O Dia Mundial do Livro, comemorado nesta sexta-feira (23), foi instituído pela Unesco, em 1995, em alusão à morte de três grandes escritores da história: Miguel de Cervantes, William Shakespeare e Inca Garcilaso de la Vega, que faleceram em 23 de abril de 1616. O Hora Campinas aproveita a data para homenagear a livraria mais antiga em atividade de Campinas, que detém o maior acervo de livros de futebol do Brasil. Trata-se da Livraria Pontes, que resiste há quase 50 anos na região central da cidade, com um catálogo que ostenta cerca de 2 mil títulos sobre o jogo mais popular do planeta.
Desde 1974, a Livraria Pontes ocupa o prédio número 1.223 da Rua Doutor Quirino, mas existe desde 1968, quando foi fundada em Itatiba, terra natal do dono José Reinaldo Pontes, que completou 74 anos no último dia 14 de abril.
Os livros de futebol começaram a ganhar as estantes da Livraria Pontes somente em 1989. “Naquele ano, saiu o primeiro volume de um livro sobre a história da Ponte Preta, mas só vendia no estádio. Clientes do país inteiro me ligaram pedindo, então me dei conta de que podia pegar esse filão”, conta Reinaldo. A partir de então, o comerciante decidiu percorrer dezenas de cidades do interior paulista para garimpar livros sobre clubes locais. Ele também fez caravana pela região Sul do país, onde sabia que existia bastante literatura publicada sobre futebol. “Fui parar até em uma cidade chamada Santiago, que nem sabia que existia no Rio Grande do Sul.”
Atualmente, a extensa coleção sobre futebol ocupa um andar inteiro decorado com flâmulas, quadros, faixas e fotos. “O que mais atrai compradores e colecionadores são os livros sobre história do futebol, clubes do interior, estatísticas e almanaques”, destaca a irmã de Reinaldo Pontes, Eva Pontes, que ajuda a administrar a livraria.
Leitura, um escape do isolamento
De acordo com o Painel do Varejo de Livros no Brasil, levantamento mensal feito pela Nielsen Book, em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), o mercado livreiro nacional registrou um crescimento de 38,38% nas vendas e 28,46% no faturamento, na comparação do último mês de março com o mesmo período do ano passado, quando a pandemia de Covid-19 começou no país. Ao todo, foram 3,9 milhões de obras vendidas em 2021, totalizando R$ 165 milhões. No primeiro trimestre do ano passado, como efeito de comparação, foram 2,8 milhões de cópias comercializadas, o equivalente a R$ 128 milhões.
“Esse período de pandemia foi difícil para todo mundo em termos emocionais, mas para o livro foi muito interessante, pois acabou virando um artigo fundamental e salvou muitas pessoas, tanto é que livrarias foram consideradas serviço de primeira necessidade em alguns países”, pontua Eva Pontes.
Com a reabertura do comércio em horário reduzido, a Livraria Pontes funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, e aos sábados, das 9h às 12h. As vendas também acontecem de forma virtual, por meio da Estante Virtual ou pelo site da Pontes Editores. “Reinaldo ficou recluso apenas por um período pequeno. Como ele mora em Itatiba, vem duas vezes por semana para Campinas porque tem bastante serviço na editora, onde faz a correção dos livros”, relata a irmã do editor.
Fundada em 1987, a Pontes Editores possui foco na publicação de obras de Ciências Humanas, mas também lança obras relacionadas a futebol. Em 2014, a editora publicou o livro “Renato: O Futebol de Discreto Charme”, que conta a trajetória de Renato Morungaba, campeão brasileiro pelo Guarani em 1978 e um dos jogadores convocados pela Seleção Brasileira para disputar a Copa do Mundo de 1982.
Autor da obra, o jornalista João Nunes, colunista do Hora Campinas, conta que a experiência de trabalhar com Reinaldo Pontes foi muito rica. “A ideia foi do próprio Reinaldo, que tinha sido professor do Renato e, de alguma forma, era uma homenagem a Morungaba por seu filho ilustre e, claro, ao Renato pela carreira. Eu já era cliente do Reinaldo e ele sabia que eu gostava de futebol quando me chamou para escrever o livro do Renato. Ele foi ótimo em tudo. Tive autonomia para fazer o livro e excelentes condições de trabalho, sem falar das dicas importantes que ele me deu por conta da experiência no setor. Conversamos muito nas diversas viagens que fizemos a Morungaba para nos encontrar com Renato”, recorda-se Nunes, que reeditou parceria com Reinaldo Pontes em 2017, quando lançou o livro “Estou Vivo”, sobre pessoas que sofreram traumas físicos, reabilitaram-se e reconstruíram as próprias vidas.
Para Nunes, Reinaldo Pontes é uma pessoa com perfil raro nos tempos atuais. “Reinaldo é um homem que pouco se vê hoje: intelectual, interessado em literatura, com vasta formação, que domina o francês e que tem um papel importantíssimo na cultura campineira. Eu não exageraria em dizer que o Reinaldo é um herói por manter aberta no centro da cidade há mais de 40 anos uma livraria que vende livros de literatura. Em tempos de internet, a postura dele é, no mínimo, elogiável pela coragem e persistência”, destaca Nunes.