiro de umbanda da Vó Benedita do Congo, em Campinas, a medida coloca em xeque a saúde dos fiéis.
“Temos que ter fé, mas acreditamos na ciência. A fé cega atrapalha demais”, avalia João Galerani
“A instrução aos nossos filiados é para que não abram o atendimento à consulência porque a situação é muito crítica. Igrejas e terreiros são lugares de possível contaminação. É muito perigoso arriscar a vida das pessoas. Temos que ter fé, mas acreditamos na ciência. A fé cega atrapalha demais”, afirma Galerani, que também é diretor do Instituto Umbanda Sem Fronteiras (IUSF).
“Estamos usando bastante ferramentas digitais e redes sociais para fazer lives, conversar, orar, dar força às pessoas e não desmobilizar. A orientação aos terreiros é para reabrir ao público somente quando o estado de São Paulo voltar à fase amarela”, aponta Galerani.